Fernanda Checchinato usou sua experiência em pesquisa para criar startup inovadora

Cientista batalhou para conseguiu um emprego em sua área, não desistiu dos seus sonhos e fundou, em 2010, uma empresa química focada em ‘produtos disruptivos que funcionassem no mercado’

  • Por Fabi Saad
  • 25/03/2021 08h00
Rodrigo Testi/Divulgação Fernanda Checchinato, CEO da Aya Tech, segura um produto de sua empresa em cada uma das mãos A cientista Fernanda Checchinato criou a startup Aya Tech em 2010

A Mulher Positiva desta semana é Fernanda Checchinato, mãe, cientista e CEO da startup Aya Tech. Formada em engenharia química, com mestrado e dourado em engenharia de materiais, Fernanda teve até de tirar seus títulos do currículo para não ouvir de entrevistadores que era qualificada demais para o cargo. Ela penou para conseguiu um emprego em sua área, mas não desistiu dos seus sonhos e fundou, em 2010, uma startup focada em “produtos disruptivos que funcionassem no mercado”. Por exemplo, um higienizante que protege tecidos e superfícies de infecções cruzadas, bactérias, fungos e mofo. Nesta entrevista, a pesquisadora contou sobre sua motivação e inspiração para criar artigos inovadores, que protegem a sociedade e, ao mesmo tempo, o meio ambiente. “Ser procurada por grandes empresas, multinacionais e estrangeiras, que querem adquirir nossas formulações me faz ter a certeza de que estamos no caminho certo”, disse. “Meu sonho é dedicar meu tempo exclusivamente à pesquisa e ao desenvolvimento e, assim, criar mais produtos para prevenção de doenças, para a saúde e bem-estar. E que todos esses produtos se tornem acessíveis.”

1. Como começou a sua carreira? Eu me formei em engenharia química, em 1999, e iniciei meu mestrado na área de engenharia de materiais, começando, assim, a carreira na área de pesquisa e área cientifica. Concorri a uma única vaga para o Brasil de uma bolsa para estudar seis meses no Japão e fui contemplada. Depois disso, retornei, defendi o mestrado e já iniciei o doutorado em engenharia de materiais. Concorri para uma outra bolsa e consegui fazer uma parte do doutorado no CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Cientifica) de Lyon, na França. Retornei ao Brasil e defendi o doutorado. Eu queria continuar como pesquisadora e gostaria muito que a minha pesquisa fosse aplicada, que chegasse até as pessoas, não somente realizar uma pesquisa cientifica acadêmica que fica apenas nas bibliotecas universitárias. Sendo assim, iniciei um período de busca de trabalho em que tive muita dificuldade para conseguir um emprego. Ouvi centenas de vezes ser muito qualificada para a vaga, por ter mestrado e doutorado. Depois de retirar do meu currículo as minhas qualificações, acabei conseguindo algumas entrevistas e, posteriormente, um emprego em uma metalúrgica no Estado de São Paulo, onde, então, montei um laboratório de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, focado em eletrodomésticos de uso pessoal, itens para pesca, dentre outros.

2. Como é formatado o modelo de negócios da Aya Tech? A Aya Tech faz a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, faz a compra de matérias primas, controle de qualidade, faz o B2B (business-to-business, ou seja, relação de negócios entre duas empresas). Nossos parceiros fazem a produção, a distribuição e o B2C (business-to-consumer, que é a relação direta entre a empresa e o cliente).

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Acredito que tive vários momentos de dificuldade. A maior delas foi entrar no mercado de trabalho sendo pesquisadora, porque o Brasil não tem hábito de realizar pesquisa e desenvolvimento local. A maioria das empresas, principalmente multinacionais, trazem a pesquisa de fora e, na época, não existiam as startups. Conseguir um emprego dentro da minha área desejada foi difícil. Depois, estruturar uma startup em 2010, quando não existia o conceito de startup, foi bem desafiador. Não tínhamos investimento, o capital era baixo, ninguém acreditava que poderia se estruturar uma empresa home office e terceirizar todas as etapas, enxugando custos, sendo uma empresa química. E muito menos que o Brasil pudesse ter produtos disruptivos reais, que funcionassem no mercado. Outra grande dificuldade foi manter-se vivo, operante e saudável durante a pandemia.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Tem que ter muita disciplina e determinação. Eu reservo as quatro primeiras horas da manhã para minha vida pessoal, das 6 às 9h30, 10 horas, quando eu cuido dos afazeres domésticos do dia a dia e da minha família. Em tempos normais, isso inclui arrumar mochila e o lanche da minha filha e levá-la à escola. Depois, começaria o trabalho e dedicação na Aya Tech em tempo integral. Agora, em tempos de pandemia, tenho que me dividir em dar atenção à minha filha e efetuar as aulas online. À noite, normalmente, faço tarefa com minha filha, passamos algumas horas juntas. Algumas vezes, é necessário trabalhar mais algumas horas para cumprir a agenda de trabalho. No meio disso tudo, ainda tenho que ter tempo de ir ao supermercado e realizar tarefas domesticas simples e necessárias. Planejo meu tempo meticulosamente para que todo o trabalho semanal como pesquisadora e empreendedora se concentre de segunda a sexta. Assim, nos finais de semana, eu posso dedicar meu tempo exclusivamente à minha família e ao lazer. Claro que, às vezes, é necessário terminar algum trabalho, mas normalmente consigo deixar o sábado e o domingo livres.

5. Qual seu maior sonho? Que eu possa dedicar meu tempo exclusivamente à pesquisa e ao desenvolvimento e, assim, criar mais produtos para prevenção de doenças, para a saúde e bem-estar. E, também, que todos os produtos que eu criei ou venha a criar se tornem acessíveis a todas as pessoas, a todas as camadas da sociedade. Com isso, poderei realizar mais pesquisas e criar mais produtos que ajudem na vida da pessoas, me tornando útil na sociedade, usando meu dom de criar e habilidade profissional para o bem-estar de todos.

6. Qual sua maior conquista? A minha maior conquista profissional é a própria empresa que criei, a Aya Tech, e todas as linhas de produtos que temos hoje. A cada lançamento eu vejo uma superação profissional. E ser procurada por grandes empresas, multinacionais e estrangeiras, que querem adquirir nossas formulações me faz ter a certeza de que estamos no caminho certo. Minha maior conquista pessoal foi ter minha filha, meu grande amor, meu pequeno milagre, pois eu fui diagnosticada possivelmente estéril aos 20 anos e, aos 40, já em menopausa precoce, me descobri grávida. Após uma gravidez de alto risco, com muita complicações, tive uma filha que me enche de alegria e forças para viver cada dia mais.

7. Livro, filme e mulher que admira. Leio todo dia histórias infantis para minha filha e adoro livros de misticismo como alquimia, astrologia, etc. Acho que o último livro que li, que achei lindíssimo, foi “O Menino Que Descobriu o Vento”. Eu adoro filmes e séries nos quais eu possa voar na imaginação. A mulher que eu admiro muito é minha mãe, Marcia, uma guerreira que me ensinou e me ensina até hoje muita coisa. Ela é meu exemplo de mulher: coerente, amorosa, inteligente, que veio de uma família muito humilde, trabalhou desde os 9 anos de idade. Ela foi mãe, profissional, dona de casa e dava conta do recado.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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