Por que a CPI da Covid-19 decidiu pela convocação de governadores
Senadores do G7, grupo formado pelos senadores independentes e da oposição, afirmam que ideia é ‘aplacar a cobrança’ dos governistas, que defendem apuração dos repasses da União a Estados e municípios
Na quarta-feira, 26, na sessão deliberativa da CPI da Covid-19, os senadores aprovaram as convocações de nove governadores e do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. A ideia de ouvir os gestores de Estados que foram alvos da Polícia Federal (PF), em operações que apuram supostos desvios de verbas destinadas ao combate da pandemia, foi definida em uma reunião do G7, o grupo majoritário da comissão, na noite da segunda-feira, 24, mas surpreendeu membros do colegiado que defendiam que a apuração ficasse concentrada nas ações e omissões do governo do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à crise sanitária. Segundo apurou a Jovem Pan, a decisão foi tomada para desmontar a tese de alinhados do Palácio do Planalto, que acusavam a maioria dos integrantes de realizar um trabalho incompleto.
De acordo com senadores ouvidos pela reportagem, embora a convocação dos governadores divida o G7, a estratégia do grupo é “aplacar a cobrança” dos governistas, que defendem que a CPI foque na investigação dos repasses da União a Estados e municípios. Desde o início dos trabalhos da comissão, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), um dos parlamentares da base governista, tem defendido, nas sessões, que o presidente, Omar Aziz (PSD-AM), intercale a ordem dos depoentes, para que prefeitos e governadores também sejam ouvidos. Na última quarta-feira, ao defender oitivas dos chefes do Executivo municipal, Girão foi chamado de “oportunista pequeno” por Aziz.
Há, ainda, uma segunda razão. Como presidente da CPI da Covid-19, o parlamentar afirma, pública e reservadamente, que precisa manter uma boa interlocução com todos os integrantes da comissão. Cabe a Omar Aziz, por exemplo, definir a ordem dos depoimentos. “Ele não pode se indispor com ninguém, é o fiel da balança dos trabalhos. Mesmo dizendo reiteradamente que não vai poupar ninguém de investigações, o presidente precisa demonstrar isso em seus atos. É como diz o ditado: agradar a gregos e troianos”, disse à Jovem Pan um aliado do senador. Se o calendário definido for cumprido, o primeiro governador será ouvido no dia 29 de junho – Wilson Lima (PSC) será questionado sobre a crise de oxigênio que causou o colapso da rede hospital do Estado do Amazonas no início do ano.
Além de Witzel, foram convocados os governadores Wilson Lima (AM), Waldez Goes (AP), Ibaneis Rocha (DF), Helder Barbalho (PA), Wellington Dias (PI), Marcos Rocha (RO), Antonio Denarium (RR), Mauro Carlesse (TO), Carlos Moisés (SC). Por entenderam que as convocações infringem a Constituição e o regimento interno do Senado, representantes de 19 unidades da Federação ingressaram com uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, o Fórum dos Governadores enviou uma carta a Omar Aziz pedindo que o presidente da CPI “reconsidere” a convocação.
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