Jovem foi ao pancadão, levou o coronavírus para casa e infectou a mãe e o irmão

Menininho bem posto na vida achava que o vírus só pegava gente velha, mas quebrou a cara e se arrependeu; agora, só quer saber de trabalhar e usar máscara

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 26/03/2021 10h59
Governo de SP/Diuvulgação/06.03.2021 Imagem de cima mostra grupo de pessoas amontoado e rendido por policiais em uma casa de festas Mesmo em meio à piora da pandemia no Brasil, jovens se aglomeram em festas clandestina

Então, o menininho bem posto na vida, com boa casa para morar, decidiu ir a uma balada. Levou a mina, que também gosta de coisas assim, mesmo com a pandemia. Nessas festas correm uísque de má qualidade, conhaque vagabundo, vinho, cerveja, tudo de boca em boca. Sempre rolam uns amassos  nos cantos, aquelas coisas que os menininhos bem postos na vida e suas minas gostam muito, a exemplo de dezenas de outros tantos menininhos e menininhas na festa correndo solta a noite inteira. Música alta, aquele funk sem-vergonha, sem qualidade nenhuma, uma espécie de estupidez doutrinária, uma lavagem cerebral. Muitas menininhas às vezes desmaiam nas festas clandestinas da pandemia. Algumas chegam a ir para o pronto socorro. O enfermeiro dá uma olhada e dispensa logo. Dizem que o enfermeiro não gosta de gente bêbada. Pinta também um fuminho, porque não? Essas aglomerações inconsequentes precisam de um fumo, também um pó para um cheiro. Muitas vezes a barra fica pesada, porque mistura pó e álcool e dá uma treta braba.

Pois é, o menininho foi à festa clandestina com sua mina e saíram bêbados os dois pela manhã. A mina não estava legal. Estava a fim, mas não estava legal. Preferiram ir para casa. O menininho chegou em casa e se atirou na cama. Dormiu sem consciência de nada. Gosta mesmo é de balada, pancadões. Alguns dias depois, sua mãe e seu irmão começaram a sentir umas coisas estranhas, principalmente falta de ar e febre. Foram a um posto de saúde. Não foram atendidos. Estava tudo lotado. Foram a um hospital. Fizeram lá um exame, diante do menininho, e constataram que a mãe e o irmão estavam com a Covid-19. Aí o menininho se tocou. Não vou colocar o nome dele aqui, embora devesse. Um imbecil! E agora, meu? E a mina? Também está doente? Está? Puta vida, deve ter passado para a família também. Você já falou com a mina? É, fala depois que é melhor! Você está mal, cara, não é? Está arrependido? Que é isso, cara? Arrependido? Porra, quantas vezes te falaram que essa aglomeração é uma fria? Ah, você não estava nem aí! Legal!

O menininho bem posto  na vida tem 23 anos. A mina, 22. Bem que te avisaram! Ah, mas você não queria saber. Essa doença é de velho, né? Sua mãe é velha? E seu irmão? Eles conseguiram leito? Você tem dito que seu sentimento de culpa bateu forte! Oh! Não fique assim não, cara! Tudo legal! Sua mãe vai melhorar, você vai ver. Seu irmão também. E você nem sente, não é mesmo? Isso passa. É uma bobagem. Nada disso existe. O coronavírus é uma invenção, não é mesmo? Você dizia isso. Você vivia dizendo isso e se enfiava nas festas junto com a mina. E o fuminho? Tem que ter fuminho. Qual é? É, carinha, o vírus está pegando gente mais jovem como você, assim, todo sarado, legal na vestimenta. O vírus está a fim de carinhas como você. Alguns dias depois da festa você começou a sentir muito cansaço, dor de cabeça, febre, não foi? Depois perdeu o olfato e o paladar. E sua mãe foi para o mesmo caminho. Seu irmão também. Porra, meu, você levou o vírus para dentro de casa! Triste, né? E agora, meu? Não disseram a você que isso poderia acontecer? E porque você insistiu nisso, porra? Ah! Não pensava nisso. Não fica triste não, carinha! Tá tudo bem. Quando tudo melhorar, você volta lá com a mina.

Você sabe que a Covid já tem uma legião de gente como você, os babacas, principalmente aqueles que estão sempre nesses bailes e nos pancadões. Você sabe o que é Covid? Não sabe direito? Porra, meu, você não assiste televisão, não vê todos os dias aquelas cenas de enterros? Ah, você não ligava. O seu negócio era chegar logo a sexta-feira e emendar até domingo à noite, não é? Muito legal. Legal mesmo. Você frequenta uma festa braba, meu, da pesada, aqui em São Paulo! É barra pesada! O fumo você compra lá ou leva? Sabe que no Rio de Janeiro, num dia destes, uma turma de mais de cem caras como você, combinou uma festa muito louca dentro dos vagões do trem. Estava tudo legal, quando de repente começou a música alta e a galera toda saltou dos bancos e começou aquela zuada! Durou a viagem inteira, ninguém conseguia parar aquilo. Foi uma loucura! No final, alguns foram presos, ficaram com aquela cara de bunda, chamando todo policial de “senhor” e no fim da noite todo mundo foi embora para outro embalo. Não tem que parar, meu! Ah, agora você não quer mais saber de festa? Só vai trabalhar e usar máscara? Tá louco, meu? Você deve continuar nessa balada, porque é legal! Você é jovem, boa pinta, pega a mina e se manda para lá. Tua mãe foi intubada, não é? Mas fica calmo, cara! Fica calmo! Isso vai passar. Ela vai ficar bem. Agora não adianta ficar assim. Você nunca ligou para porra nenhuma e chamava de maricas os caras que se negavam a ir para a festa. Fica calmo. Isso vai passar e logo você estará pronto para outra! 

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.