Vegetarianos no Uruguai, “hereges” no país mais carnívoro do mundo

  • Por Agencia EFE
  • 05/06/2014 10h18
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María Sanz.

Montevidéu, 5 jun (EFE).- O Uruguai, campeão mundial do consumo de carne bovina, com 60 quilos por pessoa ao ano, acaba de comemorar seu Dia Nacional da Carne, uma festa que não é celebrada pela minoria vegetariana local, um grupo de “hereges” que procura se fortalecer no país.

“Quando um uruguaio diz que não come carne, parece que está atacando a tradição, é como um herege”, afirmou à Agência Efe Hiram Miranda, que administra um restaurante vegano em um bairro de Montevidéu.

A tradição no país seria o prato típico nacional, o chivito, elaborado à base de carne e ovo, ou um costume pátrio, domar cavalos selvagens na chamada Semana Crioula, que lembra os costumes dos gaúchos e que para os veganos representa um claro exemplo de maus-tratos animal.

“Essas tradições, todos os veganos veem como uma atrocidade, porque envolvem escravidão e uma submissão desnecessária do animal”, disse à Agência Efe Andrés Prieto, presidente da União Vegetariana do Uruguai (UVU).

Para este ativista, “ser vegano no Uruguai é um desafio”, já que o país “vive há mais de um século às custas dos animais”, através da pecuária, da indústria da carne e da produção de matérias-primas de origem animal como o couro e a lã.

No Uruguai se estabeleceu no século passado uma importante indústria da carne com os frigoríficos, onde se trabalhava a carne e inclusive muitos funcionários recebiam, além de seu salário, um pagamento em espécie com vários quilos de carne por semana para alimentar suas famílias.

Além disso, os produtos animais compõem uma parte importante do volume de exportações que a pequena nação sul-americana comercializa ao mundo.

Assim, a carne bovina, o leite, a nata, o queijo, a lã e o couro integram a lista das principais exportações do Uruguai para outros países, segundo dados do Instituto de Promoção dos Investimentos e Exportações Uruguai XXI.

Em 2013, as exportações de carne bovina congelada uruguaia fora de mais de US$ 935 milhões, aos quais se somam oUS$ 467 milhões do leite e a nata, US$ 255 milhões dos queijos e do requeijão, US$ 144 milhões da lã e US$ 138 milhões do couro e da pele curtida.

“Algumas indústrias, como a da carne, são muito poluentes e estão contribuindo para o efeito estufa. A mudança climática obrigará a se abandonar o consumo de carne e a substituir este modelo pela exportação de produtos vegetais”, previu o ativista.

Prieto argumentou, além disso, que se todos os terrenos que são usados no Uruguai para o pasto se reconvertessem em cultivos agrícolas, seriam resolvidos problemas de desabastecimento de alimentos no mundo.

Apesar de tudo, o consumo de carne no Uruguai é um hábito social, tão enraizado que inclusive muitas reuniões giram em torno das “parillas” (churrasqueira), quase obrigatória em cada casa, onde se prepara o tradicional assado.

“Às vezes, o assado é uma maneira de envolver o homem nas tarefas da cozinha, prendendo o fogo e cozinhando os alimentos”, opinou Miranda.

Ele mesmo reconheceu que, embora agora goste de cozinhar, teve que aprender a fazer isso quando, em 2005, decidiu virar vegetariano e, há cinco anos, deu o passo para se transformar vegano.

“Ser vegetariano é ter uma dieta na qual não se inclui carne, peixe, leite, ovos ou qualquer alimento de origem animal. O veganismo vai um pouco além: é a militância contra qualquer forma de exploração animal”, esclareceu Miranda.

O veganismo inclui a rejeição aos produtos que tenham sido fabricados a partir de matérias-primas animais, e também a luta contra “a escravidão, a exploração e o maus-tratos animal”, que pode ocorrer em zoológicos, eventos esportivos como as corridas dos hipódromos ou alguns tipos de circos.

“Da mesma maneira em que há séculos era comum ter escravos nas casas, e depois vimos que era uma aberração, também tomaremos consciência que explorar animais é um erro”, considerou Prieto.

Para Miranda, “há milhões de razões para virar vegetariano, mas tem que ser uma opção pessoal, uma tomada de consciência própria. Não se trata de evangelizar ninguém”. EFE

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