Aliados insistem na saída de Milton Ribeiro pelo bem do governo, mas Bolsonaro demora a ceder

Lideranças de várias igrejas evangélicas dizem que uma licença do cargo representaria uma saída honrosa ao pastor, mas ele garante que não deixa o posto

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 28/03/2022 09h53 - Atualizado em 28/03/2022 13h12
Roque de Sá/Agência Senado Milton Ribeiro, ministro da Educação Milton Ribeiro é acusado de favorecer pastores com liberação de verbas do MEC

Os aliados dizem: “Presidente, demita o ministro Milton Ribeiro para evitar problemas na campanha eleitoral”. Os aliados insistem. E explicam que não fica bem manter o ministro num governo que brada a todo instante que a corrupção acabou. A corrupção está aí com o ministro e seus pastores que tomaram conta do Ministério da Educação. Corrupção declarada, em que valia dinheiro ou barras de ouro. E os pastores amigos do ministro afirmam que tudo isso era para comprar Bíblias. “Presidente, demita o ministro,  presidente!”, dizem os amigos mais próximos, mas Bolsonaro afirma que por Milton Ribeiro põe a cara inteira no fogo e não vai demitir ninguém. Os aliados dizem que o escândalo ganhou todas as manchetes da imprensa rapidamente. Mas Bolsonaro repete que não vai demitir ninguém.

Os auxiliares mais ouvidos do governo dizem que, sendo assim, Bolsonaro vai ter que pagar caro por grande desgaste na campanha eleitoral. É um assunto que tem que ser decidido logo, exonerando o ministro-pastor do MEC para mostrar ao país que o governo está atento e não é corrupto. Mas não. Bolsonaro não cede. Ao mesmo tempo, uma ala do povo evangélico aliado do governo, defende que, pelo menos, o ministro Milton Ribeiro se licencie do cargo enquanto as denúncias são investigadas, conforme assegura o pastor Silas Malafaia, que tem trânsito livre no Palácio do Planalto, observando que essa licença seria um caminho bom. “Se ele não fez nada, voltará ao ser cargo, se fez, que pague o preço”, diz Malafaia. A crise é grave.

Esta segunda-feira, 28, começa tensa. Bem tensa. Por seu lado, o ministro garante que não sai. E as acusações vão continuar. Os auxiliares de Bolsonaro observam, entre si, que vai ser difícil suportar. Só que tem algo importante nessa história: o ministro tem toda a confiança da família Bolsonaro, especialmente da primeira-dama Michelle. O ministro Milton Ribeiro diz que não se licencia nem pede demissão. Convém lembrar que a família do ministro-pastor pressiona para que ele deixe do governo. Lideranças de várias igrejas evangélicas dizem que uma licença do cargo representaria uma saída honrosa. Mas afirmam que, se tirar licença, não voltará mais ao ministério da Educação. Milton Ribeiro já prestou serviços relevantes ao presidente. Por exemplo: entregou um relatório sobre todos os reitores indicados pelo governo no país, relatando a convicção política de cada um. (Entre nós: trata-se de um serviço sórdido).

No aniversário de Bolsonaro, comemorado no Palácio do Planalto na semana passada, quando o escândalo já estava nos jornais, o ministro fez questão de fazer uma oração a Bolsonaro falando no microfone. Já Bolsonaro afirma ser uma “covardia” o que estão fazendo com Milton Ribeiro. E os aliados insistem: “Presidente, demita o ministro para o seu bem!”. Bolsonaro assegura que o ministro será mantido no seu cargo. Se for assim, ele continuará a receber os pastores amigos para escolher que prefeitura do interior do país merece receber recursos do governo federal. E para receber, o prefeito tem que ter alguma ligação com as igrejas evangélicas. Agora, se o presidente entende que isso é correto, que essa sordidez continue. Lá na frente virá a conta para pagar pelos estragos na campanha eleitoral. Não fica bem para um governo que toda hora garante que acabou com a corrupção no país. Se isso não é corrupção, é o quê?

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