Tem algum deprimido aí? A dificuldade de encontrar alguém como eu

Enquanto bipolaridade, depressão, ansiedade e outras questões mentais forem sinônimos de loucura, continuaremos no armário

  • Por Bia Garbato
  • 10/05/2023 09h00
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Pessoa sentada em frente a uma parede de touca com a cabeça entre as mãos. Não dá para ver o rosto. Está sentada em folhas secas marrons De acordo com a OMS, a depressão situa-se em 4º lugar entre as principais causas de ônus, respondendo por 4,4% dos ônus acarretados por todas as doenças durante a vida

Por muitos anos, eu não tive ninguém com quem conversar. Quantas vezes escrevi na internet: tem algum deprimido aí? A resposta era, inevitavelmente: “sua pesquisa não encontrou nenhum documento”. Não havia quem dissesse se o que eu estava sentindo existia, que eu não era a única e, principalmente, que eu não era louca. Naquela época, nem a minha terapeuta aceitava que eu tinha uma doença. Foram muitas sessões vasculhando cada recôncavo da minha história, à procura da provável causa de eu estar afundada numa cama sem tomar banho.

Olha que eu procurei. Na minha “Grande Depressão de 2009”, comecei a buscar, determinadamente, alguém que estivesse passando – ou tivesse passado – pelas mesmas coisas. Acionei contatos como se estivesse procurando emprego. Até que enfim, achei! Uma mulher, como eu. Liguei. Ela me disse que teve uma depressão (oba!), que tinha sido muito difícil, que tinha faltado dois dias no trabalho (opa) e que o marido foi muito legal e ficou responsável pela rotina das crianças (levar na escola, jantar e por pra mimir). Ela tomou um antidepressivo (uhu! Mais alguém!) por seis meses, mas foi tirando aos poucos. Já não tomava mais nada e estava ótima. Senti que ela não tinha aberto o jogo totalmente. Confesso: fiquei feliz por ela e decepcionada por mim.

Por aqui, era bem diferente. Eu tinha pedido demissão porque não entendia mais o que minha chefe falava. Meu marido me dava os antidepressivos (plural), porque era muito cansativo tirar da cartela. Meu filho? Estava com a minha sogra. Hoje não é mais assim: muita gente faz terapia. Frontal e Rivotril entraram no mapa. Tem alguns livros, filmes e séries falando de questões mentais, além de perfis no Instagram. Eventualmente, sai uma matéria sobre o assunto. Mais ainda é pouco. Ter informações médicas é muito bom, mas ouvir outros pacientes seria ótimo. Enquanto bipolaridade, depressão, ansiedade e outras questões mentais forem sinônimos de loucura, continuaremos no armário. Hoje eu sei que o que temos existe. Não somos os únicos, nem estamos sozinhos. Existe tratamento e é possível viver bem. E, principalmente, não somos loucos. Anota aí.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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