Presidente e premiê de Burkina Fasso são levados a campo militar por agentes

  • Por Agencia EFE
  • 16/09/2015 18h01

Ouagadogou, 16 set (EFE).- O presidente de Burkina Fasso, Michel Kafando, e o primeiro-ministro, Isaac Zida, foram transferidos a um acampamento militar na capital do país, Ouagadogou, por membros da guarda presidencial que os mantém detidos desde a tarde desta quarta-feira, informou a imprensa local.

Alguns dos ministros do governo burquinês, que também foram “feitos reféns” junto a Kafando e Zida no Palácio de Kosyam por volta das 14h30 locais (11h30 em Brasília), permanecem na sede presidencial.

O presidente do Conselho Nacional de Transição, Moumina Cheriff Sy, alertou a população que o país “está em perigo” e convocou uma “mobilização para defender a pátria”, segundo declarações divulgadas pela imprensa de Burkina Fasso.

Segundo Cheriff Sy, há “tentativas de diálogo em andamento” entre a alta hierarquia militar do país e os líderes do Regimento de Segurança Presidencial (RSP), o grupo que mantém detidos o presidente e o primeiro-ministro.

Membros da guarda presidencial irromperam a sala do Conselho de Ministros e tomaram como reféns Kafando, Zida e os ministros de Trabalho e Seguridade Social, Augustin Loada, e Habitação e Urbanismo, Réné Bagoro.

“Essa enésima interrupção de membros da RSP é um grave ataque à República e suas instituições”, acusou Cheriff Sy, antes de pedir que os cidadãos se mobilizem para “pedir a libertação imediata do chefe de Estado, do primeiro-ministro e dos ministros detidos”.

Os soldados da guarda presidencial levantaram barricadas ao redor do Palácio de Kosyam para evitar que ninguém saia da região, informou à Agência Efe um funcionário da sede presidencial, Achille Tapsoba.

Enquanto isso, o pânico se estendeu pela capital. Comerciantes fecharam suas lojas antes do normal, e os moradores correram para casa por temor dos protestos.

Alguns jovens se reuniram na emblemática Praça da Nação, palco dos protestos que forçaram o ex-ditador Blaise Compaoré a renunciar ao cargo há quase um ano, após ter passado quase 30 anos no poder.

Burkina Fasso deve realizar eleições no dia 11 de outubro, para pôr fim à transição civil iniciada após a queda de Compaoré.

Nos últimos meses, aumentou a tensão no país pela aprovação de um novo regulamento eleitoral que impede a apresentação de uma proposta de emenda constitucional que permita um quinto mandato presidencial, medida proposta por Compaoré e que provocou a onda de protestos que acabou o derrubando do poder.

A detenção dos líderes burquinenses ocorreu dois dias depois de a Comissão de Reconciliação Nacional ter recomendado a dissolução do RSP, corpo de elite criado pelo ex-ditador em 1996.

A guarda presidencial foi acusada por movimentos de direitos humanos de estar por trás de várias execuções extrajudiciais.

Em um clima de crescente enfrentamento com o primeiro-ministro, a RSP acusa Zida de conspirar para permanecer no poder após o período de transição. Para vários setores das Forças Armadas, o país deveria ser dirigido por um governo integrado exclusivamente por civis.

Kafando, ex-embaixador de Burkina Fasso na ONU, foi designado presidente da transição do país africano em novembro de 2014, pouco depois de Compaoré ter sido forçado a deixar o país, em novembro do ano passado. EFE

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