Prabowo: ex-general de passado obscuro pode assumir presidência da Indonésia

  • Por Agencia EFE
  • 06/07/2014 13h17

Jacarta, 6 jul (EFE).- O ex-general Prabowo Subianto quer se tornar o próximo presidente da Indonésia com o apoio de conservadores e islamitas, que após renunciarem a seus próprios candidatos, apoiaram o ex-genro do ditador Suharto, apesar de seu passado obscuro.

Considerado um “psicopata” por outros militares, propenso a acessos de ira e relacionado com vários casos de abusos dos direitos humanos, no final da campanha Prabowo defendeu a eliminação da eleição direta para Presidente, no que vários analistas veem como um plano para levar o país ao autoritarismo.

Mas o ex-militar, que defende sua condição de democrata e que até agora não ocupou nenhum cargo em política, conseguiu com paciência e tenacidade obter apoio do Gerindra (Partido Grande Movimento Indonésio), fundado expressamente em 2008 com o respaldo econômico de seu multimilionário irmão, Hashem Djojohadikusumo.

Em 2009, Prabowo, de 62 anos e nascido em Jacarta, conseguiu à frente do Gerindra tímidos 4,5% dos votos nas eleições ao parlamento, que lhe serviu para forjar uma aliança com a ex-presidente Megawati Sukarnoputri e concorrer – sem sucesso – como seu vice-presidente.

Em abril, por outro lado, seu partido triplicou a porcentagem de votos e conseguiu ser o terceiro mais votado nas legislativas, o que lhe permitiu reunir apoios suficientes para apresentar sua própria candidatura à Presidência.

Prabowo se apresenta como um líder firme, patriótico e resolutivo, qualidades valorizadas por uma grande parte do eleitorado que atribui a Susilo Bambang Yudhoyono, que vai deixar a Presdiência, um último mandato caracterizado pela incerteza e falta de contundência.

Sua campanha eleitoral, a mais custosa de todas, se baseou em grandes comícios com toques militares, épicas aparições em cima de um cavalo e discursos de tom nacionalista nos quais prometeu revitalizar a economia com medidas protecionistas e promover a classe agrária.

Enquanto isso, Prabowo conseguiu deixar em um segundo plano seu passado obscuro nas forças armadas e seu suposto envolvimento no assassinato de opositores ou nas campanhas sangrentas no Timor-Leste, a ex-colônia portuguesa anexada à força pela Indonésia entre 1975 e 1999.

O agora candidato nega qualquer responsabilidade em fatos que ocorreram sob seu comando, como o desaparecimento de 13 estudantes em Jacarta em 1998 ou o massacre de Kraras em 1983 no Timor, que deixou mais de 300 mortos e testemunhos de sobreviventes que culpam o ex-tenente-general.

Isso não impediu sua rápida ascensão no exército, que vários historiadores atribuem a sua influente família – é filho de um eminente economista e neto de um banqueiro – e a seu então sogro, Suharto, antes de ser destituído em 1998 por desacatar ordens após 24 anos de serviço.

Naquele mesmo ano, Prabowo se divorciou de Titiek Soeharto, a quarta filha de Suharto, e fugiu para a Jordânia para pedir asilo, para distanciar-se do governo transitório de Yousef Habibie e da sombra de Wiranto, que lhe arrebatou a chefia das forças armadas.

Sua fuga e retorno alguns anos mais tarde como homem de negócios, para ajudar seu irmão Hashem, não conseguiu desanuviar ainda o histórico de violência que lhe acompanha, e em 2006 a Comissão Nacional de Direitos Humanos pediu que fosse julgado, uma recomendação não acatada pelo presidente Yudhoyono.

Além disso, os Estados Unidos lhe negaram um visto em 2000 quando pretendia comparecer à cerimônia de graduação de seu filho em Boston, embora os motivos nunca tenham sido esclarecidos, e o atual embaixador americano na Indonésia, Robert Blake, já deixou claro que seu país trabalhará “com quem seja que for eleito”.

A fortuna pessoal de Prabowo é avaliada em cerca de US$ 150 milhões, mas a de seu irmão Hashem é quase cinco vezes maior e a revista “Forbes” o considera o 32 homem mais rico da Indonésia, quantidades astronômicas em um país onde a renda média não supera os US$ 4 mil por habitante.

Os interesses econômicos de ambos se centram na indústria papeleira de celulose, na extração de carvão, gás e petróleo e em recursos florestais. EFE

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