Por que não criamos vinhos no Brasil ao invés de copiar os que já existem?

O país não precisa de Michel Rolland para aprender a fazer vinhos; vinicultor brasileiro tem de se atentar que a tendência dos grandes centros consumidores é a busca pela bebida natural

  • Por Esper Chacur Filho
  • 13/11/2020 10h00
Pixabay Alguns produtores têm investido e oferecido ao mercado vinhos que refletem terroirs regionais e métodos ancestrais

Tenho notado uma tendência das grandes vinícolas nacionais em colocar no mercado vinhos globalizados em detrimento dos vinhos regionais, com um terroir que tenta se formar, quase num mundo paralelo. Está se perdendo aquele gosto de vinho de colônia, de vinho tradicional e artesanal. Reitero: não sou contra o vinho globalizado, combato, sim, o abandono às tradições em nome do lucro. A Miolo, a Lídio Carraro, e a Aurora, dentre outras, vêm se empenhando em produzir Bordeaux no Brasil. Esta teimosia, a bem da verdade, não só brasileira, vem nos entregando uma bebida que nunca se aproximará de um Bordeaux. Pergunto: por que ao invés de copiar não criamos? Outras vinícolas, que passaram a produzir vinhos globalizados, entretanto, não abandonaram seus DNAs regionais, como é o caso da Valduga, da Salton e da Dal Pizzol, onde, em muitos vinhos pode-se sentir o toque artesanal.

O contraponto existe e é meritório. Produtores como Guaspari, Terrassos, Viapiana, Luiz Porto e gigante Góes, têm investido e oferecido ao mercado (leia-se consumidor) vinhos que refletem terroirs regionais, métodos ancestrais e, muitas vezes, vinhos de castas não tão comuns, mas de expressiva qualidade. Cito alguns: Guaspari Vista da Serra, Quatro Estações – Terrassos, Viapiana Expressões PN, Dom de Minas – Sauvignon Blanc (Luiz Porto), e Philosophia Cabernet Franc (Goés). A verdade é que temos de parar de fazer vinhos para agradar o crítico americano Robert Parker. O Brasil não precisa do Michel Rolland, enólogo de Bordeaux, para aprender a fazer vinhos. Temos uma tradição que está se firmando, mesmo com o advento do vinho globalizado. O vinicultor brasileiro precisa se atentar que a tendência dos grandes centros consumidores de vinho é a busca por uma bebida de terroir, pelo vinho natural. Vinicultores nacionais como o Marco Danielle, o André Larentis e o José Vicari já perceberam isso. Que bom para nós, consumidores.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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