Redação de duas linhas do meu filho ia render uma bronca, mas gerou elogios

Além de me fazer rir, solução criativa foi mais interessante do que os textos de quem leu o livro escolhido para as férias

  • Por Bia Garbato
  • 07/12/2022 09h15
Sabrina Eickhoff/Pixabay menino lendo Algumas escolas recomendam leituras de férias para os alunos

Tem mães que só falam maravilhas dos filhos. Perante algum ato de egoísmo, falta de educação ou mimo, defende o rebento até a morte. Logicamente, o amiguinho que está ao lado é apontado como o culpado. Afirmo que não sou essa mãe, já que sou constantemente criticada, geralmente pela minha própria mãe, por ser uma mãe crítica demais. Meu filho tem 10 anos. Ele toca piano, faz circo, desenha e ainda cozinha. Só falta aprender a fazer a cama. No último dia de aula, as crianças foram estimuladas, incisivamente, a escolher um livro na biblioteca. A missão era apreciar a peça literária no período das férias. Na primeira semana, sugeri que meu filho lesse o livro. Na segunda, passei a segui-lo com a obra na mão. Na terceira, coloquei o exemplar na sua mesa de cabeceira onde ele repousou, fechadinho, até o final do recesso. Iniciadas as aulas, os alunos receberam a já esperada missão de escrever uma redação sobre o livro que leram. Rá. Uma semana depois, fui à reunião de pais para conhecer o conteúdo programático do segundo semestre. No final da apresentação, a professora nos convidou a ler as redações dos nossos filhos, afixadas no mural da sala. Passei os olhos por textos de 3 a 4 parágrafos até que, finalmente, me deparei com o cabeçalho: Antônio Garbato – 5º B. Era a nossa.

Para minha surpresa (será mesmo?), a redação do meu filho tinha duas linhas. Isso mesmo, du-as-li-nhas. Ele escreveu: “O livro “Mistérios do Egito, das múmias às pirâmides” fala sobre várias curiosidades do Egito e conta histórias muito engraçadas sobre as múmias e as pirâmides. Não vou contar mais pra não dar spoiler”. Fiquei sem reação. Ao meu lado estavam pais e mães orgulhosos pela capacidade de interpretação de texto dos seus filhos. Vez ou outra um deles dava risinhos afetados perante os “errinhos de português” dos seus pequenos letrados: “Leonardo escreveu “mexer” com “ch”. Que gracinha”. Depois de uma mini paralisia (física e cerebral), dei uma ‘bizoiada’ melhor nos textos alheios. Sinceramente? ‘Boring’. Óbvio que amarrei meu filho na cadeira com o livro na mão para expelir dois parágrafos generosos sobre ele. Afinal, a leitura é fundamental para o seu futuro. E ainda disse, mais de uma vez: “Eu te avisei, moleque”. Só que, no fundo, eu não conseguia parar de pensar que a sua redação, apesar do impressionante poder de síntese, era, de longe, a mais interessante do mural. Em uma situação sem saída, ele encontrou uma solução criativa que, ainda por cima, me fez rir. Dessa vez, sem afetações. Mesmo sendo uma boa mãe crítica, dessa vez me dei o direito de procurar a educadora, dizer maravilhas sobre meu filho e ainda completar: “Ele merece nota 10, não é mesmo, professora?”

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.