Até mesmo Tiradentes e Jesus Cristo sofreram com a falta de privacidade

Revelações sobre a intimidade sempre foram um grande risco na história humana

  • Por Davis Alves
  • 23/04/2023 08h00
Harryarts/Freepik Desenho de jesus de branco carregando a cruz nas costas Jesus sabia que sua privacidade seria ameaçada e que seria perseguido, afetando assim sua integridade física

No mês de abril, o Brasil relembrou a morte de Jesus Cristo, na Páscoa, e a morte de Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, no dia 21. Mas o que há de comum entre esses e outros grandes nomes da história do Brasil e do mundo? A falta de privacidade. Saiba então como revelações sobre a intimidade sempre foram um grande risco na história humana.

A falta de privacidade na vida do Tiradentes

Tiradentes, o líder da Inconfidência Mineira, viveu no século XVIII, em uma época em que a privacidade era muito diferente do que é hoje. Naquela época, a noção de privacidade não era tão difundida e as pessoas não tinham os mesmos direitos que temos atualmente. No entanto, ele enfrentou muitos problemas em relação à sua privacidade. Foi vigiado de perto pelas autoridades portuguesas, que estavam preocupadas com sua participação na conspiração contra a coroa. Tiradentes foi preso e interrogado várias vezes, e as autoridades revistaram sua casa em busca de provas incriminatórias.

Além disso, quando ele foi preso, sua correspondência foi aberta e lida pelas autoridades, o que violou sua privacidade pessoal. Tiradentes também foi submetido a interrogatórios violentos e tortura, que são violações graves de seus direitos humanos e de sua privacidade. Apesar das diferenças culturais e históricas em relação, ele sofreu com a falta de privacidade em sua época, especialmente devido à repressão política que enfrentou.

A falta de privacidade na vida de Jesus Cristo

Como figura religiosa e histórica, Jesus viveu em uma época muito diferente em termos de privacidade e tecnologia de vigilância. No entanto, é possível argumentar que ele sofreu com a falta de privacidade em alguns momentos de sua vida, especialmente durante seu julgamento e crucificação. Durante seu julgamento, Jesus foi interrogado por autoridades religiosas e políticas que procuravam incriminá-lo por suas crenças e ensinamentos. Foi acusado de blasfêmia e enfrentou várias acusações infundadas. Seus interrogadores provavelmente buscavam obter informações privadas sobre sua vida e seus seguidores.

Segundo a Bíblia, em Mateus 26:47-50, é relatado que Judas, um dos discípulos de Jesus, traiu-o ao levá-lo até as autoridades religiosas e políticas para ser julgado e condenado à morte. Esse evento ocorreu em um jardim, durante a noite, quando Jesus e seus discípulos estavam em um momento de oração e reflexão. O fato de que Judas sabia o momento exato em que Cristo estaria no jardim indica que ele provavelmente tinha informações privadas sobre os planos do filho de Deus e de seus discípulos.

  • Espionagem: em Marcos 3:1-6, é relatado que Jesus entrou em uma sinagoga em um dia de sábado e viu um homem com uma mão atrofiada. Algumas pessoas estavam observando Jesus para ver se ele curaria o homem, para poder acusá-lo de violar as leis do sábado. Esse evento mostra como a privacidade de Jesus pode ser invadida por aqueles que desejam prejudicá-lo.
  • Perseguição : Em João 7:1-13, é relatado que Jesus decidiu não ir a uma festa judaica em Jerusalém porque sabia que havia pessoas que queriam matá-lo. No entanto, seus irmãos decidiram ir à festa e pediram a Jesus que se juntasse a eles. Ele recusou, porque sabia que sua privacidade seria ameaçada e que seria perseguido, afetando assim sua integridade física.

Mesmo sendo vítima do não-respeito à sua privacidade, Jesus ainda disciplinou sobre a importância do respeito ao próximo:

  • “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Marcos 12:31)
  • “Portanto, tudo o que vocês querem que os outros lhes façam, façam também a eles” (Mateus 7:12)
  • “Não façam aos outros o que não querem que eles lhes façam” (Mateus 7:12)

Mesmo com esses ensinamentos, quando Jesus foi crucificado, acabou exposto publicamente em uma das formas mais humilhantes e desumanas de execução da época. Seu sofrimento e morte foram observados por uma multidão, incluindo seus inimigos, que se regozijavam com sua agonia. Vale destacar que a exposição de pensamentos, filosofias ou à vida íntima de uma pessoa fere o Art. 2, da atual Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), no que diz respeito à liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião, além da violabilidade da intimidade, da honra e da imagem. Tudo o que sucedeu com Jesus Cristo e o levou à crucificação.

“A falta de privacidade é mais do que suficiente para levar pessoas à morte! Exija a proteção dos seus dados pessoais”

A falta ou exploração da privacidade na atualidade

Muitas outras pessoas notórias no mundo contemporâneo já sofreram ou exploraram a falta de privacidade e proteção de dados ao longo da história:

  • Princesa Diana: a princesa do povo britânico, Diana Spencer, foi perseguida pela imprensa durante grande parte de sua vida. Ela frequentemente tinha sua privacidade invadida por paparazzi e repórteres que buscavam notícias sensacionalistas sobre sua vida pessoal.
  • Kim Kardashian: a socialite e empresária americana frequentemente tem sua privacidade invadida pela imprensa e paparazzi. Ela também foi vítima de um assalto à mão armada em Paris, em 2016. Possivelmente devido ao roubo de seu celular, diversos dados sobre sua vida pessoal vazaram, o que levou a preocupações com sua segurança e privacidade.
  • Mark Zuckerberg: o fundador do Facebook, apesar de ter se tornado uma das pessoas mais ricas e poderosas do mundo, enfrentou várias polêmicas relacionadas à privacidade dos usuários de sua plataforma. A empresa foi criticada por violar a privacidade de seus usuários através do compartilhamento de dados pessoais com anunciantes, colocando em questão o respeito à privacidade.
  • Edward Snowden: o ex-analista de segurança nacional dos Estados Unidos ganhou notoriedade mundial após vazar informações sobre a vigilância em massa realizada pelo governo dos EUA. Desde então, ele viveu no exílio e enfrentou processos criminais em seu país de origem.
  • Julian Assange: o fundador do WikiLeaks também sofreu e explorou a falta de privacidade após publicar uma série de documentos confidenciais de governos ao redor do mundo. Ele passou anos na embaixada do Equador em Londres antes de ser preso pelas autoridades britânicas. Até hoje tem sua vida monitorada por grandes autoridades.

“É perigoso estar certo quando governos estão errados; proteja os seus pensamentos”

Por tudo isso, devemos exigir das empresas e órgãos públicos a aplicação e adoção da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que obriga as instituições a protegerem os dados pessoais de seus clientes, funcionários e fornecedores, fazendo com que, assim, todos tenham maior privacidade.

Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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