Elevador: os encontros e desencontros dos dias e hoje
Ela entra no prédio correndo e fala esbaforida para o porteiro: ‘Quarto andar, vou na Sônia, meu nome é Priscila’, enquanto atropela a cancela; ele segura a porta do elevador
Ele, dez minutos adiantado pro dentista.
Ela, quinze minutos atrasada pra terapia.
Ele entra no elevador calmamente.
Ela entra no prédio correndo e fala esbaforida pro porteiro: “Quarto andar, vou na Sônia, meu nome é Priscila…”, enquanto atropela a cancela.
Ele segura o elevador.
Distraída, ela diz: “Oi” e dirige o dedo ao botão do número 4. Já está apertado, assim como o sexto.
Ela olha pra ele.
Ele: “Eu ouvi você falando”.
Ela: “Ah…”
Risinhos sem graça.
Ela viu os olhos dele. São azuis. Meu Deus, como são azuis. E que sorriso.
Ele: “Dentista?”
Ela: “Não. Terapia…”
Ela imediatamente se repreende baixinho: “Terapia?”.
Quarto andar.
Ela sai apressada: “Tchau, tchau”.
Ele, no mesmo lugar: “Até logo”.
Uma hora depois.
Ela espera o elevador. A porta se abre.
Sim, ele está lá. E mais um monte de gente.
Troca de olhares. Tão azuis, ela lembra.
Uma mulher com um neném no colo.
Juntos: “Como se chama?”.
Risinhos.
Nem escutam a resposta.
Saem juntos do elevador.
Ele pergunta: “E a terapia?”.
Ela, desprevenida, responde: “Ah, foi bem. E o dentista?”
Ele: “Uma merda”. Ri.
Ela se pune mais uma vez: “Claro…”
Eles saem do prédio.
Ele, apontando para a direita: “Seu carro está pra…?”
Ela: “Lá.”
Ele: “O meu também”.
Falsas caras de espanto: “Que coincidência”.
E saem caminhando em uma “noite quente, né?”, numa “rua tranquila essa, não?”.
“Onde você mora?”
“Uma travessa da Rebouças e você?”
“Perto do Pacaembu.”
“Gostoso lá.”
Ansiosa e sem saber o que dizer, ela chuta perguntando se ele tem um cigarro.
Ele: “Eu parei faz uma semana”.
Ela: “Então eu vou até ali comprar”.
Ele: “Te acompanho”.
Ela: “Não quer fumar?”.
Ele: “Não. Será? Ok, passe um pra cá”.
E chegaram ao carro dela. E não foi apenas um cigarro. Ale, Pri. 32, 24. Ela tinha aula, ele tinha que voltar pra trabalhar. Mas não seria todo dia, então ficaram por ali mesmo. Descobrindo e encobrindo o que interessava de suas vidas. E duas horas voaram. E, no final, trocaram telefones.
Ela: “E se der certo, hein?”.
Ele: “Vai ser uma boa história”.
Risos.
Ele ligou umas vezes. Ela não pôde. Ela ligou uma vez. Ele tava na praia. Nunca mais se viram.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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