As dores e as delícias de não estar na lista de convidados

Jamais me esqueci da tristeza de não ter sido chamada para a festinha de 14 anos de Carolina Mello, por motivo que até hoje desconheço

  • Por Bia Garbato
  • 20/07/2022 10h00
rawpixel.com - www.freepik.com Pessoas brinca com balões em festa de aniversário Pessoas brincam com balões em festa de aniversário

Esta crônica é especialmente dolorida, pois me remete ao dia em que a Carolina Mello chamou todas as meninas da classe para o seu aniversário de 14 anos e, por motivo que até hoje desconheço, não me convidou. Lembro de estar deitada na sala de TV com as cortinas fechadas, folheando na cabeça um livro de razões, me perguntando: “Por que eu, Carol M.?”. Confesso que essa dor eu nunca esqueci. Já mais velha, Manu Vieira fez um grupo paralelo ao “Amigas das antigas” e convidou para a sua festa todas as integrantes do grupo original, menos eu. Nessa altura, já existia uma crueldade maior: as fotos no Instagram. E, como se não bastasse, me deparei com fotos das escolhidas e seus filhos, perpetuando aqueles laços de amizade. Fiquei mal. Mas logo me lembrei de outras festinhas, certamente mais divertidas, nas quais fui convidada de honra, onde o nome Manuela Vieira nem sequer foi cogitado. Isso me consolou por um instante.

E, neste domingo, o papel se inverteu. De excluída, passei, sem querer, ao papel de excluidora. Para comemorar os 10 anos do meu rebento, levei seus amigos para jogar videogame no shopping e comer no McDonald’s. Melhor impossível, não? Mas tinha um detalhe: só havia 20 lugares no “espaço gamer”. Parece muito, mas não para o meu filho, que é amigão do melhor jogador de futebol do 5º D, do colecionador de bonecos de anime do 6º C, do garoto que leu os 8 livros do Harry Potter em um mês e, claro, do demônio da Tasmânia. Rapidamente, as vagas se preencheram. Olhando a lista de alunos da sala, me dei conta que quatro meninos ficariam de fora. Naquele momento me lembrei da vaca da… e da desgraçada da…. E meu coração apertou. Mas não tinha jeito.

Na segunda-feira, meu filho entrou no carro, depois da escola, e disse: “Mãe, os meninos só falaram da minha festa. Um deles levou até a lembrancinha!”. E continuou: “Só que o Luiz Guilherme veio me dizer que tinha ficado muito triste por não ter sido convidado. Eu disse que ele estava na minha lista, mas que você o tirou para colocar o tio Gu”. Até agora não sei se essa desculpa melhorou ou piorou a situação. O fato é que levei uma facada no peito, pior que a que o Levi deu no Tibério (“Pantanal” no Globoplay já!). Meu filho seguiu caçando Pokémons no celular e eu continuei dirigindo, escondendo as lágrimas quentes que rolavam na minha tez. Cheguei em casa, me tranquei na despensa e desaguei a chorar. Só que já não doía mais como se tivesse acontecido comigo. Doía como se tivesse acontecido com o meu filho. E isso é bem pior.

Felizmente, às vezes, tenho momentos de brilhantismo. Tive a grande ideia de fazer uma comemoração parte 2, igualzinha à primeira, mas sem o demônio da Tasmânia. Secando as lágrimas, escrevi um e-mail simpático para as mães dos novos, mas não menos importantes, amigos. Mudei a data do convite no Canva e torci para que nenhuma delas tivesse ficado ressentida. Não ficaram. Ao invés do micro-ônibus com moleques jogando estalinho em mim, fomos sentados confortavelmente no meu carro. As McFritas foram do pacote para a boca e não ouvi (tantos) palavrões durante os jogos de videogame. Meu filho adorou. Os amigos adoraram. Estou sorrindo agora. Mas, no final de tudo, aprendi uma importante lição: na próxima, só chamar os quatro amigos novos.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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