Paulo Guedes anda meio apagado e se mostra preocupado com os rumos políticos do Brasil

Ministro chegou a questionar se não seria possível manter no poder um governo de centro-direita, que é como classifica o governo Bolsonaro, após 30 anos de governo de centro-esquerda

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 14/07/2021 14h56
Edu Andrade/Estadão Conteúdo Paulo Guedes é o atual ministro da Economia do Brasil Guedes disse acreditar que a democracia brasileira permita ao país um governo de quatro anos

Paulo Guedes, ministro da Economia, parece estar sempre na corda bamba. Nunca chegou a passar uma credibilidade respeitável. É um ministro de muita conversa e muitas explicações. Cada afago do presidente Bolsonaro representa uma espécie de despedida. O ministro sinaliza que anda mais ou menos preocupado com os rumos políticos do país. Na economia, estamos atolados até o pescoço. Logo no início da pandemia, Guedes disse algo certeiro, mas não publicamente. Foi numa conversa vazada, quando Bolsonaro andava brigando com todo mundo por causa do coronavírus. O presidente queria todo mundo na rua. Mostrava-se – como ainda se mostra – contra o distanciamento social, uso da máscara, vacinação. Mostrava-se contra tudo em defesa da economia. E os hospitais se enchendo de gente doente. E nessa conversa vazada, o ministro Guedes disse algo correto quando afirmou: “É só vacinar todo mundo que todos voltarão ao trabalho em dias”. Tinha razão o ministro da Economia. Tinha muita razão. Mas não disse isso publicamente porque tinha receio de ferir o discurso de Bolsonaro. Errou em não tornar público o que pensava. Mas nem podia. Certamente perderia seu emprego de ministro.

Na última quarta-feira, 7, Guedes afirmou acreditar que a democracia brasileira permita ao país um governo de quatro anos. O ministro tem medo do que? Deixou no ar uma frase enigmática: “Nunca participei de troca de dinheiro por baixo da mesa do governo”. O que é isso, companheiro? Numa sessão da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, Guedes observou que nas últimas eleições para presidente, a democracia brasileira criou uma alternativa a que chamou de “conservadores e liberais” para assumir o governo depois de anos de centro-esquerda no poder. O ministro questionou, então, se não é possível manter a centro-direita, como ele caracteriza o governo Bolsonaro. Perguntou: Será que depois de 30 anos de centro-esquerda não pode haver quatro anos de centro-direita? Assinalou que quando perdemos o respeito uns pelos outros, estamos descredenciando as instituições do país.

Guedes acha que Bolsonaro merece mais respeito. Chega de bater no presidente todos os dias, até porque não está tudo errado. Mas não adianta. Todos os dias o governo é criticado por tudo que acontece. Disse ser sempre preciso lembrar que em dois anos não houve nenhum escândalo de corrupção no governo. Guedes criticou a CPI da Pandemia, dizendo, de leve, que todos os dias tem senador querendo prender depoente. Perguntou: “Vamos criar um Estado policial no Brasil?”. O ministro está mesmo preocupado. Anda meio apagado, falando pouco, parece meio escondido. Mas Paulo Guedes tem razão: mesmo sendo ministro da Economia, tem que se esconder do que anda acontecendo por aqui. Nas entrelinhas, Guedes teme que o governo não termine em quatro anos de mandato. Basta prestar atenção nas palavras. Ele está certo. Do jeito que está não dá mais para continuar. Ou o Brasil muda o rumo ou fecha para balanço, para ver o que ainda dá para salvar.    

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