Yanukovich contra-ataca com planos de operação antiterrorista em toda Ucrânia

  • Por Agencia EFE
  • 19/02/2014 17h02

Arturo Escarda.

Kiev, 19 fev (EFE).- O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, contra-atacou e anunciou nesta quarta-feira uma operação antiterrorista em todo o território nacional para frear os violentos confrontos que já deixaram 26 mortos no país.

O anúncio desta operação aconteceu horas antes da visita a Kiev dos ministros das Relações Exteriores de Polônia, França e Alemanha, que posteriormente informarão a situação aos seus colegas da União Europeia (UE) em uma reunião extraordinária amanhã que tem a Ucrânia como tema, onde estudarão a possível imposição de sanções.

Os ministros chegarão à cidade eleita bastião dos protestos contra o governo. O Maidán, que hoje parece uma imagem de pós-guerra extraída de um velho livro de história. As imponentes barricadas levantadas pelos manifestantes por todo o centro de Kiev foram substituídas por um ameaçador cordão de fogo em torno da praça.

Os manifestantes, que completam esta semana três meses de protestos, estão cercados desde ontem à noite pelos soldados antidistúrbios, o que faz a oposição temer a imediata dispersão do bastião opositor.

A isto contribui o fato de que o metrô kievita está fechado, da mesma forma que muitos dos comércios e empresas do centro da capital.

A euforia dos opositores diminuiu depois de a polícia retirar várias linhas de barricadas, mas os mais impassíveis continuaram reforçando as unidades de autodefesa com paralelepípedos, que esmiuçavam pacientemente com picos e martelos.

Hoje, em mensagem à nação, Yanukovich afirmou que os dirigentes opositores “ultrapassaram os limites quando chamaram o povo às armas. Isso é uma clamorosa violação da lei. E os criminosos devem comparecer à Justiça, que determinará seu castigo”.

“Já não podemos devolver os mortos. Já pagamos um preço muito alto pelas ambições daqueles que aspiram ao poder. Mas para que esse preço não seja ainda mais alto, faço uma chamada à paz. É preciso sentar à mesa de negociações para salvar a Ucrânia”, disse Yanukovich, que de madrugada se reuniu com os dois principais líderes da oposição, Vitali Klitschko e Arseni Yatseniuk, que se negam a chamar seus partidários a deixar as ruas.

Enquanto o presidente chamava ao diálogo, Aleksandr Yakimenko, chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), anunciou a decisão de lançar em breve uma operação antiterrorista em todo o país em que poderia participar o exército, segundo o Ministério da Defesa.

Yakimenko justificou este passo como “a escalada do confronto violento e o emprego em massa de armas de fogo por parte de grupos extremistas”.

“Em muitas regiões do país (os extremistas) tomam sedes dos edifícios do governo, delegacias, escritórios dos serviços de segurança, procuradorias, unidades militares e arsenais”, denunciou.

E acrescentou que “os tribunais de Justiça estão em chamas e vândalos destroem propriedades privadas e matam cidadãos pacíficos”.

Segundo seus números, nas últimas 24 horas mais de 1.500 armas de fogo e cerca de cem mil balas caíram nas mãos dos delinquentes.

As imagens da violência armada de ontem em Kiev e em outras partes do país atraíram a atenção de todo o mundo, por deixar 26 mortos, 16 manifestantes e 10 policiais, assegurou Raísa Bogatiriova, titular ucraniana de Saúde.

Segundo o Ministério do Interior, os dez soldados morreram baleados, o que deu margem para que as autoridades tachassem os manifestantes mais radicais de delinquentes e terroristas.

No total, de acordo com o Comitê de Instrução do Ministério do Interior, mais de 800 pessoas ficaram feridas nos distúrbios, a metade policiais, e 83 deles estão hospitalizados com lesões por arma de fogo.

Neste momento parece faltar fôlego à oposição pela primeira vez desde o início dos protestos, há três meses. Para muitos analistas eles se transformaram em reféns da rua.

“Os trágicos fatos de 18 de fevereiro não são um roteiro escrito pela oposição política ucraniana, que foi, é e será partidária exclusivamente de formas de protesto pacíficas”, assinalou um comunicado emitido esta tarde pelos três partidos de oposição com representação parlamentar.

Os opositores negam que chamaram a população para pegar em armas, como denunciou Yanukovich, já que “a morte de cada pessoa é uma tragédia”.

“Antes de mais nada, Yanukovich deve declarar uma trégua total e retirar os soldados do interior e as forças especiais das imediações do Maidán”, reivindicam.

Os protestos contra o governo se espalharam ao oeste da Ucrânia, tradicional celeiro eleitoral da oposição, onde grupos de manifestantes atacaram e atearam fogo em edifícios oficiais, quartéis e sedes do partido governante nas regiões de Lviv, Ivano-Frankivsk, Volinia, Rivne e Ternopol. EFE

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