Beach tennis: tentando descobrir qual é a dessa febre, antes que ela queime meu pé

Tenho tranquilidade em prever que não teria condições de praticar a modalidade, já que nunca acertei uma raquetada elétrica em um pernilongo

  • Por Bia Garbato
  • 27/04/2022 10h00
Pixabay/Reprodução Foto de fundo de quadra de beach tennis Mulheres disputam partida de beach tennis

Me perdoem os que jogam beach tennis. Me perdoem os que jogam beach tennis todos os dias. Por três horas seguidas. E ainda competem aos fins de semana. Eu nunca joguei beach tennis. Nem pretendo. Mas isso não me impede de me interessar pelo assunto. Cada dia fico sabendo que “perdi” mais alguém pro “beach”. Melhor saber logo qual é a dessa febre, antes que ela queime meu pé. Esta crônica está fundamentada em informações infundadas de fundamentos esportivos que eu desconheço. Um toque de admiração? Tem. Um toque de inveja? Tem. Um toque de maldade? Tem também.

Existem alguns tipos de alegria que a gente sabe que nunca sentirá na vida. Por exemplo. A alegria de uma pessoa minimalisticamente vestida, deixando lenta e vitoriosamente uma quadra de areia, com uma viseira de acrílico e óculos espelhados, para dar um merecido gole em um copo Stanley. Essa eu nunca senti. Meu desafeto com a raquete é antigo. Mesmo paramentada com sainha e polinho Lacoste e impulsionada por uma mãe fã da Steffi Graf, eu nunca aprendi a jogar tênis. Quando criança, na escolinha do Tênis Clube, meus jovens colegas com alguma habilidade no voleio iam avançando os níveis. Eu não. Lá pelas tantas, ganhei o apelido de branca de neve das quadras, já que estava sempre rodeada de crianças pequenas.

Tenho tranquilidade em prever que eu não teria condições de jogar BT (sentiu a familiaridade?), me baseando levianamente no fato de eu nunca ter acertado uma raquetada elétrica em um pernilongo. Confesso baixinho que, na minha ignorante percepção, se me dissessem que beach tennis era um ping pong gigante, eu botava fé. Todo mundo me fala que é fácil jogar “beach”. Que é igual a jogar frescobol. Aí que tá, eu não sei jogar frescobol. Vamos à inveja. Calorias perdidas a gosto no escorrer de suor cintilante. Corpos se auto esculpindo como barro. Bunda dura, o sonho de qualquer mulher, de qualquer pessoa, de qualquer ser vivo. Bronzeado natural twenty four seven. Tem quem diga que a pessoa fica marrom, cheia de rugas, melasmas e sardas, cabelo ressecado, imprimindo 10 anos mais. Bobagem. Eu toparia tudo isso só pelo popô firme.

Outra coisa que eu me liguei meio retardadamente, tanto por ingenuidade quanto por não pertencer a esse mundo, é que a paquera rola solta por ali. Bar, chopinho, cigarrinho? Já era. O que pega agora é o happy hour da saúde. No lugar do álcool, endorfina. No lugar da ressaca, disposição. No lugar de roupas parceladas no shopping e cabelos escovados, shorts-saia delineando virtudes, tops tracknfieldianos revelando costas valentes, rabos de cavalo exibindo nucas com cabelinhos rebeldes e despretensiosamente molhados. Ao invés de mãos bobas durante papos bestas, touchs comemorativos no ar e, nos momentos mais efusivos, abraços melados. Quer melhor? Tinder que me desculpe, mas, em se tratando de exercitar o coração (em todos os sentidos), o beach tennis não tem para ninguém.

Além dos interessados em acasalar, o público é bem variado. Casais, pais e filhos, pessoas com todos os tipos físicos, antigos sedentários, futuros ex-atletas que abandonaram o esporte pela carreira. Todos eles viram ali uma oportunidade perfeita para voltar à ativa e, ainda, socializar. O BT é, claramente, viciante. Isso pode ser chato. O papo pode se limitar a esse assunto. Podemos nos sentir “de fora”. É possível ser alvo de insistência para jogar. Podemos ser julgados com a alegação de que não sabemos o que estamos perdendo. Podem até nos dar a entender que nunca seremos verdadeiramente felizes sem nos resfolegarmos no chão de areia.

Às vezes passo por uma quadra (ou será um palco?) com aquela iluminação alta e intensa, seja do sol ou de holofotes. Observo personagens heroicos. Por um momento, me sinto uma reles mortal com o pescoço curvado, apreciando aquela magia desde as sombras. Definitivamente, eu não faço parte desse universo. Nem vou fazer. Mas isso não me impede de admirá-lo. Então concluo, beach tennis, você veio para ficar. Só não venha com uma raquete pra cima de mim.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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