De Santo André para o mundo: Dani Nega canta em rap sua vivência como mulher lésbica e preta

Atriz e MC começou em um grupo acústico de Santo André, enveredou para a carreira solo e lançou recentemente o single ‘Sai Boy’

  • Por Fabi Saad
  • 09/11/2022 10h00
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José de Holanda/Divulgação Cantora Dani Nega segura microfone Dani Nega começou a carreira aos 16 anos na Escola Livre de Teatro, em Santo André

Nossa Mulher Positiva é Dani Nega, atriz, MC, compositora e ativista do movimento negro e LGBTQI+. Dani nos conta como iniciou sua carreira e os desafios de produzir arte no Brasil. O seu mais novo trabalho é o single “Sai Boy”, parceria com a cantora, musicista, compositora e atriz Ellen Oléria. Disponível em todas as plataformas digitais e acompanhada de clipe, a novidade fala sobre a invisibilidade e a marginalização de mulheres lésbicas. É um convite para a celebração diária do empoderamento feminino na luta pela existência de corpos dissidentes, um grito de resistência pela liberdade de serem quem são nos lugares onde mais desejam estar.

1. Como começou a sua carreira? Comecei a minha carreira aos 16 anos de idade, numa escola de teatro em Santo André, a Escola Livre de Teatro. Nessa escola, eu fui convidada para fazer parte de um grupo de rap que se chamava Primeiro Ato, formada por atores, MCs e rappers que estudavam nessa escola. Era uma banda acústica e era uma época em que não havia banda de rap! Você tinha uma formação que era DJ e MC, e a gente fazia esse som, que era mais acústico. Então, era uma formação diferente, com cajon, baixo, guitarra, vozes e percussão. Depois disso, entrei num grupo de teatro hip hop famoso em São Paulo, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Desse grupo, eu participei e fui parceira de alguns coletivos negros de teatro da cidade de São Paulo, que são grupos importantes como Os Crespos e Coletivo Negro. Em seguida, eu fiz uma parceria com o Craca Beat e agora estou nesse trampo solo.

2. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Eu acho que o tempo todo tem sido difícil, pois o tipo de arte que a gente produz, mais provocativa, de protesto, mais política, é um tipo de arte que não interessa muito ao capital. Então, a gente tem muita dificuldade de estar e de acessar alguns lugares. Os editais são pouquíssimos, a grana é sempre muito curta, é sempre uma briga para a gente conseguir fazer a nossa arte. Não acho que teve um momento mais difícil. É difícil o tempo todo sobreviver de arte. Principalmente, o tipo de arte que a gente faz. É um desafio enorme.

3. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida profissional? Não consigo equilibrar minha vida pessoal com a vida profissional, acho que os dois caminhos se misturam muito. Até porque, no meu trabalho profissional como MC, como rapper, eu falo muito da minha experiência como mulher, como artista, como mulher lésbica e preta. Então, o meu trabalho profissional é, de alguma forma, contar e narrar as minhas histórias. As coisas acabam se misturando muito. Não tem um momento só da vida pessoal e um momento só da vida profissional. Está tudo junto ao mesmo tempo. O que venho tentando fazer é encontrar algumas brechas de descanso, momentos em que eu não preciso produzir, que eu não preciso estar preocupada com a produção. Mas isso é muito difícil, pois, como disse, para fazer o tipo de arte que a gente faz, parece que a gente tem que trabalhar o triplo. É muito trabalho o tempo todo.

4. Qual seu maior sonho? O meu maior sonho é conseguir, em algum momento da minha vida, sobreviver só do meu trabalho e que eu consiga receber o equivalente ao que eu trabalho. Que o meu trabalho seja valorizado, que eu não precise me exaurir para conseguir fazer o que eu mais gosto de fazer, que é ser artista. Às vezes, a gente produz muito, é muito cansativo, é muito exaustivo e recebe muito pouco por isso. Então, o meu sonho é chegar num lugar em que a gente consiga produzir o necessário e receber o que vale mesmo a nossa arte.

5. Qual sua maior conquista? A minha maior conquista tem sido ser quem eu sou, nos lugares que eu mais gosto de estar, com as pessoas que eu mais amo. Essa tem sido a minha maior conquista. Poder chegar nos lugares e ser quem eu sou e me afirmar como uma mulher preta e lésbica. Acho que essa sensação de liberdade, numa sociedade tão patriarcal, machista, racista e homofóbica, é um lugar de respiro.

6. Livro, filme e mulher que admira. Não sei se tem um livro, um filme ou uma mulher que eu admiro. Eu acho que eu posso falar dessa nova geração que tem chegado e produzido coisas muito lindas. Eu tenho um carinho especial por essa cena dos slams, da poesia falada, do Spoken Word. São muitas mulheres pretas e jovens que têm publicado suas poesias, seus textos, têm produzido a sua arte e feito coisas lindíssimas. Desde as Clarianas, que é um trio que fica no Taboão da Serra e do qual eu gosto muito, formado pela Naruna Costa, Naloana Lima e Martinha Soares. Tem as minhas parceiras de trabalho, que eu admiro muito, como a Aysha Nascimento, Lucélia Sérgio, Roberta Estrela D’alva. Tem as manas pretas da poesia, como Luz Ribeiro, Mel Duarte e Luiza Romão. São muitas… Na música, Ellen Oléria e Bia Ferreira. Um monte de gente.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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