Ucrânia afirma querer paz, mas se prepara para guerra contra separatistas

  • Por Agencia EFE
  • 14/11/2014 17h59

Boris Klimenko

Kiev, 14 nov (EFE).- A Ucrânia garante que quer a paz com os rebeldes pró-Rússia, mas se prepara concientemente para a guerra com os separatistas, enquanto Rússia e Estados Unidos convocaram com urgência os dois lados nesta sexta-feira para uma nova rodada de negociações em Minsk.

“É preciso estar a postos. Se as coisas se voltarem contra o plano de paz, as Forças Armadas ucranianas estarão prontas e capacitadas para reagir” afirmou o presidente ucraniano, Petro Poroshenko durante uma reunião nesta sexta-feira com os chefes das estruturas de força.

Poroshenko ressaltou que, em sua opinião, a solução para o conflito nas regiões de Donetsk e Lugansk, controladas parcialmente por separatistas pró-Rússia, “é exclusivamente política”.

“Mas temos forças e recursos para defender o Estado”, enfatizou o presidente, cujo plano inclui três anos de autogoverno para as zonas sob controle rebelde.

Desejar o melhor (a paz), mas esperar o pior (a guerra). Esse é o dilema das autoridades ucranianas desde as polêmicas eleições separatistas de 2 de novembro, que contrariaram o plano de paz de Poroshenko, elogiado pelo próprio Kremlin.

O líder ucraniano explicou nesta sexta-feira que as autoridades fizeram grandes esforços para armar as unidades na zona de conflito, seguindo o lema “tudo pela vitória”.

“Não há motivos para entrar em pânico. Demos importantes passos nos últimos dois meses para preparar nossas Forças Armadas e outras unidades para a defesa da Ucrânia”, destacou o presidente.

Apesar das palavras de Poroshenko, os acordos de paz de Minsk não são cumpridos, os combates nas últimas duas semanas aumentaram – segundo o comando ucraniano, quatro soldados morreram nesta sexta-feira -, os rebeldes não param de receber reforços da Rússia, de acordo com o Ocidente, e civis continuam morrendo.

A estabilização da frente através de uma linha de separação e uma zona desmilitarizada de 30 quilômetros, contempladas no Memorando de Paz de Minsk, soam como utopia enquanto as forças governamentais se reagrupam e convocam reservistas e os milicianos tentam reconquistar o aeroporto de Donetsk.

Kiev parece ter perdido a fé nos acordos de Minsk, já que, com a mediação russa, não considera a possibilidade de conseguir concessões por parte dos rebeldes, por isso exige o retorno ao formato de Genebra, onde havia um de seus apoiadores, os EUA.

Os separatistas, que exigem uma revisão do mecanismo de controle dos acordos de paz com o argumento que a OSCE não pode garantir o cessar-fogo, pedem uma reunião urgente com a Ucrânia em Minsk.

“Qualquer tentativa de regular o conflito sem a participação das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk será inútil e levará o processo de negociação a um beco sem saída”, alertou Denis Pushilin, negociador da autoproclamada República Popular de Donetsk,

Se juntaram a ele nesta sexta-feira o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado americano, John Kerry, que defenderam “retomar o mais rápido possível o trabalho do grupo de contato” de Minsk.

A Rússia insiste que Kiev negocia com os novos interlocutores separatistas que surgiram após as eleições nas zonas rebeldes, condenadas por Kiev e pelo Ocidente.

Nesta sexta-feira, Moscou complicou ainda mais o panorama das negociações ao acusar a missão da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) encarregada de observar o cessar-fogo no leste da Ucrânia de tentar ajudar as autoridades de Kiev.

“Estamos preocupados com o enfoque que a missão especial de observação da OSCE na Ucrânia mostrou ultimamente. Temos a impressão que seus esforços estão inclinados a apoiar e ajudar uma das partes do conflito, as autoridades de Kiev”, afirmou a Chancelaria russa por meio de um comunicado.

Moscou critica os relatórios da organização que defende o cumprimento dos acordos de paz de Minsk no leste do país por “conter dados completos sobre a mobilização das unidades militares das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk”, mas “ignoram as informações sobre os preparativos militares e a concentração de unidades de ataque em torno da linha de separação”, aponta.

Por outro lado, tanto a OSCE como a Otan relataram nos últimos dias que caminhões com o distintivo “Carga-200” – em alusão a caixões com corpos de soldados russos mortos em combate-, cruzaram a fronteira ucraniana com destino à Rússia.

Depois que os EUA e vários países europeus denunciaram a entrada de comboios militares com armamento pesado da Rússia na Ucrânia, o Conselho de Segurança da ONU alertou na quarta-feira sobre o risco das atuais hostilidades resultarem “combates em grande escala”.EFE

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