Carta para Juliana Paes

Indignação e cansaço da atriz são legítimos: é um ranço a cobrança de tomada de partido sócio político; qual a razão do ódio patológico contra Bolsonaro? Ele não matou ninguém e faz um governo razoável

  • Por Adrilles Jorge
  • 05/06/2021 09h00
Reprodução/Instagram/julianapaes Juliana Paes A atriz Juliana Paes defendeu a médica Nise Yamaguchi após depoimento na CPI da Covid e foi criticada

De fato é um ranço esta cobrança de tomada de partido sócio político no Brasil. A atriz Juliana Paes estrilou e disse ser contra autoritarismos à direita e à esquerda. Horrorizada com o tratamento vil e truculento recebido pela cientista Nise Yamaguchi, a atriz protestou contra o boicote de quem a censura por defender o básico: o ser humano, para além de divisões ideológicas. Nenhuma representante do movimento feminista veio em defesa da médica. Ninguém, aliás, de nenhum movimento progressista, vem em defesa de ninguém que seja perseguido, censurado, cancelado que não esteja nas hostes progressistas. A indignação e o cansaço de Juliana são legítimos. Porém, ela peca num erro: o equilíbrio de forças radicais que se massacram. A patrulha é feita sobretudo de um lado só: a favor do ideário progressista e contra as hostes daquele a quem chamam de genocida. Não adianta argumentar que, a despeito de uma falha de gestão ou arroubo verbal, o governo tem uma das melhores políticas de vacinação do mundo, dada a escassez de vacinas no planeta. Não adianta dizer que a compra de um remédio para tentar salvar vidas em conjunto com outros não torna um governante assassino. Não adianta dizer que tratar uma pessoa mal ou massacrar ou humilhar ou torturar psicologicamente alguém por seu ideário científico no combate à pandemia é ignominioso, independente de sua postura política, ideológica ou científica. Se a criatura não se manifesta contra aquele a quem chamam de genocida, ela é imediatamente tratada como um rato. Ou alienado da visão social hegemônica entre artistas, jornalistas, intelectuais, juízes do STF e todo o establishment sócio cultural do país que odeia o presidente Bolsonaro.

Qual a razão deste ódio patológico? O presidente não matou ninguém, faz um governo razoável, tem seus altos e baixos, virtudes e vícios como qualquer presidente. A dica está na fala da própria Juliana: “quero um presidente diplomático”. A geração ultrassensível criada pela égide do politicamente correto não assimila que Bolsonaro é um sintoma dos exageros do próprio politicamente correto, que é fruto de uma esquerda identitária que enxerga preconceito e ofensa em tudo e todos e qualquer coisa: palavras, linguagem, olhares, gestos, opiniões. A desmedida verbal e pessoal de Bolsonaro que exprime um desejo – por vezes exagerado e caricato – de libertação das convenções da assepsia social do politicamente correto faz com que ele seja visto como um monstro moral: assassino, ditador, nazista, fascista, racista etc. Tudo em nome de uma percepção estética que gera uma interpretação ética sobre sua persona.

E é em nome desta interpretação estética que se cria uma ação ética invertida, subversiva. E de massacre e perseguição inclemente a quem não se alia ao discurso contra aquele a quem chamam de genocida sem mortes, fascista sem fascismo, nazista sem nazismo, ditador que respeita à democracia. O que causa exatamente um princípio elementar de fascismo: massacrar e oprimir quem pensa diferente. Tudo, claro, em nome do bem. Da segurança. Da harmonia. Assim nasce toda ditadura. Assim nasce esta nova ditadura que impõe uma assepsia da natureza humana: verbal, sexual, afetiva, linguística, moral. A patrulha, Juliana Paes, é sobretudo sobre um dos dois aspectos desta polarização estupida que v0cê salienta existir. Do ponto de vista político, esta falsa dicotomia – dominada pela ditadura subliminar do progressismo politicamente correto – traz um herói torto: Lula. Mesmo  alas “limpinhas” de liberais e conservadores que têm asco de algumas afirmações e posturas truculentas do presidente acabam por sucumbir ao politicamente correto que combatem e inadvertidamente fazem propaganda política para Lula. Bolsonaro é um falso genocida: não matou ninguém. Cometeu um ou outro erro de gestão. Lula é um verdadeiro corrupto. Comandou o maior esquema de corrupção da história do Brasil. Comprou deputados, empresários, juízes, intelectuais, artistas. (Uns se doaram de graça pelo preço da cegueira ideológica.)

Em nome de uma mentira de um falso genocídio perpetrada por uma impressão estética, fazem campanha subliminar para Lula, um homem esteticamente alinhado com a estética progressista da esquerda politicamente correto. Lula é o establishment corrupto. Sua eventual vitória em 2022 significará a volta total do establishment corrupto que já sufocou a lava jato e já impôs o Centrão como centro norteador de boa parte do governo. Parte maior da imprensa e mesmo de políticos liberais e conservadores talvez estejam conscientes de comprarem uma mentira – para demonizar Bolsonaro e eleger Lula. Bolsonaro não dialoga com boa parte destes jornalistas e políticos. Um tanto por desconfiança, outro por inabilidade política mesmo. Dialogar politicamente é sempre negociar ideias e valores para uma melhoria efetiva das condições de poder – poder no sentido utópico do termo – de fazer algo pelas pessoas. E na falta deste diálogo, neste engodo estético, nesta exclusão do poder que Bolsonaro gera para estes “formadores de opinião”  talvez conscientemente, por ressentimento, inúmeros formadores de opinião torçam pela vitória de Lula. Para que possam imediatamente, após uma eventual vitória, fazer oposição imediata a Lula.

Reparem bem: para estes formadores de opinião, o país que se dane. Eles querem eleger um presidente sabidamente corrupto para voltarem a ter o poder de uma oposição de mérito à esquerda. Querem voltar a ter prestígio, público e leitores e eleitores que os abandonaram em seus ideais limpinhos e sonhos estéreis de poder. Estes formadores de opinião sabem que não há terceira via possível. A via com que se preocupam é o da vaidade deles. Por isto, cara Juliana, não há uma polarização equilibrada. Por isto há uma ditadura que persegue, massacra, cobra, monitora, censura. Mas é sobretudo de um lado só. Olhe as censuras das big techs, olhe os cancelamentos nas redes, olhe o monitoramento de linguagem, olhe quem são as pessoas humilhadas em inquéritos, olhe quem é o verdadeiro criminoso aclamado, olhe quem são os juízes e promotores que tentaram fazer justiça e são tratados como canalhas, olhe quem são as pessoas presas por crime de opinião. E verá que a opressão real vem de um lado só.

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