Como uma simples coxinha pode ajudar uma mãe fora d’água em uma festa de aniversário
De repente, minha filha chutou a bola alto — bem alto; acompanhei a pelota com os olhos e tive uma minicrise de pânico quando percebi que ela ia em direção à cabecinha da aniversariante
Um domingo desses levei minha filha na comemoração de seis anos da Laurinha, a coleguinha da sua nova escola. Grupinhos de mães, “amigas de vida toda”, gargalhavam com piadas internas. A mãe da aniversariante estava muito discreta, com um vestido decotado rosa choque com um laçarote na cintura. Se eu não soubesse, acharia que era o aniversário dela. Ao receber elogios pela mesa do bolo, a anfitriã, repleta de modéstia, afirmava: “Maaagina, querida. Uma decoração tão simplesinha como essa… Mas muito obrigada”. Eu juro que se colocassem mais um balão prateado naquela mesa, ela voava. Resumindo: eu era, literalmente, uma mãe fora d’água.
Só me restava ficar perto das crianças, simulando sorrisos a cada gracinha dos pirralhos. Lá pelas tantas, a criançada decidiu chutar a bola numa rodinha. De repente, minha filha chutou a bola alto. Bem alto! Acompanhei a pelota com os olhos e tive uma minicrise de pânico quando percebi que ela ia em direção à cabecinha da aniversariante. Laura Macedo tinha o cabelo dolorosamente puxado para trás, que se dividia em milhares de trancinhas, adornadas com brilhinhos. Eu já não estava me sentindo exatamente em casa e a falta de destreza da minha filhota podia pôr tudo a perder. Foi, então, que aconteceu. Com o bigode úmido e com a desculpa de que estava ensinando minha filha a arcar com as consequências dos seus atos, nem esperei para ver onde a bola bateu. Girei 90 graus, fui em direção às coxinhas e não olhei pra trás. Enquanto mastigava o salgadinho frito no óleo diesel, rezei pela minha filha e pelas trancinhas da Laurinha.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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