Pomerol e Lalande de Pomerol, tidas como regiões ‘menores’, produzem vinhos elegantes e acessíveis; conheça
As 154 propriedades vinícolas de Lalande de Pomerol produzem vinhos tintos expressivos, que oferecem um buquê aromático rico e poderoso de frutas vermelhas e negras
De lá vem o “Pétrus”, que não é de “Château” e nem está entre os “Premiers Crus Classés” de Bordeaux, mas é maravilhoso, e o é com a humildade própria de quem é o melhor. De fato, o Petrus se tornou o melhor, o mais mítico vinho do mundo, sem fazer força para isso. Ele o é porque é, ponto final. E muito dessa soberania se deve ao terroir de Pomerol, região de Bordeaux onde é produzido. As outras comunas de Bordeaux sempre trataram Pomerol e Lalande de Pomerol como primos pobres, regiões menores, sem prestígio. A ‘Appellation d’Origine Contrôlée Pomerol’ é reservada exclusivamente para vinhos colhidos na comuna de Pomerol e uma parte muito pequena da comuna de Libourne prevista pelo julgamento do Tribunal Civil de Bordeaux de 29 de dezembro de 1928. As origens destes vinhedos são muito antigas, pois em uma obra literária e histórica relata-se que o planalto de Pomerol era atravessado por duas antigas estradas, uma das quais era frequentada pelo poeta-cônsul Ausone, que a usava para ir do porto de Condat, perto de Libourne, à villa em Lucaniac. Ocorre que os vinhedos foram mais ou menos devastados durante a ocupação inglesa na Guerra dos Cem Anos, reconstituída no século XVI e depois novamente danificada durante as guerras religiosas.
Foi durante o século XVIII que as vinhas retomaram o seu desenvolvimento. A área total dos vinhedos de lá alça os 770 hectares e o limite de rendimento autorizado é inferior ao de outros Bordeaux crus: 6000 litros por hectare. Sempre tentaram, as demais comunas, subjugar Pomerol. Na verdade, e ao contrário das outras regiões de Bordeaux, não existe uma classificação oficial para os vinhos de Pomerol. Lá, como explicou Manuel Beato certa vez, predomina o solo argiloso, que se combina com o cascalho nas áreas mais altas, justamente onde se produzem seus grandes vinhos. O efeito da argila sobre o Merlot é exatamente o grande contribuinte para a elaboração de vinhos mais potentes da região, cujas características permitem que sejam apreciados mais cedo do que seus vizinhos da margem esquerda com base de Cabernet Sauvignon. Ressalto que a Merlot é a casta dominante da região.
Por seu turno, a lindeira Lalande de Pomerol é uma denominação de origem controlada da região de Bordeaux, localizada a leste de Bordeaux. O subafluente do Dordogne, o Barbanne, faz fronteira com a famosa e prestigiada denominação Pomerol. Estende-se por 1150 hectares e produz exclusivamente vinhos tintos. Existem vestígios de viticultura no território de Lalande de Pomerol desde a época galo-romana, mas foi apenas na Idade Média que a viticultura realmente se desenvolveu. São as ordens religiosas e militares que vão estabelecer mais amplamente a vinha em Lalande de Pomerol, que adquiriu a Denominação de Origem Controlada em 1936. Os solos, compostos por planaltos calcários ricos em minerais e sedimentos, são excepcionais para a cultura da vinha. As castas mais adequadas a este terroir são Merlot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon. O Merlot reina supremo por lá também, representa 75% da plantação. As 154 propriedades vinícolas de Lalande de Pomerol produzem vinhos tintos muito agradáveis. São expressivos e oferecem um buquê aromático rico e poderoso de frutas vermelhas e negras e especiarias. Na boca, são elegantes, refinados e equilibrados com muita precisão. Doçura e acidez se unem perfeitamente para entregar uma explosão de sabor e aroma.
A verdade é que Pomerol e Lalande de Pomerol, ao meu ver, produzem os vinhos mais elegantes de Bordeaux, via de consequência, os mais elegantes do mundo, quase sempre com potencial de guarda e evolução ímpares. E não é só de vinhos caros que os viticultores de lá vivem. Há muitos, mas muitos mesmo, vinhos acessíveis que vêm destas duas regiões, cuja indicação geográfica sempre consta dos rótulos. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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