‘É preciso sabedoria para conseguir modificar o ambiente’, diz gerente de RH da Huawei

Fernanda Coimbra é especialista em psicologia do trabalho, zela pela inclusão e a diversidade na empresa em que trabalha e rechaça o discurso meritocrático: ‘Mulheres têm menos oportunidades’

  • Por Fabi Saad
  • 03/11/2021 10h00
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Divulgação Jovem executiva da Huawei com uma elegante regata verde sem mangas e o cabelo castanho com mechas loiras encostando na roupa Fernanda Coimbra, gerente de RH, trabalha na Huawei há quase oito anos

Fernanda Coimbra, gerente de RH da Huawei do Brasil, é a nossa Mulher Positiva desta semana. Graduada em psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco, com especialização em psicologia do trabalho pela Universidade do Porto e MBA em gestão de negócios pela Unicamp, ela tinha na adolescência o sonho de ser médica, mas mudou de ideia após levar sua mãe a um hospital de emergência. Na Huawei, onde está há quase oito anos, Fernanda tem como missão “proporcionar um ambiente acolhedor e de desenvolvimento”, mas aprendeu como o passar dos anos que não dá para colocar o carro na frente dos bois. “O tempo e a maturidade me ensinaram que temos que ter sabedoria para modificar os ambientes. Um plano bem formatado é essencial. Quando jovem, eu era muito imediatista”, disse. Incentivadora da diversidade no ambiente corporativo, a executiva faz um alerta: “No Brasil, me incomoda ver mulheres bem sucedidas falando ‘eu quero a oportunidade pelo meu mérito’ ou ‘quero ser reconhecida pelo meu mérito’. Claro que todas queremos ser reconhecidas pelo nosso mérito e nossas conquistas. Todavia, acredito que essas colocações são extremamente injustas quando falamos de um país que comprovadamente tem menos oportunidades para mulheres.

1. Como começou a sua carreira? Até o segundo ano do ensino médio, eu tinha certeza que iria ser médica. Mas como a vida é uma caixa de surpresas, minha mãe passou mal e eu precisei levá-la ao hospital de emergência. Foi aí que eu percebi que a medicina não era uma opção e migrei para a psicologia. Desde sempre, optei pela psicologia do trabalho e a atuação no meio corporativo. Como no Brasil não tinha especialização muito desenvolvida nessa área naquele tempo, fiz uma parte da minha graduação focada nesta área na Universidade do Porto, em Portugal. Foi aí que eu percebi que a minha vocação seria atuar como agente transformadora nas relações de trabalho. Fiz parte de alguns programas nacionais de qualidade como examinadora e tive a oportunidade, desde cedo, de analisar o meio corporativo, atuando de forma maximizadora de resultados e da satisfação dos profissionais. Desde estagiária, atuei em ambientes essencialmente masculinos, sempre trabalhando pontos como diversidade e inclusão.

2. Como é formatado o modelo de negócios da Huawei? Sou psicóloga, formada pela Universidade Federal de Pernambuco, com intercâmbio na Universidade do Porto e especialização em gestão de negócios pela Universidade Católica de Pernambuco. Atualmente sou líder de RH na Huawei do Brasil, responsável pelas áreas de recrutamento e clima organizacional. Trabalhamos para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento e em parceria com os gestores, focando na diversidade do time. Somos responsáveis por implementar as melhores práticas corporativas para proporcionar um ambiente acolhedor e de desenvolvimento da equipe. Somos certificados pelos critérios internacionais do Top Employers e, anualmente, renovamos nossa participação, com o objetivo de assegurar que estamos no caminho correto. Trabalhamos para a inclusão e desenvolvimento de profissionais com deficiência, em sua maioria mulheres.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Eu sempre tive vontade de mudar o mundo dentro de mim. Acredito que o momento mais difícil da minha carreira foi quando essa ansiedade de transformação era maior que a sabedoria de como fazer. O tempo e a maturidade me ensinaram que temos que ter sabedoria para modificar os ambientes. Um plano bem formatado, com todas as etapas, é essencial. Quando jovem, eu era muito imediatista. Quando os resultados não aconteciam na velocidade que eu esperava, ficava bastante frustrada.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Acredito que, para conseguir um bom equilíbrio, é necessário criar rotinas e colocar as suas atividades pessoais dentro do seu planejamento do tempo. Fazer exercício físico e cuidar de mim, hoje, fazem parte da minha rotina. Procuro me dedicar ao máximo durante o horário de trabalho para, quando sair, conseguir relaxar a mente e focar em mim. Estou praticando essas técnicas há pouco tempo e já consigo ver resultados.

5. Qual seu maior sonho? Meu maior sonho é ter pleno equilíbrio da minha vida pessoal/profissional. Progredir na minha carreira, conciliando com o desenvolvimento da minha família.

6. Qual sua maior conquista? Profissionalmente, posso dizer que celebro cada pequena conquista diária. Apesar de trabalharmos muito o tópico de inclusão de mulheres na Huawei, celebro cada contratação, cada promoção. Grande parte da minha carreira foi em ambientes essencialmente masculinos. Isso me ensinou a me posicionar, como lidar, mas me ensinou também o quanto é importante trabalharmos para que esses ambientes tenham maiores participações femininas. Acredito em um ambiente inclusivo e que proporcione igualdade de desenvolvimento para todos, mas que os trate de acordo com suas diferenças. Na Huawei, temos um programa chamado Tech for Women, que fomenta o desenvolvimento de mulheres na área de tecnologia. Ele é desenvolvido globalmente, mas ainda temos um caminho a ser percorrido. Estou na Huawei há quase oito anos e percebo que os gestores são abertos e receptivos a esta transformação. É muito gratificante quando vemos estes resultados. No Brasil, ainda me incomoda ver mulheres bem sucedidas falando “eu quero a oportunidade pelo meu mérito” ou “quero ser reconhecida pelo meu mérito”. Claro que todas queremos ser reconhecidas pelo nosso mérito e nossas conquistas. Todavia, acredito que essas colocações são extremamente injustas quando falamos de um país que comprovadamente tem menos oportunidades para mulheres. Além disso, já foi comprovado que, mesmo exercendo as mesmas funções, a remuneração é mais alta para homens. Sou a favor de programas de inclusão em meios corporativos, com foco na diversidade do seu time.

7. Livro e mulher que admira. Certamente, Malala Yousafzai merece seu destaque por sua luta pelas mulheres. Sobre o livro, atualmente é “Persépolis”, de Marjane Satrapi.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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