Um símbolo de concreto da divisão entre Berlim, Alemanha e Europa

  • Por Agencia EFE
  • 05/11/2014 18h39

Noelia López.

Berlim, 5 nov (EFE).- A queda do que alguns chamaram de “muro da vergonha” abriu o caminho há 25 anos para a reunificação da Alemanha e simbolizou para a posteridade o fim da Guerra Fria.

Os acordos entre as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial (Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e França) marcaram em 1949 a divisão do mundo em dois blocos. A Alemanha, que provocou a disputa e depois foi a grande perdedora, transformou-se em arquétipo dessa cisão.

A cidade de Berlim ficou no coração da República Democrática Alemã (RDA), sob o controle soviético, e foi dividida por sua vez em quatro setores.

Segundo diversos estudos, a Alemanha Oriental perdeu um sexto de sua população nos primeiros anos de existência em função da migração em massa de cidadãos rumo ao oeste.

Em 1952, o Partido Comunista da RDA (SED) começou a blindar a fronteira com a República Federal da Alemanha (RFA) e na noite de 12 para 13 de agosto de 1961 decidiu fechar a mais vulnerável, a que separava o setor comunista de Berlim dos setores americano, francês e britânico.

Primeiro foi uma cerca e pouco depois um muro de mais de 155 quilômetros, que circundou toda Berlim Ocidental e transformou o local durante 28 anos em uma ilha e, ao mesmo tempo, em um símbolo para o mundo capitalista.

Em junho de 1963, em plena Guerra Fria, o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, foi o primeiro chefe de Estado de uma grande potência a visitar Berlim Ocidental. O chefe de Estado, diante da prefeitura de Berlim, pronunciou sua já lendária frase: “Ich bin ein Berliner” (“sou um berlinense”).

Outro discurso que ficou para a história foi o realizado pelo ex-presidente americano Ronald Reagan, em 1987, diante do Portão de Brandemburgo: “senhor Gorbachev, derrube este muro. Abra esta porta”.

A Perestroika de Mikhail Gorbachev na URSS, como lembrou neste fim de semana a chanceler Angela Merkel, ou sua fraqueza e incapacidade para sustentar o regime, como sustenta o ex-chanceler Helmut Kohl, foram fatores fundamentais na queda da Cortina de Ferro.

O primeiro muro caiu em maio de 1989, quando a Hungria começou a desmantelar a cerca elétrica que separava o país da Áustria. Poucas semanas depois, dezenas de milhares de alemães orientais utilizaram esta via para chegar ao Ocidente e muitos decidiram ocupar as embaixadas da Alemanha em Budapeste, Varsóvia e Praga.

Os movimentos a favor dos direitos civis começaram a ganhar visibilidade na RDA, passando de tímidos protestos a grandes manifestações que exigiam reformas ao grito de “Wir sind das Volk” (“Nós somos o povo”).

O tiro de largada dos vários atos de homenagem organizados neste 25º aniversário começaram de fato há um mês em Leipzig, em lembrança das mais de 70 mil pessoas que participaram da marcha pacífica que em 9 de outubro percorreu as ruas desta cidade.

“Aqui e agora dizemos bem alto e mais uma vez: sem 9 de outubro não teria havido 9 de novembro. Antes da unidade, chegou a liberdade”, afirmou nos atos comemorativos o presidente alemão e ex-dissidente da RDA, Joachim Gauck.

Perante a pressão popular, as incessantes manifestações e a fuga em massa de cidadãos para o Ocidente, em 18 de outubro de 1989 o máximo líder da RDA, Erich Honecker, deixou todos os seus cargos.

Mas as ruas já não eram do Partido Socialista Unificado: em 4 de novembro, Berlim Leste viveu a maior manifestação da história da RDA e centenas de milhares de pessoas reivindicaram pacificamente liberdade de opinião, reunião e imprensa.

As promessas do novo líder do país, Egon Krenz, de conceder passaportes e vistos para a população viajar ao exterior não acabaram com os protestos, e em 9 de novembro de 1989, em uma confusa entrevista coletiva, o membro do Politburo Gunter Schabowski anunciou que seriam dados vistos automáticos de saída a todos os cidadãos que assim solicitassem.

Às 22h se abriu a primeira passagem no cruzamento de Bornholmer Strasse e nesta mesma noite milhares de cidadãos cruzaram o muro rumo ao oeste sem visto nem passaporte, perante uma polícia sem ação e comando.

Após 28 anos, dois meses e 27 dias, a fronteira de concreto armado desaparecia e começava o processo de reunificação da Alemanha, que culminou em 3 de outubro de 1990 com o Tratado de Unidade, a dissolução da RDA e a incorporação de seu território ao da República Federal da Alemanha. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.