A dura missão de Michelle: humanizar Bolsonaro e reduzir a rejeição dele entre as mulheres

De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, mais de 60% do eleitorado feminino não vota no presidente de jeito nenhum; primeira-dama diz que Jair é o marido ‘mais cor de rosa do mundo’

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 15/03/2022 10h02
Clauber Cleber Caetano/PR - 08/03/2022 Em frente a um fundo rosa, sob olhares de Damares Alves e Tereza Cristina, sentadas atrás do casal, Michelle e Jair Bolsonaro se beijam; ele está de terno e gravata, e ela, de calça jeans e camiseta rosa Jair Bolsonaro e sua esposa Michelle durante comemoração pelo Dia Internacional da Mulher no Palácio do Planalto

O comportamento do presidente Jair Bolsonaro desagradou muita gente que tinha no capitão um homem que saberia conduzir os problemas do país sem atropelos. Pelo menos na sua campanha de 2018 ela dava adeus à “velha política”. Mas ocorreu o contrário. Muitas manifestações do presidente deixaram marcas profundas naquele eleitor mais sensível às duras realidades deste tempo, especialmente no período da pandemia, em que Bolsonaro tratou tudo com verdadeiro deboche, enquanto milhares morriam nas portas dos hospitais. Não mudou nunca. Sempre tratou da Covid-19 com desdém. E nesse clima começou a vacinação, a qual o presidente sempre se posicionou contrário. Era tudo discutido no grito.

Seguindo o seu roteiro, a vacinação chegou às crianças de 5 a 11 anos. Além de comunicar que não vacinaria sua filha de 10 anos, Bolsonaro se mostrou um crítico diário e feroz do imunizante. E foi exatamente nesse episódio que uma parte do eleitorado feminino começou a se afastar, o que representou uma soma significativa de votos perdidos. Agora a equipe do presidente está pensando nesse estrago. Diante da rejeição que tem no eleitorado feminino, os seus auxiliares pensam em colocar sua mulher, Michelle, na campanha eleitoral, com o objetivo de resgatar os votos das mulheres (votos que ele jogou pela janela).

Bolsonaro participou de uma cerimônia no Palácio do Planalto enaltecendo o Dia Internacional da Mulher. Michelle usou o microfone dizendo que seu marido era o marido mais cor de rosa do mundo. Bolsonaro chegou a se emocionar e enxugou as lágrimas com as mãos. Foi então dada a largada. O grupo que se dedica a traçar uma estratégia da campanha de Bolsonaro afirma que a primeira-dama é carismática e que poderá “humanizar” a imagem do presidente. “Humanizar” a imagem… Não será fácil, com Michelle ou sem Michelle. De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, a rejeição de Bolsonaro no eleitorado feminino passa de 60%. E 59% desta porção acha que o governo é ruim ou péssimo. É muita coisa.

Enquanto seus familiares morriam aos milhares, essas mulheres viam o presidente passeando de moto feliz da vida. Essa angústia foi se acumulando. E encheu. Michelle é uma primeira-dama ativa nas redes sociais, mas de participação insignificante no governo. De qualquer maneira, atua ativamente em projetos de caridade e é militante na causa de doenças raras. A primeira-dama já está mudando seu comportamento. No domingo, 13, por exemplo, saiu para correr perto do Palácio da Alvorada e se deixou fotografar, o que, até agora, era impossível. A equipe da campanha acha que Michelle é bastante articulada para ter contato com a população feminina. E ela está disposta a ajudar o marido.

De agora em diante, Michelle, com essa função, viajará em companhia de Bolsonaro sempre. Evangélica da Igreja Batista Atitude, de Brasília, ela está disposta a trabalhar. A primeira-dama foi decisiva na escolha de André Mendonça para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O maior problema de Michelle será apagar o negacionismo que Bolsonaro utilizou na sua conduta diante da pandemia. E, ao contrário de Bolsonaro, ela foi vacinada e sempre usa máscara. A verdade seja dita: Bolsonaro não está satisfeito com essa ideia. Mas por enquanto aceita. E os aliados querem que o capitão escolha uma mulher como vice na sua chapa. Mas nada está resolvido sobre isso. Quanto a Michelle, ela se diz pronta para o trabalho. E vai sair à luta.

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