Nos tempos da escola: lembrar é viver

Não foi fácil sobreviver, mas, hoje, a vida sem gemada, lapiseira troca ponta e pogobol não tem tanta graça

  • Por Bia Garbato
  • 05/06/2024 10h00
Freepik Close-up da alegre aluno com t-shirt vermelho Enquanto o professor escrevia na lousa, a gente tinha que fazer silêncio, mas a turma do fundão não deixava

Comprar o material escolar sempre foi o melhor momento do ano. Marcas importadas? Frozen, Harry Potter? Que nada. Caneta Bic, lápis grafite e, para os sortudos, lapiseira que trocava de ponta. Na véspera do primeiro dia de aula, eu virava a noite, na certa. Revisava cem vezes os seis zíperes da minha mochila da Company, o estojo de três andares e os novos lápis de cor na ordem do arco-íris. Nesses dias eu já dormia de uniforme e deixava a Kolynos na escova pra não perder tempo. Tinha lugar marcado na classe e número de chamada. Beatriz era sempre número 2. Maldita Ana Paula. Enquanto o professor escrevia na lousa, a gente tinha que fazer silêncio. Só que a turma do fundão não concordava com isso e acabava na coordenação. Apesar de também fazer parte dessa turma, eu era boa aluna e ainda tinha carinha de santa, o que me fazia escapar de quase todas. Eu só não me livrava quando a professora me pegava passando um bilhetinho falando mal de alguém. Muitas vezes, dela mesma.

Na cantina tinha hambúrguer, coxinha e batata frita. Bons tempos aqueles. Eu ia de ônibus escolar sem cinto, pois não tinha. Mas cinzeiro tinha. A escola era longe, então eu e meus irmãos acordávamos bem cedo, confiando no meu rádio-relógio. O meu café da manhã era gemada, uma combinação cruel de gema, açúcar e leite. Minha irmã comia farinha láctea com leite. A mistura ficava tão dura que dava para assentar tijolos. Meu irmão fazia um Toddy com uma gota de leite, de travar o maxilar.

Na escola, a diversão era pogobol, fluffy e mola maluca, que, curiosamente, hoje voltaram a fazer sucesso. De lá saíram amigos, brigas, primeiros namorados e o cobiçado Reebok Pump. Além dos bailinhos com dança da vassoura ao som de Roxette. Era sucesso quebrar o braço, usar aparelho e óculos. Eu não achava tão legal assim. Minha mãe tinha escolhido a dedo pra mim uns óculos iguais aos da Velma, do Scooby-Doo. Pareciam dois telões unidos no meio. Não era raro me perguntarem o que estava passando na TV. Não foi fácil sobreviver à escola, mas, hoje, a vida sem gemada, lapiseira troca ponta e pogobol não tem mais tanta graça.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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