A engenharia social pode influenciar o voto de uma pessoa?

Para aplicar técnica em hackerismo, manipulador se certifica do grupo social do qual a pessoa pertence e quais são suas predisposições

  • Por Davis Alves
  • 30/10/2022 08h00 - Atualizado em 30/10/2022 08h40
Fernando Frazão/Agência Brasil Imagem de urna eletrônica Eleitor deve ficar atento para não ser enganado

Engenharia social é a técnica em hackerismo utilizada para se aproveitar da ingenuidade humana, induzindo, de modo consciente ou inconsciente, a vítima ao erro (human hacking) ou a concordar com o seu ponto de vista. Em tempos de eleição, muitas pessoas tentam convencer as outras que o seu candidato é melhor. Entretanto, existem diversos fatores que influenciam para uma pessoa votar em alguém. Quais fatores psicanalíticos usados na engenharia social, que podem influenciar no voto de uma pessoa?

  1. Deve-se conhecer o grupo social que um indivíduo se encontra. Exemplo: Igrejas, associações, sindicatos etc. Isso contribui para falar na linguagem do eleitor e gerar “identificação”, tornando mais fácil o processo de convencimento, pois, no geral, as pessoas votam conforme os interesses dos grupos.
  2. Sabe-se que os meios de comunicação possuem um efeito limitado; as pessoas não são facilmente manipuláveis pelos meios de comunicação possuem histórico, crenças, paradigmas e influência dos grupos sociais ou familiares.
  3. Duas coisas acontecem durante a engenharia social de persuasão (desde campanhas que exigem persuasão, como no e-mail falso que te pede para clicar em algo): o efeito das “predisposições”, coisas com as quais o indivíduo está mais suscetível a crer, além do conteúdo informativo que será bombardeado pela mídia; como também o efeito da “ação das predisposições”, sendo esse a saída como ação, indo, por exemplo, desde a divulgação de suas convicções até a concretização em si do voto.
  4. Para que um indivíduo vote em alguém ou clique em algo, haverá um “diálogo” social, para saber se não será punido ou aceito pelo grupo, como também um “diálogo” psicológico e interno, verificando se ele estará bem consigo mesmo após aquela ação. Uma vez manipulados esses dois influenciadores, as chances de realizar a ação são extremamente altas. Esses dois aspectos são conhecidos como a sociologia do voto e a psicologia do voto — que também são válidos para ações no mundo digital.
  5. Nas ações de voto ou “cliques”, também o eleitor ou usuário avaliará (mesmo que inconsciente) o governo anterior, ou o que aconteceu com as últimas pessoas que foram por esse caminho.
  6. Os eleitores ou usuários só podem tomar decisões responsáveis de houver estímulos externos, ou seja, influenciados diariamente. 
  7. Eleitores pensam mais no coletivo, na situação do país, do que na sua situação pessoal. A avaliação da economia do país torna-se mais importante do que a avaliação da sua própria situação econômica.
  8. Os efeitos de campanha são mais aplicados mais para convencimento dos eleitores que não conseguem fazer a análise de como foi a gestão daquele candidato ou partido em mandatos anteriores. Logo, eleitores mais jovens, estrangeiros, novos no país ou na empresa, por falta de histórico, podem ser mais vulneráveis as campanhas políticas, ou cair nos dizeres dos e-mails maliciosos.
  9. Do ponto de vista do indivíduo, é irracional ser bem-informado, pois, para isso, deverá parar o que estiver fazendo e se dedicar ao entendimento do cenário sobre o candidato, propostas, consequências etc. Porém, se uma pessoa depende do trabalho. É ilógico parar de trabalhar para se dedicar ao estudo e ser bem-informado. Ou seja, ser bem informado custa caro e demanda tempo.
  10. Os “atalhos informacionais” são critérios que eleitores com pouco tempo dedicado para serem bem-informados vão tomar como verdade e dar preferência ao candidato. Exemplo: se sou cristão, darei preferência para candidatos também cristãos, acreditando que suas ações são as mesmas que busco, mesmo sem avaliar o plano de governo, ou como foi a gestão passada desse candidato ou partido. Outro exemplo de “atalhos informacionais” é o eleitor votar no candidato indicado pelo seu político que possui confiança, ou que votou anteriormente. Assim toma-se uma decisão mais racional possível, despendendo o menor tempo possível.

Efeito manada, espiral de silêncio e o poder do mais fraco

Outro fator psicanalítico que ocorre na engenharia social de persuasão para o eleitor votar em alguém, ou o usuário a clicar em algo, é o conhecido como “efeito manada”, que consiste em seguir o mesmo caminho da maioria, mesmo sem avaliar se estão certos ou errados. Por outro lado, também existe o chamado “efeito da espiral do silêncio”. Neste modelo de opinião pública, a ideia central é que os indivíduos omitem sua opinião quando conflitantes com a opinião dominante devido ao medo do isolamento, da crítica ou da zombaria. Por fim, ainda existe o “efeito underdog”, no qual as pessoas tendem a ter dó sempre do mais fraco, passando a defendê-lo quando for visto como oprimido. Pense: em um jogo entre Espanha e Camarões, para quem você torce? Em “La Casa de Papel”, você ficou do lado de quem? Do governo da Espanha ou do time do Professor? No clássico Tom & Jerry, para quem você torcia? Esse é o efeito “underdog” — o poder do mais fraco!

Esse é um assunto complexo, tanto no conhecimento popular como as academias. Entretanto, o objetivo desses dez pontos listados servem para despertar os eleitores ou usuários sobre as técnicas psicanalíticas de engenharia social utilizadas para persuasão ao voto ou cliques no mundo cibernético. Existem outros fatores que também são utilizados durante as eleições. Recomendo os livros “The People Choice” (Livro), “Psicologia das Massas e Análise do Ego”, “O Eleitor Responsável” e “Teoria Econômica da Democracia”.

Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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