Saiba o que caracteriza os vinhos minerais e os untuosos

Um costuma ser mais ‘fresco’ na boca, com traços de ‘salinidade’ no olfato; o outro entrega algum dulçor no nariz e algo de ‘manteiga’ no paladar

  • Por Esper Chacur Filho
  • 13/08/2023 10h00
  • BlueSky
Arquivo Pessoal/Esper Chacur Filho Garrafa de vinho em mesa de restaurante Brunello de Montalcino é exemplo mais que típico de vinho austero, com características de minerabilidade incríveis

O clima, a geografia e a geologia de onde se encontra o vinhedo, de forma simplista, pode ser chamado de “terroir”, que, em última análise, imprime-se o que se usa chamar de tipicidade do vinho; traduzindo, sua identidade com o lugar de onde vem. Solos calcários e próximos a oceanos, com ventos contínuos, costumam ser o berço de vinhos minerais, enquanto que vinhedos localizados entre montanhas, distantes do mar e com ventos irregulares, podem ser o berço de vinhos mais untuosos. O vinho com caráter mineral costuma ser mais “fresco” na boca e dar traços de alguma “salinidade” no olfato. Os untuosos entregam algum dulçor no nariz e algo de “manteiga” no paladar. Frutas cítricas, digo seus traços, são mais comuns em vinhos minerais e geleias aparecem mais nos vinhos untuosos. Tendo a considerar os vinhos minerais mais gastronômicos que os untuosos, porque eles, perante pratos mais gordurosos, parecem que “quebram” a gordura destes pratos. 

Sarah Jane Evans, articulista da prestigiada revista inglesa “Decanter”, já tratou deste assunto e o fez com especial lucidez. Disse ela que os vinhos sendo descritos como minerais também costumam ser descritos como “elegantes”, “magros”, “puros” e “ácidos”. Têm um gosto que evoca o ato de lamber pedras molhadas e muitas vezes uma textura de giz. Alguns argumentam que o termo só se aplica a vinhos brancos, mas quem quer que tenha experimentado um Priorat do solo de licorella (ardósia) da região vai saber que ele também surge em tintos. Eu mesmo já provei um Brunello de Montalcino, exemplo mais que típico de vinho austero, com características de minerabilidade incríveis.  Outros argumentam que pode-se sentir seu aroma mais do que sua presença no palato.

Imagina-se que os vinhos minerais são superiores aos vinhos do “mercado de massa”, como os do Novo Mundo, frutados. Eles têm uma imagem romântica, que implica que eles são feitos à mão por artesãos e expressam o mistério do solo, tendo o viticultor como mediador mágico. Exemplos típicos são encontrados em Chablis, no Priorat, nos Mencías de Ribeira Sacra e Bierzo, e, claro, nos Sauvignon Blancs do Loire, nos Rieslings do Mosel e Rheingau, na Alemanha, e de Wachau e Kremstal na Áustria. Note-se que estes são exemplos europeus. Este não é um caráter simplesmente europeu, mas parece mais proeminente em lugares onde os vinhos mostram menos frutas maduras e mais acidez. E a acidez, ao meu ver, é preponderante para se classificar um vinho como gastronômico. É possível encontrarmos vinhos doces e minerais; os vinhos da Madeira são exemplos típicos de apresentarem tais características e os, quase extintos, Carcavelos — da região demarcada homônima e que é a mais pequena de Portugal, abrangendo dois conselhos: Oeiras e Cascais, indo desde Paço de Arcos até São João do Estoril, com, aproximadamente, 25 hectares — são minerais por definição. Os vinhos untuosos, por seu turno, costumam ser fechados no olfato (com características doces) e amanteigados na boca, com baixa acidez. Os vinhos mais encorpados com passagem por barrica e certo poder de guarda tendem a desenvolver essa característica, reforçando os traços do terroir.

Ser o vinho untuoso não é um defeito, porém sê-lo sem acidez é. Vinhos untuosos e sem acidez são, via de regra, enjoativos. No nariz, as nuanças de frutas negras (ameixa, amora, cassis, mirtilo), são comuns nos vinhos untuosos — brancos ou tintos — e se não tiver uma boa acidez e uma estrutura de taninos bem presentes, sequer para guarda e evolução se prestarão. Um grande erro dos enólogos, que concebem vinhos “globalizados”, é deixar de lado as características típicas da região de onde vêm e se preocuparem com cortes e barricas que os tornam untuosos, como caminho para o consumo. Sim, eles são aveludados, mas são, via de regra, pesados e enjoativos. Buscar o equilíbrio é o grande desafio. Salut!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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