Unicef declara que inundações no Paraguai já deixaram 300 mil sem casa

  • Por Agencia EFE
  • 27/06/2014 22h37

César Muñoz Acebes.

Assunção, 27 jun (EFE).- As chuvas dos últimos dias no Paraguai elevaram para 300 mil o número de deslocados pelas inundações, segundo disse nesta sexta-feira a Unicef, que as considera as mais graves da história da capital Assunção, a cidade mais afetada.

Os botes se transformaram no único meio de transporte de muitas regiões dos banhados da capital, os bairros baixos na margem do Rio Paraguai ocupados por famílias pobres nas últimas décadas.

Em Santa Ana hoje só era possível ver os tetos das casas e a parte superior dos postes de luz, sob uma intensa chuva, que continuará até amanhã, segundo as previsões.

A Secretaria de Emergência Nacional do Paraguai (SEN) estimou o número de afetados em 200 mil pessoas em 19 de junho. No entanto, desde então novas chuvas provocaram a saída de suas casas de outra leva de pessoas, que agora somam 300 mil em todo o país, disse hoje à agência Efe Cynthia Brizuela, responsável pela empresa de consultoria de educação do Unicef, encarregada do tema na organização internacional.

De acordo com ela, se trata da inundação mais grave da história de Assunção, em termos de seu impacto. “É pior que a de 1983 pela aglomeração”, afirmou.

Nesse ano, viviam ali, aproximadamente, três mil famílias, enquanto hoje em dia são de 15 a 16 mil, explicou a especialista.

Ao mesmo tempo, o espaço disponível na cidade onde podem ser instalados acampamentos foi reduzido. Os aproximadamente 75 mil deslocados em Assunção estão nos terrenos de dois quartéis, com parentes, ou abrigados em 91 novos assentamentos que eles mesmos construíram com lonas, chapas e madeiras em ruas e praças.

A SEN deu parte desses materiais e ajuda com alimentos, mas as próprias autoridades reconhecem que as condições são muito precárias. O Ministério da Saúde alertou hoje de um aumento “considerável” das diarreias, especialmente entre crianças, e as afecções respiratórias.

“Isto se deve, principalmente, às condições ambientais de umidade e aglomeração em que estas pessoas estão vivendo”, disse Luis Fleytas, diretor de saúde da região de Assunção.

O ministério também detectou dois casos suspeitos de dengue, problemas de pele e acidentes por conta das construções, assim como quadros de hipertensão, majoritariamente entre idosos.

“O drama maior é com saúde, higiene e saneamento”, disse a especialista.

A Unicef se preocupa em especial com a situação dos 180 mil menores que tiveram que sair de suas casas, pois considera que estão expostos a violência intrafamiliar nos acampamentos e, inclusive, a abusos sexuais, além de sofrer um “altíssimo estresse” pela situação, disse a consultora.

Segundo a instituição, uma criança morreu cruzando uma avenida onde está um dos acampamentos improvisados, enquanto outros dois menores indígenas morreram eletrocutados, todos em Assunção.

Uma equipe das Nações Unidas realiza uma avaliação da situação no país para elaborar um plano de resposta comum de todas as agências da organização. A instituição solicitará recursos de um fundo destinado a emergências em nível mundial. A assessora disse que o plano será concluído, no máximo, até terça-feira.

Por outro lado, o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, destacou hoje que seu governo garantirá que não falte “qualquer recurso” à SEN para ajudar à população.

“O governo vai fazer tudo o que pode e até o que não pode para estar ao lado das pessoas”, disse o presidente em entrevista coletiva ao voltar para Assunção após uma viagem ao Japão.

As novas chuvas fizeram subir hoje o nível do Rio Paraguai até 6,98 metros de altura no porto de Assunção, onde em março deste ano chegavam apenas a um metro, segundo a Direção de Meteorologia e Hidrologia.

O órgão acredita que o rio descerá nos próximos meses, mas que voltará a subir no final do ano, quando estão previstas chuvas mais intensas que o normal devido à provável influência do El Niño.

Enquanto isso, o sul do Rio Paraná também sofre uma cheia, que este fim de semana elevará seu nível a 3,2 metros na cidade argentina de Ituzaingó, segundo disseram hoje técnicos da represa de Yacyretá, compartilhada entre ambos os países. EFE

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