Campanha eleitoral de 2022 terá maior custo da história, e o dinheiro sairá do seu bolso

Onde partidos deverão receber cerca de R$ 200 milhões cada um para gastar com seus candidatos nas próximas eleições

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 19/07/2021 15h28
Jefferson Rudy/Agência Senado - 16/07/2021 Painel eletrônico do Senado mostra votação da LDO e depoimento do deputado Juscelino Filho O relator da LDO 2022, deputado Juscelino Filho (DEM-MA), se dirige aos senadores durante a sessão remota do Congresso

É indecente. Uma boa palavra para começar a semana. É absolutamente indecente. Com o país caindo aos pedaços, no meio de uma pandemia com mais de 530 mil mortes, eles tiveram a coragem de aumentar o fundo eleitoral dos partidos para R$ 5,7 bilhões. Bilhões, com “B” de Brasil. Indecente. São essas pessoas que comandam o país. Toda essa indecência foi aprovada pelo Congresso Nacional na quarta-feira, 14. A campanha eleitoral de 2022 terá o maior custo da história. E o dinheiro sairá do seu bolso. Você, que trabalha duro todos os dias, enfrentando todo tipo de dificuldades. Parte de seu dinheiro vai para o cofre dos deputados e senadores da República, esses grandes patriotas brasileiros. Dos 33 partidos políticos, 11 deverão receber cerca de R$ 200 milhões cada um para gastar com seus candidatos. Ao ter alta neste domingo, 18, do hospital onde estava internado, o presidente Bolsonaro afirmou que o novo “fundão” representa uma “casca de banana”. Mas defendeu os parlamentares bolsonaristas que votaram a favor do aumento vergonhoso. Bolsonaro responsabilizou o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL), que conduziu a votação. O parlamentar reagiu na hora, dizendo que o presidente foge de suas responsabilidades e obrigações. Bolsonaro admite que R$ 5,7 bilhões é um valor alto demais, mas assegurou que vai dar um final feliz para essa história. Vamos ver. Ainda diante do hospital, arredondando tudo, o capitão exclamou: “Seis bilhões! Pelo amor de Deus!” 

O novo fundo representa mais um escândalo no país miserável, onde milhões de pessoas não têm o que comer. Pelas novas regras, o PT e o PSL, que detêm as maiores bancadas, deverão receber mais de R$ 1 bilhão cada um. O Fundo Especial de Financiamento de Campanhas foi introduzido nas eleições de 2018, com o valor de R$ 1,7 bilhão, para compensar o fim do financiamento empresarial, que se tornou inviável pelo caixa 2, corrupção e uso indevido do dinheiro, crimes descobertos pela Lava Jato. Agora a verba quase triplicou para os senhores nobres deputados e senadores e seus partidos. É muito dinheiro para gastar. É assim que o país vai morrendo aos poucos. Um pouco de cada vez. O novo patamar foi aprovado pelo Congresso dentro da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Essa indecência ainda depende da sanção do presidente Bolsonaro. Os conselheiros mais próximos aconselham o presidente a não vetar nada. Seria um desgaste com o Parlamento. E Bolsonaro não deseja desgastar-se com ninguém, especialmente com o Congresso Nacional. Até porque o apoio à medida foi quase geral. Os parlamentares querem dinheiro.

Bolsonaro afirma que ainda não pensou bem no assunto e diz apenas tratar-se de uma “casca de banana”. Os únicos partidos que se posicionaram contra o aumento escandaloso do fundão foram o Novo, PSOL, PSL, Podemos e Cidadania. O resto foi babando em cima do dinheiro. O deputado Juscelino Filho (DEM) elaborou o relatório e disse singelamente ao país, como se todos fossem um bando de imbecis, que o Fundo de Financiamento de Campanha tem papel importante no exercício da democracia dos partidos. Houve uma manobra deplorável para que o novo fundão fosse aprovado. Uma manobra esperta. Os que não aceitam diziam que a aprovação desse verba representa um acinte para a sociedade brasileira. Falta dinheiro para comprar vacina, para a segurança, para a educação, mas sobra dinheiro público para os parlamentares fazerem suas campanhas eleitorais. É mesmo uma indecência. E o país mergulhado numa crise que parece não ter fim. Junto com a crise moral de gente que não vale nada, resta à população seguir sem saber onde vai chegar. É a nossa sina.

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