Carolina Dassie abandonou mercado financeiro para criar empresa de tecnologia focada em saúde mental

Fundadora da Hisnek conta como a assistente virtual IVI ajuda a prevenir doenças e promover o bem-estar em ambientes corporativos através da inteligência artificial

  • Por Fabi Saad
  • 07/09/2022 10h00
Divulgação Carolina Dassie, uma mulher loira na faixa dos 30/40 anos, sentada numa cadeira, usando blusa preta e calça jeans, com a mão direita nas pernas cruzadas e a mão esquerda no queixo Carolina Dassie fundou a Hisnek em 2013 após deixar para trás uma carreira estável no mercado financeiro

Nossa Mulher Positiva é a Carolina Dassie, mãe e CEO da Hisnek. Carolina nos conta como começou a empreender e fala sobre a importância da saúde mental no meio corporativo. “Por dez anos, trabalhei em banco de investimento, Bolsa de Valores, até que comecei a empreender em 2013. Começou com a Hisnek, mas em outro formato: lá atrás era alimentação saudável dentro da corporação”, contou Dassie. “Hoje implantamos a IVI dentro das empresas. Quem paga a mensalidade é a corporação, quem usa são os colaboradores”, complementou a empresária, citando a assistente virtual da sua health tech (empresa de tecnologia na área de saúde) que ajuda a prevenir doenças mentais em ambientes corporativos através da inteligência artificial.

1. Como começou a sua carreira? Sou economista, comecei a trabalhar no mercado financeiro. Por dez anos, trabalhei em banco de investimento, Bolsa de Valores e passei a empreender em 2013. Na minha licença maternidade, decidi que não queria mais voltar e fiquei pensando o que poderia fazer. Eu tinha algumas ideias na minha cabeça, uma delas era sobre trabalhar com coisas que fossem saudáveis. Aí começou a minha primeira jornada empreendedora, lá em 2013, quando minha filha tinha quatro meses. Começou com a Hisnek, mas em outro formato — lá atrás era um formato de alimentação saudável dentro da corporação. E, obviamente, já sabemos que temos todos os pivôs, temos essa história para chegar nesse modelo de saúde mental.

2. Como é formatado o modelo de negócios em que está atuando? O modelo de negócios que atuamos hoje é o B2B, então vendemos para a corporação a IVI (uma assistente de saúde emocional e bem-estar). Implantamos a IVI dentro das empresas, quem paga a mensalidade é a corporação, quem usa são os colaboradores. Aqui, o intuito é que a tecnologia acompanhe essa jornada de saúde emocional para conseguirmos entender como cada um se sente. Esse acompanhamento é feito baseado em protocolos clínicos, com validação nacional e internacional. Por meio disso, sabemos que jornada de bem-estar cada usuário precisa receber para que se mantenha bem, e que ele, assim, não chegue na cronicidade emocional.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? O momento mais difícil da minha carreira foi efetivamente essa virada de chave, de sair de um ambiente corporativo, CLT, cheio de segurança, e ir para um voo solo, pois eu fundei sozinha a Hisnek. Isso foi bem desafiador. Eu só fiz isso porque tinha muita certeza do que queria fazer. E falando de jornada empreendedora, meu momento mais difícil sempre são os momentos em que preciso ter a mesma força de voz que um homem, porque, principalmente nesse mundo de fundos de investimento, no momento de “founding” da empresa, às vezes existe o preconceito. Eu acho que é a primeira vez que sinto isso, no mercado financeiro acho que eu não tinha percebido. Mas, quando você vai negociar com fundos, você percebe que o fato de ser a única mulher do outro lado da mesa muitas vezes é um fator decisivo. É sempre um desafio.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal e a vida corporativa/empreendedora? Aprendi muito a priorizar. É impossível fazer todas as coisas sozinha, dos dois lados, tanto na maternidade, porque tenho dois filhos, quanto dentro da empresa. Tenho pessoas em quem confio plenamente, um formato de gestão que não é um formato de gestão centralizadora, sempre dou muita autonomia para as pessoas da minha confiança. Eu tento efetivamente interferir onde sou necessária, deixando que a equipe faça o melhor. Dentro de casa eu também sei que não consigo fazer tudo sozinha, tenho uma rede de apoio que vai me ajudando. Agora, independentemente disso, acho que o que aprendi muito com a maternidade foi o que é o emergencial agora. É impossível estar tudo perfeito, a todo momento, sempre vai ter uma parte em que o cobertor vai ficar curto, e está tudo bem. Nós precisamos entender qual é o emergencial, o mais importante e prioritário do momento em que estamos. Acho que foi um pouco disso, mas sofri para entender esse equilíbrio, foi uma construção. Mais do que fácil de ser implantado, é ir aprendendo ao longo do tempo.

5. Qual seu maior sonho? Eu tenho muita vontade de que consigamos efetivamente mexer o ponteiro da saúde mental. Quanto mais pessoas a gente conseguir emplacar dentro da IVI, levando a IVI potencialmente para o setor público, depois desdobrando para outros nichos da corporação, para que consigamos ter uma atenção primária à saúde emocional efetiva. Acho que aqui é uma grande jornada, que, se conseguirmos fazer um pouquinho disso, já vamos levar bastante valor para a vida das pessoas. Esse sonho para mim é muito grande.

6. Qual sua maior conquista? Eu nem diria qual é a minha maior conquista, mas acredito que tive grandes conquistas que me fizeram feliz. Acho meio utópico termos uma única grande conquista, porque senão a gente só vai trabalhando para ela, sem saber se vai funcionar ou não, e esquecemos de aproveitar toda essa jornada do dia a dia. Mas tive conquistas importantes, acho que foram pequenas conquistas mais pontuais que me fizeram feliz. Eu fui bolsista do Insper, e lembro até hoje que, quando fui aprovada para a bolsa, foi uma alegria tremenda. Se eu não tivesse essa bolsa, não ia continuar fazendo faculdade — era uma faculdade da qual eu gostava muito. Tive a conquista de sair do mercado financeiro, em que muitas pessoas ficam reféns do alto salário. Tive a conquista de tirar do papel um produto de saúde mental tecnológico e ter uma equipe que hoje vejo muito preparada para fazer esse produto. Na última convenção da Hisnek, eu me senti muito feliz por essa conquista, por ter formado o time. Então, acho que são pequenas conquistas da nossa jornada que vão fazer a nossa história.

7. Quais são suas metas do momento? A minha meta do momento é fazer as entregas necessárias que os nossos investidores demandam, mantendo assim uma equipe tranquila, com saúde mental. Sempre falo que temos que ter o “walk the talk”, e provoco todo mundo para isso. Óbvio que saúde mental não é não ter problema, é como lidamos com os problemas do dia a dia, como temos esse olhar. Eu sempre falo que temos muito trabalho, muita pressão, mas temos que cuidar da nossa saúde mental sempre, até porque nós vendemos isso. Então, a minha meta é que a gente consiga, lá em dezembro, entregar o que for necessário e todo mundo bem emocionalmente, com uma tranquilidade emocional e feliz.

8. Livro, filme e mulher que admira. Eu tenho um livro que amo demais, ele se chama “A Menina da Montanha”. Eu gosto muito de livros de autobiografia e admiro muito essa mulher, que hoje é professora em Cambridge, e eu tenho uma grande admiração por ela. A mulher que eu admiro demais é a Michelle Obama — também li o livro dela e amei — porque acho ela uma mulher forte, uma mulher que não ficou tomada pela vaidade em relação à posição que ela passou. Acho que estando junto de um homem forte [Barack Obama], ela conseguiu exercer o seu papel da melhor maneira, que era dando o apoio que o marido precisava, mas também tendo ali o seu papel, sua própria história sendo criada, e não só sendo coadjuvante da história do marido. O filme é “O Encantador de Cavalos”. Eu sou muito do mundo dos cavalos — se qualquer um for dar uma olhada no meu Instagram, vai ver que só tem isso praticamente. Mas, para mim, a sensibilidade dos cavalos é ímpar, e esse filme é demais, já assisti várias vezes.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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