Às vezes não tem graça nenhuma ser quem a gente é
Infelizmente, eu não sou imune à depressão e, em alguns momentos, vem a vontade de se esconder, de sumir dentro do colchão
Tem gente que parece imune à depressão. Eu, infelizmente, não sou. Aliás, a depressão dorme do meu lado direito todas as noites (do esquerdo é meu marido). De manhã eu dou um bom dia bem animado para ela, coloco uma roupa de ginástica toda combinando (roupa combinando irrita muito a depressão) e vou suar a camisa (ela não suporta camisa suada). Hoje em dia, ela até pode me pegar, mas não é fácil, resisto até o fim. Conheço bem a danada. No começo, me tomava de assalto. Nocaute, para a cama. Hoje não. Eu dou uma boa briga. Vou lidando com ela, sei que vai passar, me trato, saio de casa mesmo sem querer, desenho, canto, escrevo. E quando vejo, ela saiu fora. Aí finjo que ela não existe, dou um gelo. Mas só finjo, porque sei que terei trabalho para mantê-la longe de mim.
Mesmo assim, de repente, a vida parece uma coisa gigante. São tantos pratos a girar, que vou ficando exausta. Então, do nada, os pratos caem. Vem a vontade de se esconder, de sumir dentro do colchão (não basta ser em cima). Vem um constrangimento enorme por ser uma farsa: uma pessoa que finge viver. Me arrasto por aí com meu traje invisível de pedra. Até que um dia, abro os olhos e ela se foi. Abro a janela e o sol brilha, não me ofusca mais. A vida tem graça, tem gosto, tem cor. E aquele sofrimento não faz mais sentido. É quando eu sei que tenho que aproveitar ao máximo, ver os amigos, dançar, trabalhar, amar. Pois nunca sei qual será o dia em que ela voltará a me visitar.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.