Vinho envelhecido não é, necessariamente, sinônimo de vinho bom
Há vinhos que são postos no mercado ‘prontos para o consumo’ e outros que necessitam de alguma guarda para atingirem seu ápice
Aqueles que acompanham o mercado de vinhos, devem ter reparado que, de um mesmo, vinho, alguns quanto mais velhos, mais caros e outros, com safras antigas, são postos a preços promocionais. Tal diferenciação se deve ao que acontece com os vinhos quando envelhecem. De plano, é importante ressaltar que vinho velho não é, necessariamente, sinônimo de vinho bom, sendo que muitas variáveis atuam sobre um vinho em seu processo de envelhecimento. Há vinhos que são postos no mercado “prontos para o consumo” e outros que necessitam de alguma guarda para atingirem seu ápice. O primeiro fator que tem que ser levado em conta, para saber se o vinho é de guarda ou não, é a proposta do produtor. Por exemplo um Beaujolais Nouveau (aquele vinho tinto de uva Gamay do sul da Borgonha, cujo lançamento, ano a ano, é precedido de uma grande campanha de marketing) não é um vinho de guarda, com certeza. Já um Barolo ou um Brunello di Montalcino, são vinhos concebidos para serem guardados e merecem o tempo de envelhecimento, normalmente de dez a quinze anos da partir da safra declarada no rótulo.
Olhar a ficha técnica do vinho, quase sempre disponível em sites, é um bom caminho. Normalmente os vinhos muito madeirados – que estagiam em barricas de carvalho – são vinhos que evoluem com o envelhecimento. E esta regra não vale só para os tintos. Brancos barricados costumam evoluir bem com a guarda ou se comprados os de safras mais antigas. Costuma-se falar que vinhos de guarda são mais estruturados, e é verdade. Os vinhos simples, ditos “de entrada” das vinícolas, são concebidos para serem consumidos logo. Normalmente são vinhos que têm um frescor e acidez acentuados, não são daqueles vinhos que “enchem a boca”, mas sim que a refrescam.
Há alguns vinhos que, mesmo sendo de guarda, quando atingem um certo tempo de envelhecimento, estabilizam. São longevos, mas não melhoram, sendo o caso típico de um Amarone della Valpolicella. Normalmente, quando de um bom produtor – Quintarelli, Speri, Dal Forno, por exemplo – estes vinhos são verdadeiros “Highlanders”, em metáfora ao famoso personagem de ficção. Outros vinhos, mesmo de guarda, têm “vida útil”, ou seja, quando atingem seu ápice tendem ao declínio que pode comprometer suas características e, na maioria das vezes, seu potencial gastronômico. Aí a sensibilidade do bebedor pesa bastante e a qualidade de como foi guardado também. O Barbarsco, primo mais delicado do Barolo, é um vinho que, ainda que longevo, tem seu ponto máximo, de forma geral, em quinze, vinte anos, quando de um bom produtor e se bem barricado. Raros são aqueles que chegam aos trinta anos com suas características intactas e, claro, esses raros, são especiais por definição.
E, importante destacar, vinhos de guarda não são encontrados, somente, no Velho Mundo. A Califórnia produz vinhos maravilhosos e de guarda, veja-se o Opus One, Caymus, Domminus e por aí afora. A Argentina nos surpreende com muitos rótulos (Montchenot-Bodegas Lopez, Rutini, Zuccardi, Catena, dentre outros), entretanto sempre são os “Gran Reserva” ou similares. Já o vinho chileno – aí refiro-me aos vinhos chilenos modernos – costumam não evoluir com a guarda; são vinhos que não melhoram muito adegados, até porque têm muita fruta extraída, álcool e madeira em excesso; tendências que os produtores chilenos insistem em manter . No Brasil, por seu turno, os vinhateiros gozam de uma criatividade incrível, e têm ofertado vinhos de entrada, prontos para o consumo, e excelentes vinhos de guarda, que tendem a melhorar muito com o repouso em adegas. Cito, por exemplo, o Valduga Gran Raízes Corte, o Viapiana Altos Montes Cabernet Franc, o Miolo Cuvée Giuseppe Merlot/Cabernet e o Primiero da Villaggio Bassetti.
Finalizando, visitando os brancos, destaco os Rieslings Alsacianos, os Chardonnays Gran Crus da Borgonha e muitos brancos portugueses (Palácio de Buçaco, Quinta dos Carvalhais Encruzado e o Alvarinho Palácio da Brejoeira, por exemplo), como bons exemplos de brancos que envelhecem muito bem, alguns por décadas a fio. Entretanto, o que manda é o gosto, e este deve ser supremo diante de qualquer regra. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.