Bolsonaro fala sobre o 7 de setembro com cuidado, querendo evitar ações de confronto

Presidente quer que seja um dia patriótico, com o povo falando em liberdade e amor à Pátria

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 18/08/2022 14h34
Isac Nóbrega/PR Jair Bolsonaro, de terno e gravata, fala em microfone Presidente Jair Bolsonaro quer que 7 de setembro seja 'democrático e com as cores verde e amarela'

O presidente Jair Bolsonaro quer despolitizar o Sete de Setembro. Deseja que as comemorações sejam nas cores verde e amarela, evitando ações de confronto, como foi no ano passado. Tem que ser uma festa ordeira e democrática, com nas ruas. No entanto, ainda não se sabe ao certo como serão esses festejos do bicentenário da independência. Bolsonaro está tratando desse assunto com cuidado. Resta saber se seus apelos pela paz sejam ouvidos. Em meio a notícias de golpe, o presidente decidiu que neste ano o Sete de Setembro será diferente. Tem de ser um dia patriótico, com o povo falando em liberdade e amor à Pátria. Quando oficializou sua candidatura, convocou seus apoiadores a saírem às ruas em todo o país. Ao mesmo tempo, convidou governantes de países de Língua Portuguesa para assistir às comemorações que serão centralizadas em Brasília. Será uma festa de arromba, como se dizia antigamente. Mas a expressão ainda vale. Entre os convidados estão os presidentes de Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Tem que ser uma festa especial, porque festeja-se o bicentenário da Independência. Só na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, mais de 4.500 militares vão desfilar seguidos de tanques de guerra com o cuidado de nenhum deles produzir fumaça como já aconteceu, um vexame. Mas ninguém está pensando em vexame. A ordem do presidente é promover uma comemoração como nunca se viu no Brasil.

Faltam poucos dias, mas até lá muita coisa pode ainda acontecer neste país inesperado. Após a convocação de Bolsonaro, a militância está organizando grandes caravanas, especialmente para Brasília. Quando disse que seus apoiadores devem sair às ruas no Sete de Setembro, o presidente utilizou uma frase que até hoje anda batendo na cabeça de muita gente. “Convoco meus apoiadores a irem às ruas pela última vez”. Como, última vez? O que Bolsonaro quis dizer com isso? Na verdade, a frase passou batida. Mereceu alguns comentários, mas muitos ainda pensam nessa declaração. A organização de caravanas a Brasília está sendo feita pelas redes sociais. As postagem dos seguidores de Bolsonaro, no entanto, representam  mais um grito de guerra do que uma comemoração pela pátria amada, idolatrada, como diz o hino nacional. As mensagens fazem ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal e pedidos de intervenção militar no país. Claro, praticamente todas as postagens criticam as urnas eletrônicas que serão utilizadas nas eleições de outubro. As urnas eletrônicas se transformaram num fantasma que atormenta o presidente todos os dias, principalmente nas intermináveis noites de insônia.

Uma das mensagens mais veiculadas é um texto amarelo com fundo verde que diz o seguinte: “Dia 7 de setembro temos uma missão: ir em milhões para as ruas legitimar o presidente e acionar as Forças Armadas para destituir os ministros do STF. Vamos eliminar os comunistas do STF. Seja um soldado nessa luta!”. Tem até ponto de exclamação. Não é brincadeira. Esse pessoal dá sinais de que está disposto a tudo. Grupos de bolsonaristas pedem o rompimento institucional com acusações ao sistema eleitoral. E tudo isso é compartilhado com a maior naturalidade do mundo. Militantes com grande poder de mobilização, entre eles deputados federais, participam dessa esculhambação pelas redes sociais, sem nenhuma responsabilidade pelo que pode acontecer. Criticam duramente políticos e eleitores de esquerda. Uma das postagens diz que “vão pendurar os ministros do STF de cabeça para baixo”. Esse é o clima de preparação dos festejos de Sete de Setembro. Evidentemente que algo assim não pode terminar bem. Pode ser que a comemoração se transforme numa guerra incentivada por muitos irresponsáveis que andam soltos no país.

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