Arthur Lira já não quer a reforma ministerial? Há alguns importantes motivos para isso

O presidente da Câmara achava que poderia virar governo e fazer seu sucessor — com Elmar Nascimento (União Brasil) –, mas essa percepção mudou radicalmente na semana passada, quando seu rival Renan Calheiros anunciou uma aliança com Gilberto Kassab para controlar o Congresso, sonho de Lula

  • Por Claudio Dantas
  • 22/08/2023 11h48 - Atualizado em 22/08/2023 12h18
TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Arthur Lira e Fernando Haddad Arthur Lira e Fernando Haddad em evento em Brasília

Uma frase solta por Arthur Lira ontem em evento do site Poder360 pegou boa parte do mundo político de surpresa. “No meu ponto de vista, todos os partidos deveriam esperar a reforma ministerial que vai acontecer no final do 1º ano. É a maneira mais justa”, disse. A sinalização é clara. Para o presidente da Câmara, a reforma ministerial já não interessa como antes e a explicação para isso pode estar em movimentações recentes do próprio governo e de aliados, numa estratégia montada para Lula tomar o controle total do Congresso — que hoje tem a seu dispor uma enorme fatia do orçamento. Se conseguir, o petista terá poder absoluto a partir da segunda metade do mandato e não terá qualquer dificuldade para impor sua agenda radicalizada de forma plena.

Como expliquei ontem, a Câmara sob comando de Lira tem conseguido — ao custo de alguns bilhões — conter o ímpeto hegemônico do atual mandato de Lula, suavizando muitas das propostas originadas no Executivo, como o arcabouço fiscal, que, não fossem os deputados de oposição e centro, teria virado um cheque em branco para o governo expandir seus gastos sem qualquer controle. Manter essa resistência é fundamental para evitar que a balança de poder penda definitivamente para a extrema esquerda. Lembro que o petista venceu com margem mínima, perdendo em quatro das cinco regiões do país, mas com a promessa de governar para todos numa ‘frente ampla pela democracia’, que se revelou apenas revanchista.

Lira achava que poderia virar governo e fazer seu sucessor — com Elmar Nascimento (União Brasil) –, mas essa percepção mudou radicalmente na semana passada, quando seu rival Renan Calheiros anunciou uma aliança com Gilberto Kassab. Com o encerramento do mandato de Rodrigo Pacheco, Kassab teria o apoio do MDB para eleger o líder do PSD Antonio Brito à Presidência da Câmara, retribuindo com votos para ajudar Renan a retornar à Presidência do Senado. A dobradinha entre MDB e PSD tem potencial, mas também fragilidades, pois significa uma rasteira em Davi Alcolumbre e Marcos Pereira, até então entusiastas de uma aliança com Lula.

Para Lira, não fazer o sucessor e ainda ver Renan saindo por cima é o pior dos mundos. No fundo, a reforma ministerial oferecida pelo petista — que considerou abrir mão até do Bolsa Família — nada mais é que uma armadilha para cooptar os apoios que lhe faltam na disputa pelo comando do Congresso, uma eleição que já se avizinha como a mais disputada da história.

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