Nova chance de amar: como me apaixonei aos 40

Esse homem apaixonado — e apaixonante — talvez seja eu escolhendo, pela primeira vez, o que é melhor pra mim

  • Por Bia Garbato
  • 09/05/2024 13h53
Freepik Alegre mulher falando no telefone perto da cerca Uma dose de loucura sempre teve um sex appeal para mim

Como se nada fosse, entre orientações sobre doses de remédios, meu médico da labirintite perguntou meu signo. Não sei aí, mas lá em casa isso é princípio de paquera (sei que esse nome parece antiquado, mas me recuso a usar xaveco). Perguntei se ele sabia alguma coisa de astrologia. Ele entendia mesmo de medicina. Esse papo mole continuou até que se confirmou: era xaveco mesmo. Ele perguntou minha idade e eu respondi, porque sou honesta. Perguntei a dele e ele respondeu: “Que idade você me dá?” Mal sabia ele que essa pergunta já denotava 55+. Chutei baixo, porque apesar dos cabelos brancos, ele está em ordem. Bem em ordem.

A conversa, que era boa, foi ficando muito boa, até ficar ótima e eu não conseguir mais largar o celular, aguardando ansiosamente uma mensagem dele. Não precisava esperar muito, porque ele também engatou naquele papo, no mínimo, agradável. Passamos a nos “falar” pelo WhatsApp das 7h à meia-noite, quando eu teclava com um olho aberto e outro fechado. Era só desligar que meu cérebro inundado de serotonina me deixava acesa, até duas horas da manhã. Não tem nada igual àquela sensação que mistura frio na barriga, coração disparado e bochechas quentes.

O fato é que, em um mês, ele foi de Beatriz à “Linda” e, quando vi, também tinha trocado Dr. Marcelo por “Lindo”. Um enjoo, como dizem os portugueses. Depois de revelarmos nossos medos e segredos, vontades e desejos, ele me disse pra irmos devagar. Eu entendo, a intensidade dos fatos e sentimentos podem assustar. Mas eu tenho o péssimo hábito de ser quem eu sou, de falar o que eu sinto e de viver cada dia. E, afinal, foguete não dá ré. Falei pra ele tentar ficar uma hora sem pensar em mim. Depois de uma hora disse que não tinha ficado um minuto. Nem eu. Aquele foguete já tinha decolado.

A verdade é que a gente se apaixona por uma parte da pessoa, necessariamente a boa, e idealiza o resto. Eu tenho milhares de defeitos, ele deve ter também (por enquanto acho que não). E quando a gente conhece uma pessoa por inteiro tem duas opções: amar ou vazar. E amar é se decepcionar e mesmo assim permanecer. Eu sempre escolhi seres complexos pra me relacionar. Uma dose de loucura sempre teve um sex appeal para mim. O problema é que essa loucura não é atraente pra sempre e, geralmente, passa da dose. Minha terapeuta acha que minhas escolhas amorosas têm a ver com meu querido papai, um maluco sem diagnóstico. Isso tudo pra dizer que esse homem apaixonado — e apaixonante — talvez seja eu escolhendo, pela primeira vez, o que é melhor pra mim. O fato é que ele, que sempre tentou acalmar meu labirinto, está me deixando completamente tonta. O bom é que me conhece há alguns anos e sabe que eu sou mesmo tonta. Desculpe, não resisti ao trocadilho.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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