Louca ou bipolar? O dia em que tirei a minha bipolaridade do armário

Eu não sou a doença, ela não me define; sou bipolar, mas também sou mãe, esposa, filha, irmã e uma escritora que está aqui expondo suas vulnerabilidades

  • Por Bia Garbato
  • 15/03/2023 09h00
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Freepik/Fotos gratuitas Mulher ansiosa É difícil rir quando alguém diz que outro é bipolar porque muda de opinião toda hora, é “duas caras” ou tem dupla personalidade

Há muito tempo que eu quero falar sobre minha bipolaridade. É duro andar por aí com ela na bolsa. É difícil rir quando alguém diz que outro é bipolar porque muda de opinião toda hora, é “duas caras” ou tem dupla personalidade. Dói ainda mais ouvir que uma pessoa é “bipolar” querendo dizer que ela é “louca”. Eu sou bipolar. Ou melhor, tenho uma doença chamada Transtorno Bipolar e ela não tem nada a ver com se arrumar para uma festa e, no minuto seguinte, decidir ficar em casa vendo seriado. Ser bipolar é ter depressões e manias (euforias), intercaladas pela vida normal, com seus problemas e suas alegrias.

Em linhas gerais: na depressão perdemos a alegria de viver e fugimos da vida, no colchão. Em mania, não tem alegria maior. E a vida? É bonita e é bonita. O problema é que as pessoas ao redor, geralmente, não acham tão incrível assim. Por quê? Porque as ideias na verdade não são tão geniais e podem, inclusive, ser inconsequentes; porque dá um desejo louco de comprar; porque o chefe talvez não ache que de repente ficamos tão inteligentes assim; porque é comum ficarmos mais irritados e agressivos. Enfim, se para quem está em mania ela é o céu, para os outros é um inferno. Neste estado descolamos da realidade e dá pra dizer, sem preconceito, que cometemos loucuras.

Só que para esta doença existe tratamento: medicamentos, terapia e um estilo de vida saudável. Quando tratado, o bipolar leva uma vida normal. Hoje, posso dizer que estou bem. Quando eu digo bem, quer dizer que estou bem hoje, estava bem ano passado e tudo indica que estarei bem daqui um ano. E isso é motivo de sobra para comemorar. O fato é que eu não sou a doença. Ela não me define. Sou bipolar, mas também sou mãe, esposa, filha, irmã e uma escritora que está aqui expondo suas vulnerabilidades. Mas se eu quiser me vestir de Lady Gaga, dançar em cima de uma mesa e ainda postar no Instagram, eu posso. E se quiser me chamar de louca por isso, fique à vontade. Porque a verdade é que eu não sou louca, mas posso ser. Quando eu quiser.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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