Setor da cana pode perder até nove usinas em 2015

  • Por Agencia EFE
  • 18/12/2014 18h07

Cleyton Vilarino.

São Paulo, 18 dez (EFE).- Em crise por conta do clima e do baixo preço interno do petróleo (sem perspectivas de recuperação no médio prazo), o setor sucroalcooleiro pode perder até nove usinas no ano que vem, segundo um balanço divulgado nesta quinta-feira pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

“Não dá para dizer quem é (que vai quebrar) e nem para afirmar se vai ser mais ou menos que nove (usinas). Essa é uma avaliação nossa, interna, em função da grande redução da moagem e da dificuldade para a próxima safra”, destacou o diretor técnico da UNICA, Antônio de Padua Rodrigues.

De acordo com Padua, para próxima safra o setor conta com apenas uma usina em condições de realizar a moagem da cana, localizada em Minas Gerais e resultado de investimentos feitos ainda em 2008.

Em relação às demais, Padua lembra que “são usinas que tiveram uma forte redução de moagem, que pararam a safra muito cedo, que não têm produto de entressafra”, o que refletiu em dificuldades financeiras para estes produtores.

Apenas na região centro-sul, a UNICA estima que cerca de 80 usinas já fecharam as portas por conta de dificuldades financeiras e outras 67 seguem em recuperação judicial em todo o país.

Por conta deste cenário extremamente pessimista, a safra de 2015 deverá ser ainda menor que a deste ano, sendo 12,1% menor em São Paulo, principal estado produtor, e de 7,8% em toda a região centro-sul.

“A falta de chuva, a falta do desenvolvimento das mudas, foi provavelmente a principal razão para a queda na área plantada. Mas com certeza tem também alguma razão financeira que pode ter levado a isso”, avaliou Padua ao analisar os dados de 2014, quando a área plantada reduziu 14,8% em relação ao ano anterior.

Mesmo assim, o setor conta com as medidas governamentais de aumento da mistura de etanol anidro na gasolina previstas para 2015 para dar fôlego ao setor, que deve diminuir o processamento de açúcar para focar na produção de biocombustível.

Segundos dados apresentados pela UNICA, a queda da safra observada este ano não impactou na produção de etanol, cujas vendas aumentaram 12,2% no período no caso do etanol anidro carburante, usado como aditivo na gasolina.

A pedra no sapato, porém, tem sido o preço da gasolina, que vem despencando no mercado internacional sem perspectivas de recuperação para o ano que vem de acordo com alguns economistas.

De acordo com a presidente da UNICA, Elisabeth Farina, o desafio é “para todas as energias renováveis”, e será preciso “vontade política” para priorizar outras fontes de energia em detrimento do petróleo.

“Depende muito de como o Brasil vai reagir perante essa queda do preço do petróleo. O preço estava lá em cima e aqui mantivemos ele baixo, subsidiamos, mas o que vamos fazer agora? Temos ainda as questões das perdas acumuladas da Petrobras… São todas questões a serem respondidas”, avaliou Farina.

Já para Padua, o setor alcooleiro deverá ter um bom desempenho independente do que possa acontecer com o preço da gasolina, sobretudo por conta dos inúmeros incentivos fiscais dados ao setor.

“No curto prazo eu não vejo muito impacto na formação de preço da gasolina na bomba. Se o preço do petróleo cair nas bombas para o consumidor, a gasolina vai continuar pagando 29% de ICMS e o álcool 14%. Isso é uma realidade independentemente do preço do petróleo”, destacou. EFE

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