Pensamentos intrusivos: os filmes que nós passamos em nossas cabeças
Remoer o passado ou se ocupar do futuro só serve para estragar o hoje
Todo mundo sabe que a mente é um órgão independente, voluntarioso e um tanto mal-educado. Ela pensa o que quer, na hora que quer e, muitas vezes, nos faz compartilhar pensamentos que a gente não quer. Pensamentos intrusivos não são exclusividade de poucos. E esses danados, que aparecem sem permissão, dificilmente nos trazem coisa boa. Existem diferentes tipos de pensamentos intrometidos. Pelo menos dentro do meu crânio. A saber:
Fast foward
A famosa pré-ocupação. Projetamos um futuro que, geralmente, não nos favorece. Muitas vezes, um horizonte catastrófico. E esse tipo de pensamento gera uma ansiedade danada, aquela perturbação antecipatória maligna. O fato é que ainda não conseguimos prever ou controlar o futuro. O que está pra acontecer pode ser bom, pode não ser, pode dar certo, pode dar ruim, ou uma das inúmeras possibilidades entre eles. Portanto, pare de tentar controlar o incontrolável, dá uma respirada, joga pro universo e vai comer batata frita com milk shake, que é melhor que ansiolítico.
Rewind
Remoer o passado, lamentar decisões antigas e se perguntar “e se…” não faz nada de bom pela gente. Pensar no que não deveria ter falado, no que não deveria ter feito, no que podia ter falado, no que podia ter feito, é sofrimento na certa. Ok, pisamos na bola de vez em quando. É até bom que a gente se arrependa depois. Demonstra que somos seres humanos decentes. E pedir desculpas não faz mal a ninguém. O problema é que o arrependimento, geralmente, não vem sozinho. Atrás dele, vem a culpa. E a culpa não dói, a culpa arde. O importante é saber que, se não controlamos o futuro, o passado menos ainda. Se tem uma coisa que não dá pra mudar é ele. O fato é que, muitas vezes, somos réus de julgamentos onde não temos a menor chance. E o pior, nós somos os juízes.
Pause
Ese nome não tem a ver com o sentimento, mas, sim, com o que você deve fazer: “Pare de se comparar com os outros”. A gente nunca se compara com os defeitos dos outros. Com o que eles não têm. No que eles são piores que a gente. A gente sempre escolhe o ângulo mais bonito da pessoa, aquela vitória, aquele cantinho lindo da casa dela, aquela foto de viagem de tirar o fôlego. O Instagram é um ambiente fértil. O detalhe é que a gente não sabe se a pessoa não levantou as bochechas e colocou cílios generosos num aplicativo, se atrás daquele lugar charmoso da casa não está uma zona danada, se depois da foto com a paisagem linda, o fotógrafo(a) e o(a) modelo não quebraram o pau. Então, regue a sua grama, bote adubo, não pise nela, mas, em hipótese alguma, olhe a do vizinho. Afinal, não sabemos, mas pode ser artificial.
Filme dublado
Você sabe que podia assistir legendado, mas dublado é tão mais fácil… Isto é uma metáfora para aqueles momentos da vida em que, lá no fundo, sabemos que estamos sendo preguiçosos. De preguiçoso pra vagabundo é um tropeço. Mas, pra mim, o mais intrigante a respeito desses sentimentos é quando eles vêm no momento em que estamos fazendo algo produtivo. Por exemplo: escrever um livro é uma atividade ingrata. Leva um tempão (eu levei um ano e olha que isso é considerado rápido) e não ganhamos nada enquanto o escrevemos. Além do mais, ficamos o tempo todo pensando: “Será que está bom? Será que alguém vai ler isso aqui? Será que estou perdendo o meu tempo?”. Então vem a mente aquela safada e sopra no nosso ouvido: “Você podia estar fazendo alguma coisa útil, né?”. O fato é que se não houvesse “desocupados” como esses no mundo não existiria o Kindle nem livrarias por aí.
Independentemente do futuro, do passado, da pausa ou da preguiça, o que temos mesmo é o hoje. E, viver nele, é a única — e melhor — opção. O importante mesmo é não esquecer de apertar o play.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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