Conheça uvas pouco conhecidas que dão excelentes vinhos
Portugal e Itália são férteis em tintos de castas regionais ou autóctones; já a região de Jura, na França, oferece uma bebida de extrema delicadeza
Os vinhos tintos mais conhecidos e consumidos, em sua grande maioria, são ou contém as castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Sangiovese e/ou Malbec. Entretanto, há muitas outras castas tintas relevantes e que nos dão excelentes vinhos, estes menos conhecidos, é claro. Portugal e Itália são férteis em vinhos tintos de castas regionais ou autóctones. Começo destacando duas lusitanas, fáceis de serem encontradas no Brasil, a “Castelão” e a “Trincadeira”. A primeira é nativa das regiões costeiras do sul de Portugal e muito utilizada pelos produtores locais para a elaboração de varietais de personalidade. No entanto, encontramos muitos vinhos que levam esta casta em cortes. Seus vinhos têm toques florais e apresentam, via de regra, equilíbrio perfeito entre taninos, acidez e açúcar. São vinhos bem gastronômicos e sugiro dois fáceis de encontrar, Monte da Casta — Lagoava de Cima — que a leva no corte, e o Vinho Periquita, de José Maria da Fonseca, que o produz desde 1846.
Já a “Trincadeira” é uma uva portuguesa que está entre as mais difundidas por lá, adaptando-se especialmente bem em regiões quentes, secas e com muito sol, como o Alentejo, onde é muito presente, oferecendo vinhos potentes e, normalmente, bem acessíveis. É casta de fácil manejo e, também, ainda que não ofereça grande complexidade, fácil de beber. Dela, indico dois vinhos: o Vidigueira Trincadeira Tinto e o Esporão Trincadeira. O primeiro, mais em conta e simples; e o segundo, com alguma complexidade e que se presta a guarda.
Indo para a Itália, destaco a uva Bovale, que é nativa da Sardenha e nos entrega um vinho riquíssimo em flavonoides. Muitos dizem que é a casta que mais benefícios traz a saúde do coração. Seus vinhos envelhecem bem, são gastronômicos e têm uma ótima estrutura. Dois que sugiro são o Essentija Di Pala e o Cantina del Bovale Arcuentu, não tão fáceis de encontrar, mas que compensam a busca, pois são especiais. Do sul da Itália, mas especificamente da Sicília, ouso afirmar que os melhores tintos são ou levam a uva Nerello Mascalese (ou simplesmente Nerello). São vinhos de uma complexidade, equilíbrio e potencial gastronômico incríveis. É uma uva tinta, autóctone, das encostas do Monte Etna, na região metropolitana de Catania. Em dialeto siciliano é chamada de “Niureddu Mascalisi”. Apesar de seus vinhos apresentarem um grau elevado de álcool, em torno de 14% de AbV, têm aromas delicados e, mesmo potentes, delicadeza ímpar no paladar. São vinhos que vão bem desde o pão até a massa com molhos gordos (como de um ragu de carneiro). Sugiro que provem Nicosia Nerello Mascalese e o Quattro Borghi Nerello Mascalese I.G.P. Terre Siciliane, ambos fáceis de encontrar e a custos razoáveis.
Para fechar o tema, ressaltando que haveria muito mais a focar, destaco uma casta francesa, exatamente porque lá é o berço das uvas viníferas mais conhecidas no mundo. A uva Trousseau é uma variedade vinífera regional do Jura, na França. Alguns afirmam que sua origem, na verdade, está nos Pirineus e que foi levada, na Idade Média, para o Jura. Ocorre que, contrapondo, é possível encontrar muitas parreiras desta variedade em campos do Jura de “modo solto”, o que induz a afirmação de tratar-se de uma casta autóctone do Jura. É uma uva robusta, mas que nos dá vinhos de extrema delicadeza no palato. Ouso afirmar que seus tintos podem acompanhar a mais delicada das culinárias japonesas (sim, há mais de uma) sem “brigar” com seus sabores. Seus vinhos apresentam boa acidez e, por consequência, são gastronômicos. Têm algum potencial de envelhecimento, porém, mais novos, oferecem um frescor muito prazeroso. Sugiro provarem o Trousseau Singulier da Domaine Tissot e o J. Arnoux Trousseau Exception, ambos encontrados por aqui. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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