País se anima com a melhora das expectativas mesmo em meio a incertezas

Pandemia tem um custo pesado, mas indicadores de atividade contrariam o pessimismo e fazem a projeção do PIB chegar a até 5%, de acordo com alguns analistas

  • Por Denise Campos de Toledo
  • 31/05/2021 15h44
PublicDomainPictures/Pixabay Uma em cima da outra, notas de cinquenta reais colocadas em cima de uma mesa bege formam um leque Cenário econômico brasileiro é de otimismo, com perspectiva de retomada de alguns investimentos

As projeções para a economia brasileira têm incorporado uma dose maior de otimismo, mas ainda divididas entre os riscos relacionados à pandemia, os efeitos sobre vários indicadores e as perspectivas mais favoráveis de expansão com melhoria do cenário, inclusive, para as contas públicas. A pandemia teve um custo pesado, como aumento do desemprego, especialmente na informalidade, com recordes da subutilização da mão de obra e da desigualdade social, que leva à insegurança alimentar. Sem esquecer das empresas que ficaram no caminho, tendo de fechar as portas após meses de funcionamento incerto e queda de receita. Por outro lado, paralelamente a essas questões, os indicadores de atividade têm surpreendido de forma positiva, contrariando o pessimismo relacionado justamente à crise do coronavírus. Até houve uma freada no ritmo de retomada, em março e abril, só que com muito menos intensidade do que o previsto. A partir dessa constatação, o mercado não parou mais de elevar as projeções para o PIB deste ano. Na média, de acordo com o relatório Focus do Banco Central, a projeção está em 3,96%. Mas analistas já falam em 4%, até 5%, antecipando que a revisão, para cima, deve prosseguir. Independentemente de uma possível terceira onda da Covid-19, trabalha-se com um segundo semestre melhor, com avanço da vacinação e queda da contaminação, dando maior fôlego à atividade.

Essa resistência da economia já se confirma, também, na evolução das finanças públicas. A arrecadação cresceu, bem mais do que o previsto, nos primeiros quatro meses do ano, o que, junto com a contenção de gastos pelo atraso na aprovação do Orçamento, assegurou um superávit de R$ 24,255 bilhões no setor público em abril e de R$ 75,841 bilhões no ano, com a dívida pública caindo para 86,7% do PIB. Com isso, é possível que o rombo das contas fique bem abaixo da meta no fechamento de 2021. Apesar de a situação não confortável das finanças, com orçamento apertado, contenção de gastos em várias áreas, dribles no teto para assegurar as despesas com saúde, a evolução menos ruim do que se esperava reforça essa onda de maior otimismo. É ver agora como será a evolução da conjuntura, num sentido mais amplo.

A inflação é um ponto que preocupa, pela persistência dos aumentos no atacado, puxados pela alta das commodities no exterior, já com impacto no varejo. Movimento que pode ganhar força com o aquecimento da demanda, caso se confirmem as projeções de crescimento maior. Além disso, agora também está no radar a crise hídrica que, fora o custo da energia, com a bandeira vermelha no nível 2 e o peso na inflação, tem potencial para influenciar a atividade, com possíveis problemas de fornecimento, até racionamento ou apagões. A projeção de inflação para o ano já subiu para 5,31%, variação do IPCA, puxando também a de alta da Selic, que pode chegar a 5,75%, conforme o Focus do BC. Paralelamente, ainda tem a situação, em aberto, da própria pandemia e do atraso na vacinação.

Mas, reforçando o otimismo, ainda tem o saldo comercial, o ganho do agronegócio com essa alta de preços, o desempenho mais favorável de vários setores — mais bem adaptados às atuais condições —, a perspectiva de alguma retomada de investimentos, no embalo de uma maior confiança que também vem do exterior. Enfim, a pandemia, do ponto de vista econômico, ainda atrapalha muito e pode dificultar a melhoria de alguns indicadores, como emprego e renda, mas, no geral, até tem surpreendido positivamente. É esperar que haja consolidação desse cenário mais benigno, inclusive com avanço da agenda econômica no Congresso, de forma mais produtiva do que tem sido sinalizado pela política do “possível”. Reformas mais amenas e privatizações com erros de origem podem até produzir alguns resultados, mas sem o alcance que deveriam ter.

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