Relações entre EUA e Irã: o inimigo do meu inimigo é…

  • Por Agencia EFE
  • 17/03/2015 06h31

Jairo Mejía.

Washington, 17 mar (EFE).- Em que se transforma o inimigo do meu inimigo? Por causa da guerra contra o Estado Islâmico (EI), esta suposição aparentemente simples é agora um dos maiores dilemas da política externa americana.

Na semana passada, 20 mil membros de milícias xiitas Hashed al Shabi equipados e provavelmente também dirigidos pelos Guardiães da Revolução do Irã lideraram a tomada da cidade iraquiana de Tikrit, uma batalha que pode se tornar o início do fim do autoproclamado “califado” dos jihadistas.

Os avanços em Tikrit foram apoiados por ar pelos bombardeios da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, o que deixou do mesmo lado dois adversários que tentam estender sua influência no Oriente Médio e estão envolvidos em delicadas negociações sobre o programa nuclear de Teerã.

“Claramente, há alguns interesses alinhados entre nós e o Irã”, explicou na sexta-feira o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), John Brennan, em uma conferência em Nova York.

Brennan não se preocupou em esconder o evidente, apesar de ter afirmado aos mais receosos que “não fala nem coordena” ações com Qasem Soleimani, o comandante dos Guardiães da Revolução, que aparentemente dirige algumas operações militares no Iraque.

“(O Irã) deu as boas-vindas a nosso bombardeios. Eles querem destruir o EI, e nós também. Seria uma leitura incorreta pensar que não há um interesse mútuo a respeito do Daesh (acrônimo árabe do EI)”, explicou nesta semana o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em um tenso debate com o senador Marco Rubio no Capitólio.

Apesar dos avanços, as tropas iraquianas e as milícias pró-Irã incorreram em supostos casos de abusos e execuções sumárias em sua passagem pelos territórios antes sob o controle dos sunitas do EI, algo que elevou as preocupações de violência étnica.

A complexidade do cenário iraquiano é um exemplo da guerra e os receios sectários entre sunitas e xiitas, assim como dos interesses de poderes regionais opostos no Oriente Médio (Arábia Saudita e Irã).

“O Irã disse que é a força por trás não só das milícias xiitas, mas de grupos das forças armadas iraquianas, e fica claro aos iraquianos que esta (a batalha de Tikrit) é uma operação liderada pelo Irã”, explicou Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e de Estudos Internacionais (CSIS) de Washington, à rede “CNN”.

Em entrevista, o tenente general reformado James Dubik, analista do Instituto de Estudos da Guerra (ISW), disse que, por enquanto, o avanço das milícias xiitas, junto com membros de algumas tribos sunitas, é positivo, e o que aprenderem em batalhas como as de Tikrit será vital para um objetivo ainda mais complicado: a tomada de Mossul.

“A única maneira de que a administração Obama se mantenha fiel a sua estratégia é assumir que os iranianos levarão o peso do combate e ganharão as batalhas no terreno”, opinou recentemente Vali Nasr, decano da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Johns Hopkins, ao jornal “The New York Times”.

“A estratégia dos Estados Unidos no Iraque foi bem-sucedida, na maior parte, graças ao Irã”, afirmou Nasr.

Mas o inimigo comum não impede que seja evidenciado que, apesar dos milhões de dólares gastos pelos Estados Unidos entre 2003 e 2011 para reconstruir o Iraque pós-Saddam Hussein e a chegada de milhares de assessores americanos no último ano, foram tropas treinadas pelo Irã as que lideraram a primeira grande batalha contra o EI em território iraquiano, ampliando assim uma influência que alguns vizinhos não gostam.

“O Irã pode estar ganhando muita influência”, destacou Cordesman, que mostrou sua preocupação pela possibilidade de que as milícias xiitas iniciem massacres étnicos, temor compartilhado pelo governo americano.

Em seu discurso no Congresso dos EUA no dia 3 de março, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi o líder mais crítico com a nova estratégia americana.

“No que se refere ao Irã e o EI, o inimigo de seu inimigo é seu inimigo”, disse. EFE

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