Solteira aos 40: minha vida amorosa depois de separada
Foi com o cabelo amassado no sofá, olhando o celular com cara de fundo de tela, que arrumei uma possibilidade de amor
Confesso que estar solteira aos 40, depois de uma separação, não é a coisa mais gostosa do mundo. Sábado à noite bate uma solidão? Bate. Dá uma carência? Às vezes. Desenvolvi algumas técnicas para essas horas. Uma delas é lavar o cabelo no salão com direito a massagem, ao lado de mocinhas penteadas para festas que não temos mais idade pra ir. Saio com cabelo escovado, para amassá-lo na almofada do sofá. E daí? Abro um vinho branco bem gelado ou um suco de caju on the rocks e faço um brinde comigo mesma (pode até ser no espelho). Aciono o iFood e como de bandejinha na cama, assistindo pela quinquagésima vez “Cinquenta Tons de Cinza”. Leio, desenho, maltrato o violão, mas, principalmente, escrevo. Escrever é conversar com nós mesmos e, muitas vezes, descobrir que somos bons de papo. Mas a verdade é que eu não estava disposta a preencher esse buraco precipitadamente. Afinal, antes só.
Há quem diga que está bem sozinho. Desconfio. Quem não quer uma companhia para ir ao cinema e dividir a pipoca doce? Alguém para comer seu macarrão com tomate pelado e fingir que gostou? Ou, ainda, para inventar modalidades novas de beijo de língua? Eu quero. Ouvi muito que, sentada no sofá, comendo castanha de caju, não arrumaria ninguém. Quantas vezes fui arrastada para festas onde não dava para distinguir casais, pessoas “ficando” e solteiros disponíveis. O problema das baladas é que a paquera funciona à base da aparência, por isso, atrás de lindos olhos azuis, pode ter uma alma duvidosa; e, de olhos castanhos “normais”, uma alma fascinante.
Pois foi com o cabelo amassado no sofá, olhando o celular com cara de fundo de tela, que arrumei uma possibilidade de amor. Um velho conhecido virou uma paixão atual. Daquelas que deixam o sofá flutuando. O que se seguiu foram mensagens de texto das 7h à madrugada. Cada vez que via a pessoa “digitando…”, meu coração batia nos dentes. Quando a gente está apaixonado, tudo fica no diminutivo: boquinha, olhinho, fofinho, lindinha… As perguntas curiosas não param:
– Eu gosto de dormir juntinho e você? – Também.
– Eu gosto de granola com leite e você? – Também (gostando ou não).
– Eu sou palmeirense e você? – Agora sou também.
Se apaixonar é como pular de paraquedas sem o paraquedas. Dá um frio na barriga danado. É ótimo namorar nessa idade, principalmente sem ter que dividir o armário e jantar filé de frango com abobrinha. Mas tem um lado que não é tão bom assim. Divorciados vêm com uma longa bagagem. Muitas histórias que, inevitavelmente, incluem a(o) ex. Vira e mexe, pipoca uma foto do antigo casal no celular. É chato. Existe um código de conduta para falar da(o) ex. Se falar bem, podemos interpretar como “ainda quer voltar”. Falou mal, “xiii, vai falar mal de mim rapidinho…”. O importante mesmo é estar bem com a pessoa com quem mais convivemos: a gente mesmo. Mas, sem esquecer de deixar o WhatsApp aberto para uma nova possibilidade de amar.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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