Trump pode impulsionar economia global, mas protecionismo é ameaça, diz OCDE

  • Por Estadão Conteúdo
  • 28/11/2016 09h20
BIRCH RUN, MI - AUGUST 11: Republican presidential candidate Donald Trump speaks at a press conference before delivering the keynote address at the Genesee and Saginaw Republican Party Lincoln Day Event August 11, 2015 in Birch Run, Michigan. This is Trump's first campaign event since his Republican debate last week. (Photo by Bill Pugliano/Getty Images) Donald Trump

O crescimento dos Estados Unidos e da economia global podem receber um impulso com o aumento de gastos e o corte de impostos prometidos pelo presidente eleito norte-americano, Donald Trump. Esses ganhos, porém, seriam perdidos caso ele leve adiante as ameaças de elevar tarifas, o que pode levar a retaliações, afirmou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) nesta segunda-feira.

Durante a campanha, Trump se comprometeu a elevar os gastos com infraestrutura em até US$ 1 trilhão, embora os detalhes sobre como isso será financiado não estejam claros. Ele também prometeu cortar impostos corporativos e sobre a renda pessoal.

Em seu relatório semestral sobre as perspectivas econômicas globais, o órgão de pesquisas sediado em Paris disse que, se por um lado a forma exata dessas políticas não está clara, é de se esperar que Trump ofereça algum estímulo fiscal nos primeiros meses de sua presidência. Isso deve impulsionar o crescimento econômico dos EUA de 1,9% para 2,3% em 2017 e de 2,2% para 3% em 2018. A medida também beneficiaria outras regiões do mundo, já que a demanda por exportações dos EUA cresceria, com o crescimento econômico global avançando de 3,2% para 3,3% em 2017 e de 3,3% para 3,6% em 2018. A OCDE é a primeira agência econômica internacional a publicar uma estimativa do possível impacto das propostas de Trump.

“A extensão do programa fiscal estabelecido pela nova administração durante a campanha eleitoral a ser implementado ainda não está clara, já que será necessário um acordo com o Congresso para aprovar legislação necessária e em algumas áreas, notavelmente a reforma tributária, podem ser necessárias complexas mudanças legislativas”, afirma a OCDE. “Ainda assim, parece provável que haverá algum relaxamento da política fiscal ao longo dos próximos dois anos, com implicações para as perspectivas para o crescimento e a inflação nos Estados Unidos e em outras economias.”

As projeções da OCDE são baseadas em um aumento nos gastos do governo em 2017 e 2018 de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), um corte no imposto de renda que reduza a receita do governo em 0,5% do PIB em cada ano, além de um corte no imposto sobre as empresas que reduziria a receita em 0,75% do PIB em 2018. A entidade calcula que, graças ao impulso para o crescimento, um pacote como esse levaria as dívidas do governo a uma leve redução como proporção do PIB.

A OCDE, que dá assessoria política a seus 35 integrantes, disse que outros governos também devem fornecer mais estímulo fiscal que o agora planejado, o que impulsionaria mais o crescimento global. Com um espaço menor para iniciativas de política monetária que impulsionam o crescimento, a OCDE tem pedido nos últimos anos mais gastos dos governos como maneira de escapar do que chama da “armadilha do baixo crescimento”.

A entidade advertiu, porém, que um maior protecionismo poderia ofuscar o impulso dos maiores gastos do governo e de menos impostos. Trump afirmou que pretende impor tarifas contra China e México, além de reavaliar outras relações comerciais que segundo ele colocam trabalhadores norte-americanos em desvantagem.

“O protecionismo e a inevitável retaliação comercial ofuscariam boa parte dos efeitos das iniciativas fiscais no crescimento doméstico e global, elevariam preços, prejudicariam os padrões de vida e deixariam países com uma posição fiscal pior”, afirmou Catherine Mann, economista-chefe da OCDE. Segundo ela, o protecionismo comercial protege alguns empregos, mas piora as perspectivas e reduz o bem-estar para muitas outras pessoas. “Em muitos países da OCDE, mais de 25% dos empregos dependem da demanda externa.”

Em relação ao Reino Unido, a OCDE elevou a perspectiva de crescimento para 2017 para 1,2%, quando em setembro esperava 1%, mas disse prever que a economia do país desacelere mais em 2018, avançando apenas 1%, devido à incerteza sobre o processo de saída do país da União Europeia, que enfraquecerá o investimento das empresas.

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