Adriana Mori cria comitê feminino na Samsung e defende igualdade no mercado de trabalho

‘Women’s at Samsung’ reúne mulheres para discutir plano de carreira, medos e ansiedades; a advogada diz que falta motivação para que mais mulheres conquistem cargos de liderança

  • Por Fabi Saad
  • 28/12/2020 15h11 - Atualizado em 29/12/2020 07h59
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Divulgação Adriana Mori, de 45 anos, comanda a área de Legal & Compliance da Samsung no Brasil

À frente da área de Legal & Compliance da Samsung no Brasil, Adriana Mori, de 45 anos, é conhecida pelo seu modo transparente e proativo de defender uma estrutura igualitária no mercado de trabalho. Foi dela a iniciativa de criação do comitê feminino, o Women’s at Samsung, para mulheres discutirem planos de carreira, dificuldades, aflições e situações do dia a dia.

1. Como começou a sua carreira?

Sou a única advogada da família. Ainda muito jovem na escolha da profissão, prestei vestibular para Fonoaudiologia, Música e Direito e optei por Direito, isso porque sempre advoguei na vida, com um espírito de defender e combater pelo que julgo importante. Tive muita sorte em escolher a profissão que amo. Fiz vários estágios que me ajudaram a entender como funciona o ambiente e a prática jurídica, como no Tribunal Regional do Trabalho. Depois, passei por dois escritórios-boutiques de médio porte, que trabalhavam para empresas de várias atividades, como varejo, indústria, construção civil e química. E foi então, que apareceu uma oportunidade e seguir a carreira corporativa e comecei a trabalhar numa grande empresa do Varejo, onde aprendi e cresci muito profissionalmente. Na sequência ingressei na Samsung e tive a oportunidade de assumir o departamento jurídico e posteriormente do departamento de compliance. Com muita autonomia, respeito e parceria consegui construir um departamento proativo, zero burocrático e muito próximo das áreas de negócio. Foram anos de muita dedicação, coragem e estudo e claro, um resultado surpreendente do qual sinto muito orgulho de fazer parte.

2. Como é formatado o modelo de negócios da Samsung?

A área de Legal & Compliance é responsável por contratos, proteção de dados, propriedade intelectual, prestação de consultorias internas, direito ambiental e contencioso, societário e governança corporativa e cuida dos interesses da companhia. A Samsung tem inovação em seu DNA e um ritmo muito dinâmico que precisamos acompanhar. É necessário estudar muito e estar bem conectada ao negócio. Um dos nossos desafios é mostrar um jurídico aberto, com uma comunicação simples e compreensível e claro, disponível para atender todas as áreas, para que se sintam confortáveis em compartilharem os projetos e construímos juntos de acordo com as regras de compliance. Foi assim que consegui implementar um estilo mais leve ao setor, fazendo com que outras áreas, hoje, me procurem para bater papo, ouvir opiniões. Estamos muito mais próximos do business e das pessoas. Essa abordagem mais leve, buscando discussões e reflexões de todos na companhia, me fez criar um comitê feminino, em 2016: o Women’s at Samsung, que reúne mulheres para discutir plano de carreira, medos, ansiedades. Também temos a participação de homens, que são sempre bem-vindos, para que entendam nossos anseios e evitem comportamentos machistas. Tem muita coisa que a gente não percebe e precisa trabalhar. Fizemos várias atividades, trouxemos palestrantes. Ver e ouvir mulheres inspiradoras fortalece e motiva mais mulheres para cargos de liderança. E às vezes o que falta é isso: motivação.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?

O momento mais desafiador da minha carreira foi quando decidi sair completamente da zona de conforto e mudar de empresa e me inserir no mundo da tecnologia, assumindo novas funções e responsabilidades na Samsung, com temas completamente diferentes dos que tinha trabalhado anteriormente. Vir para a Samsung foi a concretização do rumo que decidi tomar após aprender muito no mundo corporativo e aprender acreditar mais no meu potencial. Foi complexo no início, no entanto foi uma decisão completamente acertada, já que, tive a coragem de me candidatar ao cargo de head do departamento jurídico na Samsung e aqui estou sempre aplicando formas inovadores e efetivas para mitigar riscos.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora?

Não acredito que sou perfeita no equilíbrio vida pessoal e profissional, pois sou intensa em tudo que faço. Em vários momentos, me sinto julgada por me dedicar ao trabalho e a ser mãe, como se uma invalidasse a outra. Tenho duas filhas, de 16 e 6 anos. Quando faço uma viagem mais longa de trabalho, as pessoas me perguntam: “E as meninas?”. Mas ninguém pergunta isso para o meu marido, por exemplo. Posso dizer que elas ficam muito bem e, com uma parceria perfeita com meu marido, pessoas ao meu redor que me ajudam e claro, com a tecnologia, conseguimos nos falar todos os dias. Elas sabem que estou viajando porque isso é importante para a minha carreira e, consequentemente, para a família. E acredito muito na qualidade do tempo que estou com elas, e não na quantidade, como disse quando estamos em família, aproveito muito e me dedico exclusivamente a minha família. Além disso, o pai delas, com quem sou casada há 21 anos, dá todo o suporte. Mas admito que foi um desafio o home office neste ano. Sinto que trabalhei e me cansei muito mais. Porém, posso dizer que saio orgulhosa dessa missão de liderar à distância.

5. Qual seu maior sonho?

Um dos meus grandes sonhos é ver o sucesso das minhas filhas, vivendo em um mundo sem tantas barreiras e preconceitos, com a consolidação do que defendemos: as mulheres não querem ser superiores aos homens nem serem colocadas em uma posição fragilizada, queremos igualdade. Pessoalmente, também gostaria curso de especialização na área do direito no exterior, um desejo que sempre deixei pra trás em virtude de outras prioridades e responsabilidades. Claro, amo viajar e sonho em um dia viajar e conhecer mais lugares no mundo.

6. Qual sua maior conquista?

Pessoalmente, foi construir uma família sólida e com valores morais bem definidos, como já posso ver nas minhas filhas. Profissionalmente, com certeza, foi construir um time de excelência, com profissionais capacitados, solícitos e abertos a trocas de experiências. Como já comentei, foi um desafio o início do trabalho em isolamento social, acompanhando inúmeros decretos municipais, estaduais e federais, entre outras demandas internas. No início, tive receio de como funcionaria essa liderança à distância, mas fiquei orgulhosa por ver como o time continuou a produzir muito bem em casa. No final, o que vale é o comprometimento de todos.

7. Livro, filme e mulher que admira?

Adoro e me emocionei muito lendo “A Cidade do Sol”, que fala da amizade de duas meninas com realidades diferentes, mas submetidas à mesma cultura no Afeganistão. É do Khaled Hosseini, mesmo autor de “Caçador de Pipas”, que aborda uma história masculina sobre a amizade, enquanto “A Cidade do Sol” mostra a vida sofrida de muitas mulheres do Afeganistão. E estou lendo um bem interessante atualmente: “Indomável”, de Glennon Doyle, que fala sobre a mulher parar de querer ser boa em tudo para ser livre. Vale a leitura e a reflexão. E gosto de tantos filmes… Posso citar “O Sorriso de Mona Lisa” e “12 homens e uma sentença”. Também amo “Os Miseráveis”, que já assisti tanto o musical quanto o filme com o Russel Crowe, e me emociono todas as vezes em que vejo. São estilos completamente distintos, mas com histórias marcantes.

Entre as mulheres que admiro, prefiro mencionar as mais resilientes, como Anne Frank, vítima do Holocausto, e Maria da Penha, que lutou durante muitos anos para que fosse feita justiça ao seu ex-marido, que a baleou enquanto ela dormia, e, em 2006, foi criada a lei que leva o nome dela, para proteger e defender mulheres que sofrem violência doméstica no Brasil. Mas, sem dúvida alguma, a mais admirada e que me inspira é minha mãe, por sua força e coragem. Ela vem de uma família humilde e sempre se posicionou, nunca fez distinção entre a minha educação e a do meu irmão. Passou por dois cânceres de mama e nunca reclamou nem deixou de ser independente. E sempre me incentivou a ser independente também. Quando tive minhas filhas, foi meu braço direito para me dedicar ao trabalho. Sem ela, não sei quanto me sentiria segura.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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