A mente feminina: A carga física (e mental) que carregamos todos os dias

O pai pode levar o filho na escola todo dia, mas o bolinho de cenoura caseiro não entra na mochila sozinho

  • Por Bia Garbato
  • 02/03/2022 09h00
mego-studio - br.freepik.com Mulher coloca a mão direita na testa e aparenta tédio durante encontro com um homem em uma cafeteria; ambos são brancos e jovens Mulher aparente estar entediada durante encontro em uma cafeteria

Papai leva pra escola todos os dias. Que maravilha. Aparentemente, dividimos a função. A gente acredita nisso porque, afinal, tomar nosso café com leite em paz não tem preço. Só que a “função escola” não para por aí. O material escolar, de onde vem? O livro de inglês, pelo menos, veio de uma papelaria em João Pessoa, já que estava em falta até na deep web. E os uniformes? Rapidamente eles estão no meio das canelas, já que as crianças crescem mais rápido que grama. E tem as calças que furam no joelho 3x por semana. “É dia de educação física, mãe!” “Ah, entendi, tem campeonato de quem se arrasta mais pelo chão.” Lá vamos nós: armarinho + costureira + ele reclamando que ficou horrível + convencê-lo a usar porque não vamos comprar outra calça nem por um cacete (quase saiu esse palavrão na hora). Em resumo, o pai pode levar o filho na escola todo dia, mas o bolinho de cenoura caseiro não entrou na mochila sozinho.

Você comenta com o seu marido, enquanto arrumam a cozinha: “O Matheus vai começar a natação.” Resposta: “Legal.” Só que, por trás da sua frase, rolou simplesmente o seguinte: para seu filho entrar na natação do clube, de cara, você precisa quebrar a cabeça para arrumar um horário na agenda do pequeno executivo. Tem que mudar a terapia dele, esperar a terapeuta conseguir um novo horário que não é exatamente bom, mas você topa de qualquer jeito, porque, afinal, natação é um esporte completo. Aí você liga pro clube para conseguir uma vaga. Não tem. Vai pessoalmente implorar por essa vaga. Liga novamente pra checar quantas infelizes, quer dizer, crianças, ainda estão na lista. Finalmente consegue o horário e faz uma dancinha comemorativa no carro, afinal temos que valorizar as pequenas vitórias.

Em seguida, descobre que os amiguinhos do seu filho fazem aula no horário anterior. Acredita em mim: ferrou. Você pode até pensar: “E daí? Não podemos dar tanto poder para uma criança.” Tá. Todos os coleguinhas dele vão sair rindo, de touca e marca de óculos, na hora que ele estiver chegando pra nadar com 3 menininhas de maiô florido. Quanto tempo você acha que vai demorar até ele empacar e você ter que empurrá-lo, disfarçadamente, pra dentro da piscina? Você volta de joelhos até a recepcionista da natação, disposta a se humilhar. Essa problemática aí consumiu, além de muita energia mental, algumas horas/ homem (no caso, horas/ mulher). E, no final, teu marido achou “legal” que o Matheus vai nadar crawl. Até rimou. A verdade é que nosso cérebro não desliga nem na hora em que vamos ao banheiro no meio da noite, quando lembramos que acabou o papel alumínio. Confesso que às vezes (3x por semana mais ou menos), tenho vontade de enfiar umas havaianas e ir vender côco em Caraíva.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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