Como empobrecer uma nação

Estados Unidos e China, as duas maiores economias do mundo, apostam na classe média para sustentar seu crescimento; no Brasil, governo e Congresso parecem querer exterminá-la

  • Por Claudio Dantas
  • 06/07/2023 17h01 - Atualizado em 06/07/2023 17h09
DANIEL RAMALHO / AFP crianças com fome Em 2022, extrema pobreza atingia quase 11 milhões de jovens no Brasil

Estados Unidos e China, as duas maiores economias do mundo, apostam na classe média para sustentar seu crescimento. Ainda que cada país tenha critérios próprios, ancorados na renda per capita, é senso comum que manter uma grande parcela da sociedade com rendimentos médios garante uma arrecadação robusta, mobilidade social e fluxo intenso de consumo de bens e serviços. Na prática, é a classe média que faz a roda da economia girar, inclusive gerando empregos. Também é senso comum que a redução da classe média gera mais miséria e não mais riqueza. Claro, os ricos acabam ficando mais ricos, mas o grupo de pobres e miseráveis cresce exponencialmente. Olhem para a Venezuela!

Como expliquei mais cedo, a reforma tributária que será votada hoje tende a sobrecarregar consumo e serviços, sustentados majoritariamente pela classe média. Responsável por 70% do PIB, o setor de serviços é hoje o que mais emprega, mas governo e Congresso não veem problema em aumentar os encargos dessas atividades, sem qualquer contrapartida de alívio na folha de pagamentos. Enquanto pedem a redução da taxa Selic, apostam na oneração do consumo, o que tente a criar uma onda inflacionária. Ou não sabem o que estão fazendo ou esperam que o impacto negativo da reforma só seja sentido depois de 2027 ou 2028, provavelmente num quarto mandato de Lula.

Aprovar uma reforma com a ideia da simplificação — tão necessária — pode até melhorar o ânimo geral do mercado, empolgar a indústria e atrair investimentos num primeiro momento. Mas a médio e longo prazos, virá o efeito rebote. Não adiante produzir algo para quem não pode consumir, pois perdeu o emprego ou viu a inflação comer seu poder aquisitivo. Para esses, a tendência é descer alguns degraus na escada social. Claro que para alguns escolhidos — industriais e financistas –, sempre haverá o ‘cliente Estado’ para encher-lhes os bolsos, ou melhor, as contas nas offshores. Para estes, o Brasil não é pátria, mas entreposto.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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