Pontuação de vinhos deixa de ter caráter informativo e vira instrumento de manipulação

Maioria das avaliações usa os parâmetros estabelecidos pelo crítico Robert Parker; elas até são úteis, mas apenas como um elemento subjetivo do bebedor, e não um fator definidor de qualidade

  • Por Esper Chacur Filho
  • 09/01/2022 09h00
Esper Chacur Filho/Arquivo Pessoal Garrafas de vinho dispostas lado a lado em uma mesa Vinhos recebem nota em uma escala de 50 a 100 no sistema de avaliação mais comum

Sou cético com a pontuação de vinhos como elemento definidor de qualidade ou potencial de prazer. Na verdade,  pontuar um vinho, da forma como é feita, é dar nota ao prazer, à sensação, não à qualidade do produto. A sistematização das pontuações, notadamente as de Robert Parker, adotada pela maior parte das publicações norte-americanas, é muito útil, mas como um elemento subjetivo do bebedor, e não um fator definidor de qualidade. Pode-se dizer serve como um desempate, mas de maneira alguma se trata de referência indiscutível.

Agora, o meu grande problema com as pontuações é que elas são usadas como instrumento mercadológico e de  indução ao consumo. Perdeu seu caráter informativo e passou a ser um instrumento de manipulação. É bom saber quanto Parker dá para este ou aquele vinho, mas, sobretudo, é interessante verificar qual o gosto dele os critérios que estabelece. Participo de inúmeras degustações onde pontuamos os vinhos que bebemos. Entretanto, usamos a escala numérica, não os critérios subjetivos de de Parker, da revista “Wine Spectator” ou de qualquer outra publicação.

Convido o leitor, dentro de seus critérios, a pontuar os vinhos que bebe. Dê menos de 70 para os ruins; de 71 a 80 para vinhos apenas palatáveis; de 81 a 89 para os bons e ótimos; até 94 para vinhos excelentes; e de 95 até 100 para os excepcionais. Para chegar à pontuação final, atribua 10 pontos para o visual, 40 para os aromas, 40 para o gosto e 10 para a sensação final (retrogosto). Claro que estou simplificando os critérios de avaliação, mas as variáveis, para aqueles que não são profissionais, não são tão significativas. Chegada a “nota final”, relativize, levando em conta o preço (acrescentando ou descontando de 5% a 10% da soma). Faça seu arquivo e o compare com as pontuações da imprensa especializada. Vai reparar que há muita variação, o que deixa exposta a manipulação. A conclusão é óbvia: o melhor vinho é aquele que você gosta. Salut!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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