Vinhos da Bairrada se destacam pela aura de modernidade que cativa os consumidores

Produção de vinhos na região ocorre desde o século X, tomou corpo no século XIX e se mantém firme até os dias de hoje

  • Por Esper Chacur Filho
  • 10/09/2023 12h00
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Arquivo Pessoal/Esper Chacur Filho Foto de garrafa de vinho Portugal apresenta farta diversidade entre as regiões produtoras de vinhos e, ao meu ver, a Bairrada tem a guarda da tipicidade como um de seus valores fundamentais

Portugal, a despeito da sua extensão territorial, apresenta farta diversidade entre as regiões produtoras de vinhos e, ao meu ver, a Bairrada é daqueles que tem a guarda da tipicidade como um de seus valores fundamentais. Como certa vez disse o saudoso Mestre Saul Galvão, a Bairrada é uma terra em transe. O cultivo de uvas por lá ocorre há muito tempo, entretanto a região só foi oficialmente demarcada em 1979. Localiza-se um pouco a oeste do Dão, entre as cidades do Porto e Coimbra. Seu nome vem de “barro”, lama típica que caracteriza seu solo. Quando se fala da Bairrada, como bem destacou Nuno de Oliveira Garcia, “não existe enófilo exigente que não reconheça as qualidades e o forte carácter dos fantásticos vinhos da região”. O consumo dos vinhos da Bairrada têm crescido dia a dia e há algum tempo, tem existido mudança e inovação na Bairrada, e não começou nos dias de hoje. Produtores como Luís Pato e Carlos Campolargo, entre outros, tudo fizeram para que a região, ainda antes dos anos 90 do século passado, mantivesse uma aura de qualidade e modernidade e cativasse consumidores. Do primeiro, surgiram os mais relevantes ensaios com o estágio da Baga em barricas de carvalho francês, e do segundo provieram vinhos apelativos e modernos com base, em muitos casos, em castas menos comuns, algumas estrangeiras.

Seu relevo e clima, têm características planas e litorais com chuvas abundantes e temperaturas médias suaves. Como afirmo acima, a produção de vinhos existe na região desde longo tempo, precisamente, a partir do século X. Foi no século XIX, contudo, que a sua fama no cultivo de vinhas e elaboração da bebida tomou corpo e se estruturou, se mantendo firme e forte até hoje. A principal uva da Bairrada, considerada a casta local, é a Baga, que corresponde a pelo menos 50% das uvas plantadas na região; uma variedade tinta cujos taninos são muito ricos e presentes, garantindo aos seus vinhos uma longevidade elevada. Entre as brancas, a que mais se destaca é a Fernão Pires, que lá recebe o nome de Maria Gomes, resultando na produção de vinhos aromáticos e florais. Lá atrás, a região se tornou famosa pelos seus espumantes que são indissociáveis desta região, até porque as suas uvas de elevado grau de acidez, a par da sua baixa graduação, são perfeitas para a produção do vinho espumante, caracterizado por um aroma bastante fino. Nos vinhos tintos da Bairrada, de cores granada e rubi, predominam um sabor harmonioso e um aroma frutado que, com o tempo, vai evoluindo para outros aromas mais complexos.

Os brancos da Bairrada, longevos, estruturados e gastronômicos, têm lugar especial na mesa dos portugueses, que os apreciam de sobremaneira. O espumante da Bairrada, especialmente o tinto seco, é o grande acompanhante da carne de porco grelhada e há um prato que marca a Bairrada: o leitão. O Leitão à Bairrada é um dos pratos mais apreciados da culinária portuguesa. A origem do prato encontra-se no século XVII, quando a criação de suínos tornou-se excedentária em terras da Bairrada, o que levou a sua comercialização. O documento mais antigo que registra a iguaria é uma receita conventual de 1743, escrita em um caderno de refeitório do Mosteiro de Lorvão. Ele é assado por horas a fio em forno a lenha e é servido com batatas a portuguesa e algumas verduras. Em 2011, o leitão foi reconhecido como uma das sete maravilhas da gastronomia de Portugal, se tornando patrimônio histórico e gastronômico do país. Seu grande companheiro, ao meu ver, é o espumante Murganheira, tinto bruto, que pode ser encontrado aqui no Brasil. O Raposeira Super Reserva Rosé, também é um excelente companheiro para o Leitão à Bairrada. Dos tintos da Bairrada sugiro o Caves Aliança, da casta Baga e de longevidade incrível. O branco da Bairrada que, para mim, está dentre os maiores brancos do mundo é o Palácio de Buçaco, também a venda por aqui. Para aqueles que apreciam o vinho português recomendo especial atenção aos da Bairrada e àqueles que não conhecem, é uma boa oportunidade para transitar por vinhos de tipicidade a toda prova. Salut! 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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