Se governo não prorrogar desoneração da folha, Brasil pode perder mais de 1 milhão de vagas, diz relatora

Ao site da Jovem Pan, Any Ortiz (Cidadania-SP) afirma que, se o prazo não for estendido, haverá prejuízo para trabalhadores e empresas; Haddad quer mais tempo para avaliar a medida, que chama de ‘inconstitucional’

  • Por Tatyane Mendes
  • 27/08/2023 07h00
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Pablo Valadares/Câmara dos Deputados Any Ortiz Any Ortiz assumiu seu primeiro mandato como deputada federal em 2023, depois de se eleger deputada estadual do Rio Grande do Sul duas vezes

Na quinta-feira, 24, a deputada federal Any Ortiz (Cidadania) foi designada oficialmente como relatora da tramitação do projeto de lei 1016/2023 em plenário. A medida trata da desoneração da folha de pagamento, prorrogando até 2027 benefícios para 17 setores da economia. A parlamentar já tinha atuado na relatoria do projeto durante a apreciação da matéria na Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE). A votação da urgência e do mérito da matéria no plenário da Câmara dos Deputados está prevista para a próxima terça-feira, 29. A medida permite que empresas dos setores contemplados paguem impostos correspondentes a entre 1% e 4,5% sobre a receita bruta, ao invés de 20% sobre a folha de pagamento de salários. Em entrevista à Jovem Pan, Any Ortiz defende que a aprovação da urgência é essencial para que as empresas consigam organizar, uma vez que sem a aprovação da medida, o benefício deixa de valer no final do ano.

“Essa medida tem grande impacto na manutenção de vagas de trabalho no país. Esses 17 setores contemplados hoje empregam 9 milhões de pessoas. Se o governo não prorrogar a desoneração da folha, o custo vai aumentar consideravelmente para todas as empresas dos 17 setores. Nós teremos um impacto negativo extremamente preocupante, principalmente com o desemprego que isso vai gerar. Vai acabar impactando o governo de toda forma, porque tem a questão do seguro-desemprego, tem mais pessoas ingressando dentro de programas como o Bolsa Família”, pontua. Ela estima que, sem desoneração, cerca de 15% dos 9 milhões de postos de empregos no Brasil seriam perdidos. Isso representa 1,35 milhão de oportunidades de trabalho. Ela complementa que a medida também é importante para a geração de novos postos formais de trabalho, o que pode levar ao aumento da arredação do governo.

Resistência do governo

O projeto de desoneração da folha de pagamento não é visto com bons olhos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O chefe da equipe econômica classificou como “inconstitucional” a prorrogação da desoneração da folha de pagamento até 2027 e afirmou que pediu ao Congresso Nacional que esperasse até dezembro para discutir o tema. Ele explicou que uma emenda constitucional da Reforma da Previdência impede a renovação de incentivos fiscais em relação à folha de pagamento por conta do déficit da Previdência Social. O ministro alegou que pediu tempo ao Legislativo para poder resolver a questão da melhor forma possível. Any Ortiz rebate o argumento e diz que a medida não é inconstitucional de forma nenhuma. A parlamentar avalia que discutir sobre a desoneração na folha de pagamento durante a segunda fase da reforma tributária é uma medida válida, mas que isso não impede a aprovação do projeto de lei para prorrogar os benefícios.

“É fundamental a prorrogação da desoneração da folha. Estamos votando um projeto que prorroga até o final de 2027. É importante haver a prorrogação e que depois, em um momento ideal, seja discutida essa questão dentro da segunda fase da reforma tributária, incluindo mais setores e colocando de forma que a medida não seja temporária, como vem sendo há muitos anos. Essa necessidade de os governos sempre precisarem prorrogar [o benefício] acaba criando uma instabilidade dentro do setor e cria essa insegurança que também temos que nos atentar. Mas seria um prejuízo grande deixar isso somente para a reforma, porque não sabemos quando isso deve ocorrer e quanto tempo deve levar”, complementa.

Any também pontua que, por mais que a medida leve a uma renúncia fiscal de cerca de R$ 9 bilhões, o aumento da base de cobrança geraria um impulsionamento da própria economia e uma arrecadação na ordem de R$ 30 bilhões em outros tributos. “Então, não haveria de fato uma perda de arrecadação, bem pelo contrário. Esse é um estímulo para que a economia dê melhores resultados e aumente a própria arrecadação do governo. Não vislumbro nenhum impedimento para a medida, somente um governo que diz defender maior geração de emprego e renda. Quero acreditar que o governo quer, sim, colaborar e ajudar na prorrogação da desoneração”, revela. A deputada acredita que a medida deve ser aprovada com tranquilidade pela Câmara dos Deputados, por conta da importância da pauta, e não deve haver mobilização contrária do governo.

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