Fabiana Gutierrez espalha diversidade, respeito e empatia por meio de empresa ‘com propósito social’

Após trilhar uma carreira de sucesso na área da comunicação, esta empreendedora sonhadora teve no exterior o estalo de fundar Carlotas

  • Por Fabi Saad
  • 04/08/2021 10h00
Anne Kaiser/Divulgação Fabiana Guitierrez, mulher branca, na faixa dos 30 anos, posa para foto sorrindo, sentada e com as mãos nas pernas Fabiana Guitierrez é cofundadora da empresa Carlotas

Nossa Mulher Positiva desta semana é Fabiana Gutierrez, comunicadora, fã de redes sociais, mãe, sonhadora, escritora e empreendedora social — não necessariamente nessa ordem. Cofundadora de Carlotas, um negócio “com propósito social”, segundo ela. A empresa foi criada para olhar e cuidar das relações por meio da arte e da ludicidade sob três perspectivas: diversidade, respeito e empatia. “Buscamos trabalhar em parceria com os clientes para que os projetos causem realmente impacto e transformação. Acreditamos no poder transformador das relações”, contou Fabiana. O sonho dela é expandir o alcance do Programa ExploreCarlotas — que atende escolas públicas e instituições de assistência — para, assim, conseguir ajudar ainda mais crianças, jovens e educadores do país todo

1. Como começou a sua carreira? Gosto muito de comunicação, de comportamento social e das relações em si. Acho que isso está refletido na minha jornada. Sou formada em comunicação social pela ESPM, com MBA pelo IBMEC, especialização em relações públicas pela University of Delaware e, atualmente, estou fazendo pós-graduação em psicanálise com ênfase em mitologia, contos e artes. Gosto do que faço, da área que escolhi para atuar e, desde que entrei na faculdade, fui buscar emprego e colocar em prática o que estava vendo. Dei aula de inglês, fiz estágio no departamento de comunicação da Prefeitura de São Paulo e trabalhei numa agência de publicidade. No terceiro ano da faculdade, estagiei na Som Livre para o projeto GloboDisk (venda direta de CD). Hoje parece tão distante, ainda mais porque é um produto que está em extinção. Por ser uma estrutura pequena — e bastante informal —, tinha acesso a praticamente tudo. Aprendi muito. Foi quando apareceu a oportunidade de estagiar na DuPont, uma multinacional da qual eu já tinha declinado para trabalhar na Som Livre. Achei que teria mais oportunidades pela estrutura e por ser o último ano da faculdade.

Lá fiquei por 11 anos, entre DuPont, DuPont Textile Science e Invista. De estagiária a gerente de comunicação na América do Sul. Sai da Invista porque fui morar fora por conta do trabalho do meu marido. Enquanto estava no exterior, abri uma consultoria de comunicação digital e me juntei ao International Women ‘s Club como editora do jornal e membro do Conselho. Neste período, também surgiu a ideia de Carlotas com a Carla Douglass, minha sócia. Logo que voltei para o Brasil, sabia que queria me dedicar a algo que tivesse propósito, e tive oportunidade de participar de duas entrevistas para empresas do terceiro setor. Como as crianças ainda eram pequenas, eu tinha a consultoria de comunicação (Hashtag Comunicação) e estava desenhando Carlotas, abrir mão de tudo para algo que eu achava muito rígido era difícil. A Hashtag cresceu e consegui ganhar um tempo enquanto formatávamos melhor Carlotas. Em 2014, conseguimos os primeiros trabalhos e alguns clientes contínuos para a consultoria de comunicação. Decidi, então, focar nessas duas áreas, até que meu projeto tivesse um modelo mais redondo de negócio. A partir de 2016, fechei a consultoria e segui somente com Carlotas, que começou a crescer e expandir.

2. Como é formatado o modelo de negócios de Carlotas? É uma empresa com propósito social, que existe para olhar e cuidar das relações, baseada nos nossos três valores centrais: diversidade, respeito e empatia, usando uma abordagem baseada em arte e ludicidade. De uma forma simplificada, trabalhamos na área de educação, treinamento e desenvolvimento e responsabilidade social num modelo em que vendemos produtos e serviços e revertemos 10% do faturamento para um programa, o ExploreCarlotas, que atende escolas públicas e instituições de assistência. Somos membros do Sistema B desde 2019 e signatários do pacto global da ONU. Buscamos trabalhar em parceria com os clientes para que os projetos causem realmente impacto e transformação. Acreditamos no poder transformador das relações. Hoje, temos uma non-profit nos Estados Unidos e outra na Alemanha, com outra sócia, a Carla Scheidegger.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Acredito que tiveram alguns, mas estruturar o modelo de negócio de Carlotas, sem dúvida, foi um deles. Não conhecia nenhuma empresa que fazia o que queríamos fazer, muito menos da forma como estávamos fazendo. Levamos algum tempo para poder definir como seria como negócio. E isso aconteceu com o tempo, fomos testando e ajustando até chegar no modelo que temos desde 2016, que é a prestação de serviço para empresas e escolas privadas e investimento de 10% do faturamento em programas em escolas públicas e instituições de assistência.

Outro desafio — que deve ser comum a muitos empreendedores  é o fôlego financeiro. Éramos somente nós duas e tínhamos medo de um financiamento. Tudo que fizemos foi com recurso próprio, só investimos em algo quando conseguimos financiar por nós mesmas. A partir do modelo de negócio, o desafio era conquistar clientes, alguém que acreditasse no que estávamos propondo e da forma como fazíamos. Mas eu e a Carla sempre tivemos uma boa rede, que nos ajudou no começo. O primeiro trabalho veio a partir de uma pessoa que conhecia a Carla e viu os trabalhos (voluntários) que estávamos fazendo com crianças. Então, nos chamou para um projeto de voluntariado do Atados para o Carrefour. Neste projeto, trabalhamos as crianças e os voluntários, e já conseguimos ampliar nosso universo para as empresas.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Esse, sem dúvida, é um dos maiores desafios que tenho. Poder dedicar um tempo para minha família, saúde, lazer e, ainda assim, tocar a empresa pede não só disciplina, mas um exercício constante. Quero que Carlotas seja um lugar onde as pessoas possam, de verdade, viver o que pregamos. Sabemos que vamos ter momentos mais intensos, com mais demanda, mas nosso compromisso é que possamos respeitar os espaços e estimular que cada um possa ter equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Somos um grupo que se apoia e se ajuda para juntos realizar o sonho de transformar as relações.

5. Qual seu maior sonho? Expandir o alcance do Programa ExploreCarlotas, podendo atender ainda mais crianças, jovens e educadores do país todo. Com isso, fazer uma grande transformação social no Brasil.

6. Qual sua maior conquista? Profissional, sem dúvida, é ver Carlotas como está hoje, sabendo que a cada dia estamos crescendo e expandindo, podendo levar o diálogo sobre diversidade, respeito e empatia para muito mais pessoas. Pessoalmente, meus filhos. Quando vejo as atitudes, falas e postura deles, sei que estou no caminho certo de deixar duas pessoas incríveis no mundo, que ajudarão na transformação e melhora das relações.

7. Livro, filme e mulher que admira. Difícil eleger apenas um de cada mas… Livro: tenho lido mais livros de estudo que de ficção e, mais uma vez, poderia listar alguns como meus preferidos: “A Tenda Vermelha”; “Alma Imoral”; “O Visconde Partido ao Meio”; “Chatô, O Rei do Brasil”; “Notícias do Planalto”, “Todo Dia”; e “Não Verás País Nenhum”. Um preferido: “O filho de Mil Homens”, Valter Hugo Mãe. Filme: se tenho que eleger um único filme, é o documentário “Ilha das Flores”. Para mim, ele nos lembra que estamos todos conectados, que nossas ações têm consequências e que somos parte do problema e da solução. Mas poderia ser “O Nome da Rosa”, “Tomboy”, “Que Horas Ela Volta?” ou “A Garota Dinamarquesa”, a trilogia do “Poderoso Chefão” e, claro, os da Marvel! Todos de super-heróis. Mulher: Admiro muitas mulheres e acho que são muito importantes como referências para nossa sociedade nomes como Michelle Obama, Kamala Harris e Angela Merkel, mas, de verdade, as mulheres anônimas que cuidam de suas casas, criam seus filhos, trabalham e lutam a cada dia para se manterem são as que tenho profunda admiração. Pessoas que não precisam ser modelos de comportamento porque são figuras públicas, mas porque amam suas famílias e isso as motiva a serem melhores a cada dia. A recepcionista da escola, a merendeira, a faxineira, a balconista da loja, a empresária, a gerente, a assistente. Cada mulher tem sua força testada pelos desafios diários da vida.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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